Quem é Mauro Cid, peça-chave das investigações envolvendo ex-presidente?
Ex-ajudante de ordens, Mauro Cid se tornou pivô das investigações sobre Bolsonaro por proximidade e acordo de delação
O retorno do tenente-coronel Mauro Cid à prisão por obstrução à Justiça após o vazamento de áudios em que coloca em dúvida os termos de sua delação premiada e a atuação da Polícia Federal nas investigações é apenas mais um capítulo na trajetória do militar que se viu no meio das principais articulações do governo de Jair Bolsonaro.
O sobrenome Cid já era reconhecido nos meios militares antes mesmo da chegada de Bolsonaro à Presidência: seu pai é general, chegou à cúpula do Exército e, mais importante para o filho, foi colega de turma de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras, em 1977. Cid seguiu a tradição familiar e até o seu envolvimento nas investigações, era considerado um nome promissor dentro do Exército: foi o primeiro colocado em suas turmas na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) e na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO).
Cid iria para os Estados Unidos para uma temporada de estudos quando foi indicado para assumir o cargo de auxiliar direto de Bolsonaro. A recomendação foi feita pelo general Tomás Paiva, hoje comandante do Exército no governo Lula. O próprio Paiva foi ajudante de ordens: atuou no cargo acompanhando de perto os presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, de quem se tornou próximo.
Pouco a pouco, a proximidade rendeu a Cid cada vez mais confiança por parte de Bolsonaro. Era o ajudante de ordens, por exemplo, que administrava boa parte das “lives”, transmissões que Bolsonaro fazia semanalmente nas redes sociais. Cid organizava algumas das fontes utilizadas pelo presidente, selecionando notícias ou informações do próprio governo, mas também fazia o meio-campo com a rádio que transmitia a live ao vivo.
Segundo aliados, Cid era o principal responsável por levar informações falsas para Bolsonaro, posteriormente amplificadas em lives e em conversas com apoiadores, também transmitidas e compartilhadas diariamente.
Foi exatamente por causa dessa sua atuação que Cid entrou na mira da Justiça. Em uma dessas transmissões, Bolsonaro utilizou uma notícia para citar uma suposta relação entre a vacina contra a Covid-19 e casos de Aids. Responsável pelo material utilizado nas lives, Cid começou a ser investigado pela Polícia Federal. Foi nesse contexto em que ele teve seu sigilo telemático (dados de celulares e outros aparelhos eletrônicos) quebrado.
Como sempre estava ao lado de Bolsonaro, Cid também tinha influência sobre a agenda do presidente e quem era recebido por ele. Cid teria sido o responsável, por exemplo, por fazer o presidente voltar atrás em posicionamentos mais moderados sobre a vacina e a pandemia, ponto considerado decisivo na sua derrota nas eleições presidenciais de 2022.
Cid também influenciou o ex-presidente em outros momentos, como no tensionamento com o Supremo Tribunal Federal sobre as urnas eletrônicas e até mesmo na escolha do vice-presidente na chapa: Bolsonaro escolheu o general Walter Braga Netto, militar, em detrimento da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
A confiança de Bolsonaro em Cid era tanta que foi também o então ajudante de ordens o responsável por tentar reaver as joias doadas pelo governo da Arábia Saudita e apreendidas na Receita Federal, em São Paulo. Em março do ano passado, o Globorevelou que pessoas próximas a Bolsonaro teriam dito que Cid convencera o presidente de que a operação funcionaria. A investigação sobre as joias avançou e colocou o militar no centro das principais investigações sobre Bolsonaro e foi a gota d’água para que Cid aceitasse fazer o acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal.