Futebol

Após Leila Pereira, Danilo e Dorival, CBF se posiciona sobre casos Robinho e Daniel Alves

"Vergonhoso que um atleta se sinta confortável para cometer esse tipo de perversidade", diz presidente da entidade Ednaldo Rodrigues

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF - Lucas Figueiredo/CBF

Depois de a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que atua como chefe de delegação na viagem da seleção em Londres, se manifestar de forma veemente sobre os casos de Daniel Alves e de Robinho, e do lateral Danilo e do técnico Dorival Junior responderem a perguntas, a CBF enfim se posicionou sobre o tema. Em nota assinada pelo presidente Ednaldo Rodrigues, classifica as condenações definitivas dos jogadores como "um ponto final em um dos mais nefastos capítulos do futebol brasileiro".

O dirigente diz que a CBF, seus dirigentes e membros da comissão técnica se solidarizam com as vítimas dos crimes cometidos por Daniel Alves e por Robinho. E disse ser "vergonhoso que um atleta se sinta confortável para cometer esse tipo de perversidade acreditando que aquilo que conquistou pelo esporte vá de alguma forma lhe blindar de qualquer punição".

O primeiro está preso na Espanha por estuprar uma mulher numa boate em Barcelona. Esta semana, ele obteve direito à liberdade provisória enquanto aguarda o julgamento nas demais instâncias. Mas ainda não conseguiu o dinheiro para pagar a fiança.

Já Robinho começou a cumprir no Brasil a pena de nove anos de prisão imposta pela Justiça italiana por participação no estupro coletivo de uma albanesa numa boate em Milão. A condenação do ex-atacante já é definitiva.

Ednaldo aproveitou para falar dos casos de racismo no futebol. Em especial os que tem como alvo o atacante Vinícius Junior, na Espanha. Por fim, listou iniciativas tomadas pela CBF nos últimos meses.

Confira a nota na íntegra:

"As condenações definitivas dos jogadores Robson de Souza e Daniel Alves colocam um ponto final em um dos capítulos mais nefastos dos futebol brasileiro.

Os dois casos, que envolvem jogadores que foram estrelas da Seleção Brasileira de Futebol, um dos maiores ícones culturais do nosso país, não podem se encerrar com a condenação dos dois culpados.

É fundamental que a corajosa atitude das vítimas inspirem cada vez mais mulheres a não se calarem diante de barbaridades de tal ordem.

Mais do que isso: num ambiente em que o machismo impera, nós, homens, precisamos estar na linha de frente para combater não apenas a violência sexual, mas todo tipo de violência.

A CBF, todos os seus dirigentes e a comissão técnica da Seleção Brasileira se solidarizam com as vítimas brutais dos dois crimes cometidos pelos ex-jogadores.

A camisa amarela que os atletas brasileiros vestem em campo é mais do que apenas um uniforme. Assim como o futebol é para o Brasil mais do que apenas um esporte. Cabe àqueles que a vestem defender os sentimentos e valores de um país inteiro ali representados. É vergonhoso que um atleta se sinta confortável para cometer esse tipo de perversidade acreditando que aquilo que conquistou pelo esporte vá de alguma forma lhe blindar de qualquer punição. Assim como é igualmente vergonhoso que um torcedor de qualquer nacionalidade se sinta confortável para ofender atletas brasileiros apenas por sua raça, como lamentavelmente temos visto na Europa, contra o jogador Vinicius Jr.

A CBF tem atuado ostensivamente para combater violências que se acomodaram no ambiente esportivo sem que fossem endereçados com a devida firmeza. O combate ao racismo, à homofobia e violências motivadas por rixas de torcidas atravessa a agenda de prioridades da entidade de forma transversal, em todos os seus eixos de atuação, dos quais destaca-se:

1) A parceria de quatro anos com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol para o monitoramento sistemático de qualquer forma de discriminação no futebol;

2) A realização, em 2023, do I Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol representou um marco para o enfrentamento da questão;

3) A instituição de um grupo de trabalho composto por mais de 50 representantes de mais de 30 entidades do setor público, privado e da sociedade civil que se reúnem com o objetivo de debater e construir soluções coletivas para a problemática;

4) A realização das campanhas “Por um Futebol e uma Sociedade Antirracista” em 2022 e “Com Racismo Não Tem Jogo” em 2023, tendo esta última vencido, inclusive, a premiação global “FIFA THE BEST - FAIR PLAY AWARD”;

5) A reforma do Regulamento Geral de Competições da CBF, com a introdução de dispositivos de salvaguarda dos direitos humanos, além de sanções administrativas severas para infrações de caráter discriminatório, possibilitando que clubes sejam responsabilizados pelas condutas de seus atletas, dirigentes e torcedores;

6) A proposição de medidas às principais entidades de administração do futebol, como FIFA, a CONMEBOL, a UEFA e outras federações nacionais, defendendo que estas organizações incorporem provisões semelhantes às da CBF em seus regulamentos;

7) O diálogo permanente com os Ministérios do Esporte, Justiça e Segurança Pública , Igualdade Racial e Relações Exteriores, buscando que autoridades espanholas sejam impelidas a atuar na responsabilização e punição dos culpados pelos crimes contra Vini Jr.;

8) O apoio ao Coletivo Canarinhos LGBTQIAP+, financiando a elaboração do Anuário da LGBTfobia no Futebol Brasileiro nas temporadas de 2022 e 2023;

9) A realização, em 2023, do inédito “Levantamento sobre a Diversidade no Futebol Brasileiro”, em parceria com a Nike e o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, que mapeou aspectos relacionados à diversidade racial, religiosa, de gênero, orientação sexual e origem de atletas, treinadores e árbitros de clubes participantes do Campeonato Brasileiro, no futebol masculino e feminino;

10) O Acordo De Cooperação com o Governo Federal, por intermédio do MJSP e MEsp, que prevê a implementação do “Projeto Estádio Seguro”, implantando os mais avançados sistemas de controle de público nas arenas para combater violência;

11) A contratação de consultoria especializada Travessia para a implementação do “Programa de Diversidade e Inclusão da CBF”, com o objetivo de elaborar um diagnóstico do ambiente corporativo, bem como planejar, executar e avaliar um amplo programa de diversidade e inclusão, incluindo a elaboração de políticas e mecanismos de prevenção e enfrentamento ao assédio moral e sexual, a realização letramentos e treinamentos específicos com colaboradores, a implementação de mecanismos de denúncias e intervenção precoce em casos de abuso ou assédio, bem como o monitoramento global e periódico do programa, recentemente ampliado para abranger treinamento também para todas as seleções brasileiras, masculinas e femininas;

12) O apoio da organização Futebol contra o Racismo na Europa, ou Football Against Racism in Europe (FARE Network), em reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela CBF;

13) A adesão ao programa FIFA Guardians para a implementação, em um futuro próximo, de programas e políticas de salvaguarda, prevenindo e coibindo quaisquer abusos ou assédios no âmbito do futebol organizado, por meio da atualização dos requerimentos do Programa de Licenciamento de Clubes e da Certificação de Clube Formador;

14) A Candidatura para Sediar a Copa do Mundo Feminina da FIFA 2027, que representa o maior projeto da atual gestão para promover a participação de mulheres no futebol, combater o machismo e desenvolver a modalidade.

As soluções aos problemas complexos e profundos que contaminam hoje o futebol não se encerram com essa lista de ações, mas a CBF espera, por meio dessas e outras iniciativas, contribuir não apenas para a melhoria do ambiente esportivo, mas de toda a sociedade.

Ednaldo Rodrigues"