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Mensagens de texto, áudios e postagens: como a PF confrontou depoimentos sobre a tentativa de golpe

Investigadores apresentaram a militares informações rastreadas em celulares e nas redes sociais

Polícia Federal - Rafa Neddermeyer / Agência Brasil

Nos depoimentos prestados por militares, aliados e ex-ministros do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a Polícia Federal utilizou informações de mensagens de texto, áudios e até postagens para confrontá-los. A estratégia dos investigadores que apuram uma suposta tentativa de golpe de Estado foi baseada no material rastreado em celulares apreendidos com alguns dos alvos e até nas redes sociais. 

Como O Globo mostrou, dos 27 intimados a depor, 14 optaram em ficar em silêncio. Foi o caso de Bolsonaro, do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, do ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto, do ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, do coronel da reserva do Exército e ex-assessor Marcelo Câmara, entre outros.

Aos 13 outros que decidiram falar, a PF realizou perguntas acerca da cronologia da suposta trama. Para o ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior, por exemplo, foi apresentado um texto atribuído a Braga Neto. Na conversa, ele afirmava: “Senta o pau no Baptista Júnior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feitas, e ele fechando na mordomia, negociando favores. Daí para frente. Inferniza a vida dele e da família”.

Após a leitura da mensagem, enviada ao coronel reformado do Exército Ailton Barros, Baptista Júnior foi indagado pelo delegado a que Braga Netto quis ao se referir com as palavras. “Que se deve ao fato de não ter aderido à tentativa de golpe. Que esclarece que não negociou nenhum favor com qualquer pessoa. Que desconhece o que Braga Netto quis dizer com essa frase”, respondeu.

Ao ex-ministro da Justiça Anderson Torres, os investigadores recorreram a trechos de uma reunião ministerial realizada em julho de 2022. Na ocasião, uma gravação mostra que ele garantiu durante o encontro: “A gente vai atuar de uma forma mais incisiva. Já estamos atuando. Mas eu acho que o mais importante é cada um entender o momento agora e as colocações que a gente deve fazer”.

Questionado sobre a que se referia o discurso, Torres afirmou que “à diretriz de uma atuação mais incisiva, especialmente por parte da Polícia Federal, no combate aos crimes eleitorais, empregando equipes completas em campo para atuar de maneira proativa”.

Também em depoimento à PF, o coronel da reserva Laércio Vergílio afirmou que somente conversou sobre a “situação política do país” com outros dois militares, em conversas particulares. Em seguida, no entanto, o oficial foi questionado se fez um comentário em uma publicação de Ailton Barros sobre o tema, no X, antigo Twitter, em dezembro de 2022.

“Respondeu que provavelmente, sim, mas não se recorda para afirmar com certeza. Indagado se a postagem estava relacionada ao momento para consumar o golpe de Estado e atacar os militares que estariam omissos ou contrários a ação, como o general Freire Gomes, respondeu que não sabe qual era a intenção de Ailton com a mensagem, que quis apenas prestigiar o comentário de um amigo”,  transcreveram os investigadores.