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'Céus abertos' vai aumentar voos entre Brasil e Argentina? Não por enquanto

Aéreas brasileiras comemoram medida, mas não preveem novas rotas

Aviões da Gol - Marcelo Camargo/Agência Brasil

As três grandes empresas aéreas brasileiras — Latam, Azul e Gol — avaliam como positiva a assinatura do acordo que estabelece céus abertos entre Brasil e Argentina. A política põe fim ao limite de voos operados entre os dois países.

As companhias, porém, ainda não têm previsão de ampliar a oferta regular para o destino vizinho. Enquanto a Latam já planejou a suspensão dos voos entre Rio de Janeiro e Buenos Aires na temporada que tem início em abril.

O memorando de entendimento entre Brasil e Argentina foi assinado na quarta-feira pelas agências nacionais de aviação civil dos dois países (sob a sigla Anac em ambos os casos). Até aqui, o limite de voos semanais era de 170 por semana para cada lado. A operação do Brasil alcança 163, segundo a Anac brasileira.

A medida, explica a agência, trará maior flexibilidade às empresas aéreas para planejarem suas operações, podendo também ampliar a oferta de serviços e a concorrência nas rotas entre os dois países.

A Argentina é o principal emissor de turistas estrangeiros para o Brasil. Em 2023, segundo dados da Embratur, dos 5,9 milhões de visitantes internacionais no país, 1,88 milhão eram argentinos e 39,33% vieram por via aérea.

O Brasil também se destacou como principal grupo de visitantes estrangeiros na Argentina no início deste ano, segundo dados do Ministério do Turismo do país.

Janela para novos concorrentes
Alessandro Oliveira, professor e pesquisador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), reforça a perspectiva de aumento de concorrência e possibilidade de redução de tarifas.

— (Acordo de) céus abertos sempre é uma oportunidade para maior concorrência, competitividade. Permite novos posicionamentos de mercado, empresas fazerem ajustes nas suas ofertas — diz ele. — E tem perspectivas para novas entrantes no mercado, de barateiras (low-cost).

Diante de um cenário de empresas em crise no Brasil, incluindo a Gol em recuperação judicial nos EUA, e com restrição de frota — em razão do gargalo em entrega de aviões no pós-pandemia —, o especialista pontua que essa mudança pode ser mais lenta:

— O Brasil é um mercado relevante. E empresários podem querer entrar aqui justamente se aproveitando do vácuo deixado por outras empresas. Claro que, num momento de crise, não se espera resultados imediatos, mas abrem-se perspectivas em melhores conectividade e preços.

Mais conexões com a América do Sul
Segundo a Braztoa, que reúne operadoras de turismo no país, suas associadas aumentaram em 55% o faturamento com a venda de viagens internacionais em 2023, na comparação com um ano antes, para R$ 6,3 bilhões, o mais alto patamar dos últimos 12 anos. Do movimento total, 15% foram de viagens para países da América do Sul.

Para Fabiano Camargo, presidente da entidade, a política de céus abertos é uma iniciativa "importantíssima":

— Pode ampliar o fluxo de turistas ao trazer mais liberdade para as companhias aéreas planejarem novas rotas para a Argentina. Não só para Buenos Aires, mas para outras regiões como Ushuaia, Córdoba, Mendoza, Bariloche e Salta.

Latam suspende voos Rio-Buenos Aires
A Latam Airlines terá 34 voos semanais entre Brasil e Argentina entre abril e outubro, um a mais do que opera hoje. A mudança, porém, prevista para a temporada de voos que se estende de abril a outubro, resultará na suspensão da linha que liga o Rio de Janeiro a Buenos Aires, atualmente com três voos semanais.

A companhia manterá as 30 saídas por semana de São Paulo para a capital argentina. E passará a oferecer quatro partidas de Guarulhos para Mendoza.

A Latam afirma que “seguirá avaliando oportunidades de oferta de voos de acordo com a demanda de passageiros”.

A Azul Linhas Aéreas informa ter a Argentina como mercado estratégico e vê o acordo como positivo. E que, "no futuro, poderá aumentar as opções de voos, conforme dinâmica do mercado”. Para a temporada de inverno deste ano, terá seis frequências semanais de Campinas para Bariloche.

A Gol Linhas Aéreas diz que “é favorável a toda medida que estimule a demanda por viagens e ajude a democratizar o transporte aéreo”.