Folha Imóveis

Investimento, dignidade e segurança

A Prefeitura do Recife trata como prioridade o acesso à moradia para pessoas de baixa renda. Só no ano passado, entregou dois conjuntos habitacionais

RESIDENCIAL ENCANTA MOÇA I E II, LOCALIZADO NO PINA, FOI ENTREGUE EM 2023 PELA PREFEITURA DO RECIFE - Alexandre Aroeira / Folha de Pernambuco

O sonho de ter a casa própria está presente na grande maioria dos brasileiros. Esse desejo fica ainda maior quando se observa a realidade das pessoas de baixa renda que vivem em situações precárias, como em palafitas e barracos. De acordo com último levantamento realizado pela Prefeitura do Recife, em 2018 a cidade contava com aproximadamente 72 mil famílias longe das condições ideais de moradia. Um novo levantamento será feito neste ano de 2024, já levando em consideração o impacto da pandemia da Covid-19.

Com esse cenário histórico de dificuldades na Capital pernambucana, a gestão do prefeito João Campos trata como prioridade o acesso à moradia para pessoas de baixa renda. Só em 2023, foram entregues dois conjuntos habitacionais: Encanta Moça I e II (Pina) e Sérgio Loreto (São José). Ao todo, foram 1.160 famílias beneficiadas com as entregas. Outras estão programadas para acontecer em 2024.

Ermes Costa assumiu a Secretaria de Habitação do Recife em março de 2023 e priorizou a finalização das obras que estavam em aberto. De acordo com o gestor, o Habitacional Sérgio Loreto foi o empreendimento mais desafiador. O projeto estava paralisado havia 14 anos, e a retomada das construções foram dificultadas pela mudança das normativas que aconteceram nesse período. 

“As normas brasileiras e as outras referências que existem de normativo são atualizadas a cada três, quatro, cinco anos. Para poder retomar essa obra, tivemos que fazer várias intervenções que não estavam previstas inicialmente, como a acessibilidade e questões do ponto de vista construtivo”, explicou o secretário. 

Em 2023, a Prefeitura do Recife entregou dois conjuntos habitacionais, beneficiando 1.160 famílias | RODOLFO LOEPERT/ PCR

Pensamento no futuro

Além das entregas dos novos apartamentos, o ano de 2023 foi marcante por assegurar outras construções. No final de dezembro, João Campos sancionou o Programa Municipal de Subsídio à Habitação de Interesse Social (PMSHIS), que destina recursos para construção e aquisição de novas unidades habitacionais a famílias de baixa renda, com o objetivo de reduzir o déficit habitacional na Capital.

Os subsídios desse programa são direcionados a pessoas de baixa renda e até construtoras que queiram iniciar projetos pelo Minha Casa, Minha Vida. As quatro modalidades são: Moradia Social; Entidades; Retrofit; e Mercado. “É um grande marco. Será a primeira vez que haverá um programa específico para subsídio voltados às habitações de interesse social”, ressaltou Ermes. 

Dificuldades na vida

A babá Sintia do Monte, de 41 anos, foi a primeira moradora do habitacional Encanta Moça II, entregue no dia 21 de dezembro de 2023. Ela é casada com o pescador Luiz Carlos, de 45 anos, e os dois estão juntos desde 2018. Durante todo esse período, moravam num barraco na comunidade do Bode. “A situação era muito precária, eu morava dentro da maré. Tinha lixo, esgoto e animais.”

A insegurança também é um dos fatores que fazem Sintia nunca mais desejar viver naquelas condições. Em 2022, o barraco da babá desabou com a moradora dentro. O incidente aconteceu por volta das 2h, durante uma ventania forte que derrubou algumas casas da comunidade. Ela estava sozinha em casa. 

Outros problemas já tinham acontecido antes, mas esse foi o mais marcante, pelo fato de Sintia estar dentro de casa no momento da queda. “Todo ano tinha que reforçar o barraco, sempre gastava entre R$ 1.000 e R$ 1.500.” 

Sintia do Monte, primeira moradora do habitacional Encanta Moça II | Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

O trauma com as antigas condições de moradia foi tão forte que, apesar da mudança, Sintia ainda tinha algumas memórias do seu passado recente. “O barraco balançava muito quando chovia. Nos primeiros dias depois da mudança, eu sentia o apartamento balançar na minha mente. Com o tempo foi passando até cair a minha ficha”, disse ela.

Sem se preocupar com animais dentro e fora da casa, insegurança com as chuvas e a falta de dignidade, Sintia consegue agora planejar uma vida mais próspera com a casa nova. O primeiro passo será mobiliar todo o apartamento e trocar os móveis antigos por novos. 

“Eu falo direto que sai do lixo ao luxo. Estou me sentindo uma pessoa rica, só de ter um ambiente limpinho, sem nenhum buraco. Eu não estou vendo lixo embaixo da casa, como era no barraco”, afirmou. 

Dignidade para a família

Um dos primeiros moradores do Habitacional Sérgio Loreto, Tácio e Eloyza foram sorteados para receber a chave do apartamento durante a cerimônia de entrega organizada pela prefeitura. O evento aconteceu no dia 26 de dezembro de 2023, e a família já passou a morar no local no mesmo dia.

O casal convivia com as péssimas condições da palafita onde moravam, na comunidade Roque Santeiro, e os riscos e o medo aumentaram após a chegada da filha, Tayane. Eles precisavam reformar frequentemente a antiga moradia e a última obra antes da mudança para novo apartamento foi no piso do banheiro, que estava prestes a ruir.  “Ficávamos com medo dos animais chegarem perto da nossa filha. Também tinha o risco de ela cair na maré ao ir ao banheiro, porque tinha uma ponte na passagem”, relembrou o pai. 

Tácio e Eloyza, com a filha Tayane, deixaram a comunidade Roque Santeiro e agora moram no habitacional Sérgio Loreto | Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Além da alegria com a nova moradia, a data da entrega das chaves culminou num momento único para o casal. Em cima do palco, Tácio aproveitou o momento e fez o pedido de casamento para Eloyza, que aceitou.

“É um sentimento de alívio e tranquilidade, porque antes vivíamos muito preocupados. Saber que podemos deixar nossa filha brincando na sala e ir para o quarto, sem aquele pensamento de que ela poderia cair na maré ou ser mordida por escorpião.”