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"Jack, o Estripador": Quem é o homem apontado como serial killer por tataraneta de detetive

Saiba também quem foram as vítimas do assassino britânico, que assombrou a Londres do final do século XIX

Ex-fabricante de charutos Hyam Hyams foi apontado como possível serial killer - Reprodução

O interesse na história de Jack, o Estripador, o serial killer britânico que assassinou ao menos cinco mulheres na Londres do século XIX, voltou a ressurgir após a ficha policial do criminoso se tornar pública.

Nesta semana, o bisneto de Joseph Henry Helson, um dos investigadores do caso, decidiu colocar o material em um leilão. No ano passado, outra descendente de um nome envolvido nas investigações disse ter resolvido o mistério centenário e identificado o serial killer.

A escritora galesa Sarah Bax Horton, descendente do policial Harry Garrett, disse ter provas de que "Jack" era o ex-fabricante de charutos Hyam Hyams. O homem corresponderia muito às descrições dadas por testemunhas oculares.

Ele também corresponderia ao perfil que o investigador policial Robert Anderson, no século 19, havia estabelecido do possível assassino: Hyams tinha um braço rígido, um andar irregular e joelhos dobrados. Ele era conhecido por ser violento e morreu em um asilo psiquiátrico, segundo registros médicos que só foram tornados públicos há alguns anos.

Morto em 1913
Testemunhas da época descreveram o suspeito como um indivíduo na casa dos 30 anos, com um braço rígido e problemas no joelho. Bax Horton encontrou registros médicos mostrando que Hyams, que tinha 35 anos em 1888, havia sofrido uma lesão que o impedia de "dobrar ou endireitar" o braço esquerdo.

Os documentos, retirados de hospitais e asilos, indicam também que ele tinha um problema no joelho e que sofria de uma forma grave de epilepsia, com convulsões regulares. A autora também encontrou semelhanças entre sua altura e tez e as descrições das testemunhas.

Em setembro de 1889, o homem, falecido em 1913, foi internado definitivamente em um asilo. Bax Horton, cujo tataravô estava oficialmente investigando o caso, concluiu que o declínio físico e mental de Hyams, agravado pelo alcoolismo, o levou a cometer os assassinatos.
 

Anteriormente, ele havia atacado sua esposa e sua própria mãe com um cutelo. O nome de Hyams estava em uma “longa lista” de possíveis suspeitos, mas, segundo o autor, seu perfil como um possível “Jack, o Estripador” nunca havia sido totalmente explorado antes.

Segundo o Telegraph, Paul Begg, especialista no caso, apoia sua hipótese e descreve a investigação de Horton como um “livro bem pesquisado, bem escrito e muito necessário” para se ter uma ideia de quem foi o personagem que semeou o terror em Londres.

Em 2014, o empresário e autor Russell Edwards afirmou que o criminoso era Aaron Kosminski, um imigrante judeu que veio para o Reino Unido para trabalhar como barbeiro. Mas sua tese, baseada no DNA, foi refutada.

Quem foram as vítimas
De acordo com investigações, o assassino, cuja identidade jamais foi oficialmente reconhecida, executou ao menos cinco mulheres de perfis parecidos (prostitutas acima dos 40 anos, com raras exceções), em condições similares (de madrugada, com cortes similares na garganta e mutilação no abdôme), entre agosto e novembro de 1888, em diferentes pontos de Whitechapel.

No século XIX, mulheres em Londres tinham poucas escolhas: deviam se casar e ser dependentes de maridos ou ficar sem sustento, já que não havia empregos dignos para o gênero feminino. As vítimas do Estripador eram mulheres que haviam sido casadas, mas se viram desamparadas financeiramente após o fim da relação. Quase todas buscaram na prostituição uma forma de se manter. Veja, abaixo:

Mary Ann Nichols: A primeira vítima
Mary Ann Nichols tinha 43 anos quando foi vista com vida pela última vez, às 2h30 da madrugada do dia 31 de agosto de 1888, vagando pelas ruas de White Chapel. Nascida em Londres, ela se casou aos 18 anos com o operador de gráfica William Nichols e teve cinco filhos, mas o casal se separou em 1880. O pai da de Mary Ann acusou o genro de abandonar sua filha para ficar com a enfermeira que ajudou no parto do caçula deles. Já William disse que deixou a mulher porque ela bebia demais. O operador de gráfica foi morar com os filhos, mas pagava uma pensão à ex-cônjuge. Meses depois, parou de pagar, alegando que Mary vivia com outro homem e ganhava dinheiro com prostituição.

A britânica chegou a morar com o pai, mas os dois se desentenderam e ela foi parar na rua. De acordo com pesquisadores, a prostituição se tornou o último recurso dela. Mary Ann dormiu várias vezes ao relento, por falta de dinheiro. Ela tinha sido expulsa de um albergue na noite de 30 de agosto de 1888 quando foi vista, na madrugada seguinte, bêbada e se prostituindo nas ruas de White Chapel. Por volta das 3h40 de 31 de agosto, seu corpo foi encontrado sobre uma poça de sangue. Havia dois cortes na garganta. A vagina tinha sido esfaqueada duas vezes, e o seu intestino estava exposto, devido ao corte profundo feito pelo assassino na parte de baixo do abdôme da vítima.

