Cid confirmou que recebeu ordem de Bolsonaro para fraudar cartões de vacina no sistema do SUS
Aos investigadores, ex-ajudante de ordens disse que certificados com dados falsos foram entregues na mão do ex-presidente
Ao indiciar Jair Bolsonaro pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação, a Polícia Federal apontou que o ex-ajudante de ordens afirmou ter sido o próprio ex-presidente quem ordenou a fraude em seu certificado de vacinação contra a Covid-19 e no de sua filha, Laura Bolsonaro, de 12 anos.
O advogado Fabio Wajngarten, que defende Bolsonaro, lamentou o “vazamento” da informação do indiciamento do ex-presidente pela PF. Segundo ele, o ato deveria “ter revestimento técnico e procedimental ao invés de midiático e parcial”. O ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu por retirar o sigilo do caso nesta terça-feira (19).
No relatório enviado à Corte com o indiciamento de Bolsonaro, Cid e outras 15 pessoas, a PF inclui trecho do depoimento em que ele afirma “QUE confirma recebeu a ordem do ex-Presidente da República, JAIR BOLSONARO, para fazer as inserções dos dados falsos no nome dele e da filha LAURA BOLSONARO; QUE esses certificados foram impressos e entregue em mãos ao presidente”.
No documento, os investigadores também escrevem: “Em relação às inserções de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em benefício do então Presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO e de sua filha LAURA FIRMO BOLSONARO, em termo de depoimento, o colaborador MAURO CESA BARBOSA CID afirmou que o então Presidente da República ao tomar conhecimento de que MAURO CESAR CID possuía cartões de vacinação contra a Covid-19 em seu nome e em nome de seus familiares, ordenou que o colaborador fizesse as inserções para obtenção dos cartões ideologicamente falsos para ele e sua filha LAURA”.
De acordo a PF, o inquérito visava esclarecer se teriam sido forjados dados do certificado de vacinação de parentes do ex-presidente, como de sua filha, Laura. Em maio do ano passado, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa da família e seis de prisão contra ex-funcionários, como Cid, o assessor Max Guilherme de Moura, os ex-auxiliares Sérgio Cordeiro e Luís Marcos dos Reis; o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha; e Ailton Gonçalves Barros, militar que concorreu a deputado estadual no Rio pelo PL em 2022.
As investigações da PF apontaram também que os documentos de imunização no aplicativo ConecteSUS foram emitidos a partir do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Os downloads foram feitos dias antes e na própria data da viagem de Bolsonaro a Orlando, na Flórida, para onde foi antes mesmo do fim de seu mandato.
De acordo com o relatório enviado ao STF, foram quatro emissões, três delas ainda em dezembro de 2022, nos dias 22, 27 e 30. O ex-presidente embarcou para os Estados Unidos no próprio dia 30, horas depois do acesso ao sistema.