Blinken visita Israel para pressionar por ajuda humanitária e trégua em Gaza
Os confrontos prosseguiram nas últimas horas, em particular no hospital Al Shifa, o mais importante do território localizado na Cidade de Gaza
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, está em Israel nesta sexta-feira (22) para pressionar pelo aumento da ajuda humanitária na Faixa de Gaza, antes de uma votação do Conselho de Segurança da ONU sobre uma resolução apresentada por Washington que pede um "cessar-fogo imediato".
No Catar, os mediadores no conflito também trabalham para alcançar um acordo de trégua de seis semanas entre Israel e Hamas, além da libertação dos reféns sequestrados pelo grupo islamista palestino e um aumento da ajuda humanitária para Gaza.
Apesar da pressão, Israel mantém o plano de iniciar uma operação terrestre na cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, onde 1,5 milhão de pessoas estão aglomeradas, a maioria deslocados pelo conflito iniciado em 7 de outubro.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirma que uma ofensiva contra a cidade localizada na fronteira com o Egito é necessária para acabar com o "último reduto" do movimento islamista.
Em sua sexta viagem ao Oriente Médio desde o início da guerra, Blinken declarou no Egito que uma grande operação contra Rafah seria um "erro" e que existem "maneiras melhores de enfrentar a ameaça" do Hamas.
Os confrontos prosseguiram nas últimas horas, em particular no hospital Al Shifa, o mais importante do território localizado na Cidade de Gaza.
As forças israelenses afirmam que mataram mais de 140 combatentes palestinos e prenderam mais de 350 desde o início da semana na área do hospital.
Trégua "ainda possível"
Blinken, que se reunirá nesta sexta-feira com Netanyahu, destacou que "as brechas estão diminuindo" nas negociações para uma trégua. "É difícil de alcançar, mas acredito que ainda é possível", disse.
De modo paralelo às negociações, os Estados Unidos apresentaram um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU para pedir um cessar-fogo "vinculado à libertação dos reféns".
A última versão do texto, consultada pela AFP, destaca "a necessidade de um cessar-fogo imediato e duradouro para proteger os civis de todas as partes e permitir o fornecimento de ajuda humanitária".
Aliado histórico de Israel, o governo dos Estados Unidos vetou até o momento várias resoluções na ONU que pediam um cessar-fogo, considerando que beneficiariam o movimento islamista Hamas.
Mas diante do custo humano da guerra e da ameaça de fome em Gaza, Washington aumenta a pressão sobre Israel para obter uma trégua e evitar uma ofensiva terrestre em Rafah.
Os países da União Europeia também fizeram um apelo a Israel para não atacar Rafah. E pediram uma "pausa humanitária imediata" no conflito.
O pedido recebeu o apoio nesta sexta-feira de Austrália e Reino Unido, aliados de Israel e dos Estados Unidos, que destacaram em um comunicado "a urgência de um fim imediato dos combates em Gaza".
A China afirmou "apoiar" que o Conselho de Segurança adote "ações significativas" para "acabar o mais rápido possível com os combates em Gaza". Pequim, membro permanente do Conselho, não anunciou se apoiará o texto de Washington.
A guerra eclodiu em 7 de outubro com um ataque surpresa de milicianos do Hamas, que mataram 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Também sequestraram 250 pessoas no sul do país. Israel afirma que 130 reféns continuam em cativeiro em Gaza, dos quais 33 teriam morrido.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva aérea e terrestre contra a Faixa de Gaza, controlada pelo movimento islamista desde 2007.
Até o momento, a operação militar deixou 31.988 mortos, a grande maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Ameaça de fome
De modo paralelo à viagem de Blinken a Israel, o diretor do Mossad (serviço de inteligência israelense), David Barnea, deve se reunir em Doha com seus homólogos dos Estados Unidos e Egito, William Burns e Abbas Kamel, e com o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani.
O Hamas aceitou uma trégua de seis semanas, ao invés de um cessar-fogo definitivo como exigia anteriormente. Mas ainda existem divergências a respeito da troca de reféns do Hamas por presos palestinos detidos em penitenciárias de Israel.
Um acordo de trégua também deve incluir um aumento da ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, onde as ONGs e as agências da ONU alertam para o risco iminente de fome.
Israel impõe atualmente um cerco praticamente total ao território e controla de maneira minuciosa a entrada de ajuda, o que trava o fluxo, principalmente dos suprimentos procedentes do Egito.
"As crianças morrem de fome. Estão privadas de alimentos", alertou o Comitê dos Direitos da Criança da ONU, que reiterou o pedido de cessar-fogo.
Vários países organizam entregas aéreas de mantimentos. Um corredor marítimo do Chipre até Gaza também foi aberto, mas a ONU reitera que estas iniciativas não substituem as entregas por via terrestre.