violência doméstica

Após denúncia de agressão, ex-mulher do deputado pede que vítimas "não tenham medo" de falar

Betina Grusiecki acusa o parlamentar, que também é delegado de polícia, de violência doméstica e ameaça

Após denúncia de agressão, ex-mulher do deputado Da Cunha pede que vítimas de violência doméstica 'não tenham medo' de falar - Reprodução/Instagram

Ex-mulher do deputado Delegado da Cunha, a nutricionista Betina Grusiecki usou as redes sociais para comentar o caso e aconselhar mulheres vítimas de violência doméstica e psicológica. Da Cunha tornou-se réu por violência doméstica e ameaça contra Betina, em outubro de 2023. Em seu perfil no Instagram, a ex-mulher pede que as mulheres não sintam medo de denunciar.

"Você, mulher que sofre ou já sofreu violência doméstica, psicológica: não tenha medo de falar (...) somos fortes, conseguimos sair dessa situação" diz Betina, nos stories de seu perfil no Instagram.

Nesta segunda-feira (18), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) fez representação contra do deputado federal Delegado da Cunha (PP-SP), no Conselho de Ética da Câmara, segundo anunciou a deputada Fernanda Melchiona (PSOL-RS) em suas redes sociais.

“Junto com a bancada do PSOL, representamos contra o deputado Carlos Alberto Da Cunha no Conselho de Ética da Câmara. Criminosos que atentam contra a vida das mulheres não podem ocupar espaços de poder ou serem representantes do povo. Exigimos que seu mandato seja cassado!”, escreveu Melchiona em sua conta no X, antigo Twitter.

O caso
Eleito deputado federal por São Paulo com mais de 180 mil votos, Da Cunha é réu por violência doméstica e ameaça contra Betina e também é investigado por enriquecimento ilícito e abuso de autoridade, depois de ficar conhecido na internet com vídeos de operações policiais.

Da Cunha e Grusiecki se conheceram em 2020, moravam juntos e não têm filhos. Ele é pai de três crianças, frutos de outra relação. Em depoimento, ela relatou à Justiça ter sofrido com episódios de agressão verbal e física durante o relacionamento de três anos com o deputado. Segundo ela, o casal discutia com frequência.

Segundo o Ministério Público, além de ameaças e agressões, ele também causou danos materiais à vítima. O caso foi registrado na 2ª DDM (Delegacia da Defesa da Mulher), na Zona Sul de São Paulo, como lesão corporal, ameaça, injúria e violência doméstica, cuja acusação ainda vai a julgamento.

Em um vídeo divulgado pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo, é possível ouvir o deputado insultando a então companheira e a ameaça de morte. “Vou encher sua cara de tiro”, diz o deputado na gravação. Em alguns momentos, dá pra ver o rosto de Betina e, em um relance, é possível reconhecer a imagem do delegado. A maior parte do vídeo é composta apenas por áudio. Segundo a vítima, ele havia consumido bebida alcóolica e, em um momento da gravação, ele bate com a cabeça dela na parede. “Desmaia aí, desmaia aí”, diz ele.

A agressão registrada no vídeo aconteceu no apartamento onde o casal vivia em Santos, no litoral paulista, em 13 de outubro do ano passado. Segundo Betina, foi a última vez que ele a agrediu, já que, neste mesmo dia, ela deixou a casa onde os dois viviam.

À justiça, o deputado negou ter agredido a nutricionista, mas o IML atestou que Betina tinha escoriação no couro cabeludo e lesões corporais leves. O deputado registrou um boletim de ocorrência afirmando que era ele o agredido, por causa do ferimento com um secador. O Ministério Público concluiu que Betina tinha agido em legítima defesa.

"Policial youtuber"
Essa não foi, no entanto, a primeira polêmica em que o parlamentar se envolveu. Quando ainda atuava como delegado, Da Cunha foi indiciado por utilizar a estrutura da Polícia Civil para gravar vídeos de operações oficiais que foram exibidos em suas redes sociais particulares, como no YouTube. A investigação apontou que o delegado pagava até R$ 14 mil por mês para a equipe de filmagem. Atualmente, ele tem dois milhões de seguidores no Instagram.

Da Cunha chegou a ser afastado de suas funções em julho de 2021, quando a Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo instaurou um processo administrativo por suspeita de peculato. A prática consiste na apropriação, por parte de um funcionário público, de um bem a que ele tenha acesso por causa do cargo que ocupa, em benefício próprio ou de outras pessoas.

Sua postura como "policial youtuber" — que expunha operações policiais que o colocavam no patamar de um suposto herói — passou a incomodar colegas e comandados, e a irritação chegou até o então delegado-geral Ruy Ferraz, sobretudo após críticas à sua gestão e xingamentos endereçados a outros agentes, chamados de "ratos". Os relatos apontavam que Da Cunha transformava a delegacia que comandava numa verdadeira "ilha de edição" para seus vídeos, usando a estrutura e os próprios policiais para ganhar dinheiro nas redes e promover sua imagem. Ele também chegou a ser acusado de forjar ocorrências, como um sequestro, para abastecer o próprio material nas redes.

O hoje deputado chegou a ter sua arma e distintivo recolhidos, mas os itens foram devolvidos. Ele segue afastado da Polícia Civil, já que não pode acumular a função à de deputado federal.