COVID-19

Com baixa procura, antiviral contra Covid empaca no SUS enquanto doença ainda mata mais que dengue

Das 3,2 milhões de unidades de Paxlovid adquiridas pelo Ministério da Saúde desde 2022, 472 mil seguem estocadas nos estados

Paxlovid, pílula contra a Covid da Pfizer - AFP

Enquanto o coronavírus segue matando mais do que a dengue no Brasil, o Paxlovid, primeiro remédio para casos leves de Covid-19, continua subutilizado no Sistema Único de Saúde (SUS).

Dos 3,2 milhões de medicamentos adquiridos pelo Ministério da Saúde desde 2022, 2,7 milhões foram distribuídos aos estados — mas a procura é baixa, e 472 mil seguem estocados após quase 15 mil óbitos ao longo de 2023. Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) pela Fiquem Sabendo, organização sem fins lucrativos especializada em transparência pública.

Fabricado pela Pfizer e aprovado, o Paxlovid, composto pelos antivirais nirmatrelvir e ritonavir, é recomendado para pessoas consideradas de risco com casos leves ou moderados da doença, nos cinco primeiros dias de sintoma. O medicamento reduz em até 90% a chance de hospitalização nesses casos.

Ainda que tenha saído dos holofotes, a Covid-19 tem matado mais brasileiros do que a dengue. São 2.066 mortes pela doença causada pelo coronavírus em 2024 (quase 30 por dia), contra 656 pela arbovirose (8,2 óbitos por dia), que tem monopolizado a atenção das autoridades em meio à disparada de casos.

Especialistas vinham tentando desemperrar o uso do Paxlovid no SUS. No começo de março, conseguiram uma vitória, quando o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica desobrigando a ficha de notificação que era exigida dos médicos que receitavam o medicamento. A avaliação é que a burocracia havia se tornado um empecilho para a prescrição do tratamento.

Desde três semanas atrás, apenas um receituário comum, em duas vias, é exigido para a prescrição do antiviral. O laudo de exame positivo ou a ficha de notificação do caso de Covid-19 no e-SUS não devem ser cobrados pelo farmacêutico na hora da compra do medicamento.

Para o médico infectologista e professor da Unesp Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, a falta de educação médica continuada é a principal falha hoje no combate à Covid. Isso porque, segundo ele, os profissionais da linha de frente não têm se atualizado sobre os novos tratamentos — e deixado de receitar o Paxlovid, por exemplo.

"Tem medicação sobrando, enquanto não faltam pacientes para tratar. E isso não está sendo feito por falta de conhecimento aprofundado. Os médicos da linha de frente precisam estar melhor atualizados no manejo e tratamento da Covid. Não adianta estar formado, as pessoas precisam se atualizar" diz Barbosa.

Procurado, o Ministério da Saúde ainda não respondeu.

Paxlovid
Trata-se de um dos primeiros remédios desenvolvidos especificamente para combater a infecção do Sars-CoV-2, vírus causador da doença, e reduziu em cerca de 89% as hospitalizações nos estudos clínicos.

Destinado a pessoas que tenham o risco aumentado de progressão para Covid-19 grave – como idosos, imunossuprimidos e pessoas com comorbidades – o novo medicamento é uma combinação de dois comprimidos que são embalados e administrados de forma conjunta: o nirmatrelvir e o ritonavir.

O primeiro, produzido especialmente para o Sars-CoV-2 em tempo recorde, atua inibindo a parte do vírus responsável pela sua replicação dentro do organismo humano.

A indicação da Anvisa é a de que o tratamento comece o quanto antes após um diagnóstico positivo para a Covid-19, no prazo máximo de cinco dias após o início dos sintomas. A administração do remédio, que depende de prescrição médica, dura também um período de cinco dias.