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Palácio que sediou festas "bunga bunga" de Berlusconi em Roma vai abrigar jornalistas estrangeiros

Associação de correspondentes se instalará no primeiro andar do edifício do século XVI

Ex-premier da Itália, Silvio Berlusconi residiu durante 25 anos no Palazzo Grazioli, em Roma - Reprodução

O Palazzo Grazioli, que foi lar do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi durante 25 anos, vai passar a abrigar a partir deste mês os correspondentes da imprensa estrangeira na capital da Itália. A Associação de Imprensa Estrangeira em Roma se instalará no primeiro andar do edifício do século XVI onde o político e magnata do setor da comunicação — morto no ano passado, aos 86 anos — realizou algumas de suas principais reuniões partidárias e de suas famosas festas sexuais "bunga-bunga".

Durante mais de um século, os correspondentes estrangeiros lotados em Roma puderam trabalhar em diferentes prédios cedidos pelo Estado italiano. Formada em 1912, a associação se instalou primeiro num café de rua e depois, em 1936, se mudou para um edifício cedido pela ditadura de Benito Mussolini (num gesto interpretado como uma forma de as autoridades fascistas vigiarem a mídia estrangeira). Em 2001, instalaram-se num local próximo à Fonte de Trevi que hoje está em obras para se tornar um hotel cinco estrelas.

A partir de 25 de março, os cerca de 300 membros da entidade atuarão da nova sede. O palácio esteve ligado a Berlusconi até 2021, quando o empresário deixou de alugá-la da família Grazioli para se mudar para a região de Via Ápia.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, que relatou o novo uso do palácio em primeira mão, Berlusconi concedeu entrevista coletiva na associação uma única vez, em 1993, e, na ocasião, negou que tivesse qualquer ambição política. Três anos mais tarde, ele assumiu o posto de premier, o qual ocuparia outras duas vezes. Ao longo da trajetória, Berlusconi recusou vários convites e pedidos de declarações, sob o argumento de que os jornalistas estrangeiros eram "ofensivos".

No Palazzo Grazioli, os jornalistas estrangeiros vão poder passar pelo corredor em que o presidente russo, Vladimir Putin, brincava com o poodle do premier italiano, segundo o Guardian. Parte dos profissionais vão trabalhar do quarto que chegou a abrigar uma cama de Joseph Stalin que Putin dera de presente ao amigo magnata. O banheiro do edifício é o mesmo em que mulheres convidadas para festas costumavam tirar selfies, ainda de acordo com o jornal britânico.

Enquanto morou no palácio, Berlusconi fez questão de reforçar a segurança. Os quartos são equipados com janelas "à prova de balas". Num deles, um guarda-roupas embutido guarda uma "porta secreta" que daria ao magnata uma rota de fuga, em caso de emergência.

Essas polêmicas festas também ocorreram em outras propriedades do ex-primeiro-ministro, morto no ano passado, e se tornaram alvos de investigações no passado. A brasileira Iris Berardi, na época menor de idade, esteve na Villa Certosa, uma mansão e imensa propriedade na Sardenha, bem como em outras 29 festas organizadas pelo político italiano, segundo documentos do processo movido contra Berlusconi. O principal palco das festas sexuais era a Villa San Martino, principal residência do magnata por 50 anos.