Papa Francisco fala de amores da juventude e relembra ditadura argentina em autobiografia
Pontífice também abordou seus problemas de saúde, mas descartou a renúncia, classificando a medida como uma 'hipótese distante'
O Papa Francisco afirmou que, apesar de seu estado de saúde, não tem motivos para renunciar. A declaração foi feita em uma autobiografia que será lançada na próxima terça-feira (12) pela editora HarperCollins. No livro, chamado “Vida: Minha história na História”, o Pontífice também relembra seus primeiros amores e a ditadura na Argentina, e faz um relato político e pessoal de seus 87 anos de vida.
Afligido por vários problemas de saúde, o papa afirma que não tem “motivos sérios” para renunciar, e que decisão é uma “hipótese distante”, justificada somente em caso de um “grave impedimento físico”. Apesar de ter passado por uma cirurgia abdominal em 2023 e ter sofrido várias bronquites nos últimos meses, o jesuíta mantém um ritmo frenético em Roma e planeja realizar uma viagem à Ásia este ano.
Embora muitos detalhes da vida de Jorge Mario Bergoglio já fossem conhecidos, as 350 páginas de seu livro, escritas sob a forma de uma conversa com um jornalista italiano, trazem novos detalhes sobre sua vida pessoal. O primeiro papa sul-americano fala sobre sua “namorada” de quando era adolescente e conta de um “pequeno deslize” que teve quando, ainda seminarista, ficou “deslumbrado” por uma garota, que o deixou “encantado por ser bonita e inteligente”.
“Durante uma semana, tive sua imagem sempre em minha mente. Foi difícil rezar! Depois, felizmente, isso passou e me dediquei de corpo e alma à minha vocação”, relatou no livro, que teve trechos divulgados nesta quinta-feira pelo jornal italiano Corriere della Sera.
Ditadura e Maradona
O livro também aborda os anos de ditadura militar argentina (1976-1983) e as acusações feitas contra ele sobre seu papel naquela época. Antes de ser papa, Bergoglio ocupava posições de liderança na Argentina, de modo que foi acusado de não fazer o suficiente para proteger os membros da ordem jesuíta e outros opositores políticos durante a ditadura. Dois missionários jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Julics, foram sequestrados, presos e torturados pelo governo militar em 1976.
“As acusações contra mim continuaram até recentemente”, lamentou o ex-arcebispo de Buenos Aires, que foi por muitos anos apontado como cúmplice da ditadura e negligente. “Mas, no final, não encontraram provas porque eu estava limpo”, assegurou.
Além disso, um capítulo inteiro do livro é dedicado ao futebol, uma das paixões do papa, e ao Maradona na Copa do Mundo de 1986.
Três meses depois de ter causado polêmica ao autorizar a bênção de casais homossexuais, Francisco minimizou as acusações de que está “destruindo o papado” reformando a Igreja. Ele afirmou que sempre há “aqueles que tentam fazer a reforma e aqueles que gostariam de permanecer imóveis na época do Papa-Rei”. Em tom de brincadeira, ele também disse que, se tivesse que “seguir tudo o que as pessoas dizem”, teria que “consultar um psicólogo uma vez por semana”.