Annie Chapman: Na rua atrás de dinheiro para dormir
Annie Chapman também era mãe. Ela havia dado luz a três filhos com seu então marido, John James Chapman. Mas, segundo relatos, ambos bebiam muito, e esse hábito se deteriorou após a perda da filha mais velha para a meningite. O casal se separou, e Annie passou a receber uma pensão semanal do ex-marido. Mas ele morreu de causas ligadas ao alcoolismo, deixando a inglesa sem recursos. A mulher vendia peças de crochê e flores para se sustentar e, eventualmente, completava sua renda com a prostituição. Na madrugada do dia 8 de setembro de 1888, Annie tinha 47 anos quando saiu do albergue onde dividia uma cama, em White Chapel, atrás de dinheiro para pagar a diária.

O corpo dela foi encontrado no amanhecer daquele dia 8 de setembro. Assim como Mary Ann, a segunda vítima do serial killer sofreu dois cortes profundos na garganta, com extensão de uma orelha a outra. Segundo descrições, a cabeça dela estava quase separada dos ombros. O assassino mutilou o abdôme da vítima usando uma lâmina que deixou marcas idênticas àquelas observadas no primeiro homicídio. Parte do intestino havia sido removida e deixada ao lado do corpo. De acordo com legistas que analisaram a cena, os ferimentos sugeriam que o criminoso tinha bons conhecimentos de anatomia e experiência no uso da lâmina.

Elizabeth Stride: Um crime brutal interrompido
Elizabeth Stride nasceu na Suécia e se mudou para Londres aos 23 anos. Ela se casou na capital britânica e passou a viver na East India Dock Road com o marido, John Thomas Stride, em 1869. Os dois administraram uma cafeteria por algum tempo, mas fecharam o negócio devido a dificuldades financeiras. O casamento passou por várias crises e chegou ao fim em 1881. Pouco depois, Stride morreu de tuberculose. Elizabeth tentava ganhar a vida limpando pensões e residências familiares, mas, como o dinheiro era muito pouco, ela também se prostituia para completar a renda.

O corpo da sueca de 44 anos foi achado por volta de 1h da madrugada de 30 de setembro de 1888. O sangue ainda estava saindo do corte na garganta quando um homem chamado Louis Diemschutz o encontrou. Este indício levou a crer que ela tinha acabado de ser morta. Diferentemente das primeiras vítimas, Elizabeth não teve o abdôme mutilado. Investigadores deduziram que isso não aconteceu porque o assassino foi interrompido pela chegada de Diemschutz. O ferimento no pescoço era muito parecido com aqueles encontrados em Marry Ann e Annie, as duas primeiras vítimas.

Catherine Eddowes: A segunda vítima daquela noite
Catherine Eddowes perdeu ambos os pais aos 15 anos de idade e teve que morar num abrigo para órfãos com seus três irmãos. Mais tarde, vivendo em Birmingham, ela começou uma relação com o soldado Thomas Conway, com quem não se casou oficialmente, mas teve três filhos. A família se mudou para Londres, onde Catherine começou a beber demais, o que teria levado ao fim da relação com Conway. Pouco depois, ela começou uma relação com um homem chamado John Kelly. Os dois viviam de bicos e, gastando muito com bebida, estavam sempre sem dinheiro.

Na noite de 29 de setembro de 1888, Catherine, aos 46 anos, foi levada a uma delegacia depois de ser encontrado deitada numa rua, bêbada. Ela deixou a cadeia na madrugada do dia 30. Seu corpo foi achado às 1h44, com a cabeça em um bueiro. A garganta cortada como nas demais vítimas, e o rosto, desfigurado. O intestino havia sido removido e deixado ao lado do ombro. Devido às similaridades encontradas, e ao horário, os inspetores concluíram que Catherine foi assassinada pouco depois de o estripador matar Elizabeth Stride e fugir sem terminar o que ele planejava com a sueca.

Mary Jane Kelly: Mutilada em sua própria cama
As inúmeras pesquisas sobre as vítimas de Jack, o Estripador não encontraram muitas informações sobre a vida pregressa da irlandesa Mary Jane Kelly, quinta e última vítima do serial killer. Sabe-se que ela havia sido expulsa de casa pelos pais e se casado com um mineiro que viria a morrer depois de dois anos, em um acidente de trabalho. Sem dinheiro para se manter, Mary Jane teria começado a se prostituir em 1884, após se mudar de Cardiff, no País de Gales, para Londres.

Diferentemente das demais vítimas, Mary Jane foi morta em no quarto de pensão onde morava. Entre quatro paredes, o serial killer teve privacidade e tempo para deixá-la ainda mais desfigurada que as outras. A irlandesa foi vista pela última vez com vida na madrugada do dia 9 de novembro, às 2h45, conversando com um homem na rua. Em seguida, os dois foram andando na direção da pensão. Por volta das 10h, o dono da pensão bateu na porta dela para cobrar o dinheiro do aluguel, que estava seis semanas atrasado. A superfície do abdôme havia sido removida, e todas as vísceras, retiradas.

Os órgãos estavam em diferentes pontos da cama e do quarto. Os membros, mutilados, e o rosto da vítima, desfigurado de tal forma que seria impossível reconhecer seus traços de anatomia. Mary Jane foi a vítima mais jovem de Jack, O Estripador. Ela tinha algo em torno de 25 anos ao ser morta.