Na Cisjordânia, Mauro Vieira diz que Brasil irá liderar esforços para admissão da Palestina na ONU
Ministro brasileiro conversou com autoridades palestinas e criticou Israel e a comunidade internacional pela 'insuficiência de ajuda humanitária' em Gaza
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, chegou, neste domingo (17), a Ramallah, na Cisjordânia, onde participou da cerimônia de outorga, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do título de Membro Honorário do Conselho de Curadores da Fundação Yasser Arafat. Vieira recebeu a homenagem das mãos do primeiro-ministro Mohammad Shtayyeh, que “louvou a coragem” de Lula “na defesa da Palestina”, publicou o Itamaraty.
Ainda segundo o órgão, Vieira usou seu discurso para criticar Israel e a comunidade internacional “pela clara insuficiência da ajuda humanitária desde o início do atual conflito” na Faixa de Gaza. A guerra começou em 7 de outubro, quando o grupo terrorista Hamas invadiu o território israelense, matou quase 1,2 mil pessoas e sequestrou cerca de 250. Como resposta, Israel iniciou uma ofensiva no enclave palestino que deixou, em cinco meses, mais de 31 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde local.
— A credibilidade do atual sistema internacional de governança está debaixo dos escombros de Gaza — disse Vieira, que definiu como “ilegal e imoral” negar comida, água e medicamentos a civis, além de atacar comboios de ajuda humanitária e destruir hospitais.
O ministro fez, segundo o Itamaraty, um balanço das iniciativas brasileiras em favor do fim das hostilidades em Gaza desde outubro, e comentou o histórico apoio do Brasil ao reconhecimento da Palestina como Estado — além de sua admissão como membro pleno da ONU.
Encontro com autoridades palestinas
Vieira também foi recebido pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, com quem conversou por cerca de 20 minutos. Os dois falaram sobre o atual momento do conflito e da crise humanitária no enclave. Conforme divulgado pelo Itamaraty, Abbas agradeceu pelo “histórico empenho e amizade do presidente Lula com a Palestina”, e pela “coragem ao assumir o papel de referência global em defesa dos palestinos na atual crise”.
O brasileiro ainda falou com o primeiro-ministro Mohammad Shtayyeh, com quem tratou da “crescente tensão na Cisjordânia” e em outros países da região. Eles “discutiram estratégias conjuntas para alcançar o objetivo de tornar a Palestina um membro pleno das Nações Unidas”. Mais cedo, Vieira conversou com o chanceler palestino, Riyad al-Maliki. Ambos mencionaram a “extrema gravidade da situação humanitária” na Faixa de Gaza, e al-Maliki destacou o “papel corajoso” de Lula na “defesa da Palestina e dos palestinos”.
De acordo com o Itamaraty, al-Malki, afirmou que Lula “mostrou liderança, coragem, compromisso e humanismo ao longo da atual crise em Gaza, e falou de forma ‘forte e clara’, ao descrever ‘a situação como ela é’, tendo sido um dos poucos líderes a agir em defesa dos civis desde a primeira hora”. O órgão disse que o palestino manifestou preocupação com os riscos de uma ação militar em Rafah e relatou o aumento da violência contra palestinos na Cisjordânia.
“Mauro Vieira reiterou a disposição brasileira em liderar o esforço pela admissão da Palestina como membro pleno da ONU”, escreveu o Itamaraty no X (antigo Twitter).
Crise diplomática
A viagem do chanceler faz parte de uma série de visitas que o brasileiro realiza no Oriente Médio. Com início na última sexta-feira e término previsto para esta quarta, a agenda de Vieira inclui passagens pela Palestina, Jordânia, Líbano e Arábia Saudita.
Os encontros, no entanto, ocorrem num momento de crise diplomática entre Brasil e Israel, que teve início no último mês, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao genocídio de judeus promovido pela Alemanha nazista. Na sequência, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o petista cruzou uma “linha vermelha”, “desonrou a memória dos judeus” e que “deveria ter vergonha”.
Depois disso, o chanceler israelense, Israel Katz, convidou o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, para acompanhá-lo no Museu do Holocausto, onde anunciou diante das câmeras que Lula “é persona non grata em Israel até que se retrate”. No encontro, que teve como objetivo repreender o diplomata e mostrar “o que os nazistas fizeram aos judeus”, segundo Katz, o chanceler falou em hebraico, idioma não compreendido por Meyer. O gesto foi considerado pelo Planalto como humilhante, e Meyer foi chamado de volta ao Brasil.
O representante diplomático de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, também foi chamado pelo governo brasileiro para prestar esclarecimentos, e teve uma reunião a portas fechadas com Vieira.