Brasil

Amazônia e submarinos, receita para relançar a relação entre Brasil e França

Lula receberá Macron na tarde de terça-feira (26) em Belém, no Pará, para visita de três dias

Presidente da França, Emmanuel Macron, cumprimenta o cacique Raoni, em Paris - Divulgação/Presidência Francesa

Com sua primeira visita ao Brasil na próxima semana, o presidente francês Emmanuel Macron buscará, junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, relançar a relação bilateral por meio da Amazônia e dos submarinos, apesar de suas diferenças sobre a Ucrânia ou o acordo UE -Mercosul.

Lula, de 78 anos, receberá seu homólogo de 46 anos na tarde de terça-feira em Belém, no Pará, onde iniciará uma visita de três dias que o transferirá também ao Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

“Estamos vivendo um momento brasileiro”, afirmou a Presidência francesa, que estes “um sinal de grande importância” o fato de Macron ter dedicado três dias à sua primeira visita bilateral à América Latina.

O Brasil preside atualmente o grupo G20 de grandes economias e, em 2025, será o anfitrião da conferência sobre mudança climática COP30, em Belém. É também um membro-chave do grupo Brics+ de países emergentes.

A França, sétima maior economia do mundo, e o Brasil, a nona maior, também são considerados atores importantes em um cenário internacional marcado pela rivalidade entre China e Estados Unidos, razão pela qual também discutiram os "desafios globais".

“A França é um ator essencial, incontornável para a política externa brasileira”, segundo a chefe da diplomacia brasileira para a Europa, Maria Luisa Escorel de Moraes.

Paris vê Brasília como uma ponte com as “grandes nações emergentes”.

"Assunto Estratégico"
Ambos os países lançaram uma parceria estratégica em 2006, com os conservadores Jacques Chirac e Lula no poder, que arrefeceu a partir de 2016 com as sucessivas presidências de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Embora a cooperação comercial, educacional, cultural e militar tenha continuado, a última visita de um líder francês ao Brasil foi em 2013, com o socialista François Hollande. Lula passará para Paris em junho de 2023 após retornar ao poder.

"Onze anos sem uma visita presidencial é muita coisa. Até que ponto esta viagem vai marcar o retorno da política à relação bilateral?", questiona Gaspard Estrada, cientista político da universidade francesa Sciences Po e especialista em América Latina.

A indústria militar pode marcar a diferença. Ambos os países concordaram em 2008 em construir quatro submarinos franceses de propulsão convencional do tipo Scorpene na base naval brasileira de Itaguaí, no Rio de Janeiro, onde está prevista a inauguração do terceiro denominado "Tonelero".

O acordo, confiado ao Naval Group, prevê também a construção de um quinto submarino nuclear para o Brasil, mas sem transferência de tecnologia francesa relativa ao reator. Isso poderia mudar.

“Há conversas sobre a possibilidade de a França cooperar conosco inclusive nesse aspecto da energia nuclear”, disse Escorel de Moraes. “É um assunto estratégico, sensível e delicado”, aprendeu.

Para Estrada, "um anúncio nesse sentido por parte de Macron enviaria um sinal forte ao Brasil e a Lula". O presidente deverá visitar a base naval na quarta-feira, mas a Presidência francesa não fez nenhum anúncio.

- "Diferenças" e "convergência" -
Símbolo de suas coincidências na luta contra a mudança climática e a pobreza, Macron, que chegará ao território vizinho da Guiana Francesa, iniciará sua visita de Estado com Lula na Amazônia.

A transição ecológica é uma prioridade para o Brasil e a Estrada considerar que a França poderia defender seus investimentos neste setor como uma questão “estrutural” do relacionamento, diante de uma China que ganha espaço no setor energético brasileiro.

A França é o terceiro maior investidor no Brasil, atrás dos Estados Unidos e da Espanha, e Macron será acompanhado por uma grande delegação de empresários, incluindo líderes dos grupos Carrefour, Airbus e Naval Group.

Ao contrário da reforma consensual da governança global, o acordo comercial UE-Mercosul, ao qual a França se opõe atualmente, ainda "não está na agenda", segundo o Brasil. Paris espera discutir a guerra na Ucrânia.

Lula rejeitou a política de isolamento em relação à Rússia, mas Macron deixou de defender o diálogo com Moscou e não descartou o envio de tropas para apoiar a Ucrânia.

“Apesar das diferenças, é muito importante poder discutir” e depois “veremos quais elementos de convergência podem levar a agir em apoio à Ucrânia, que continua sendo a nossa prioridade absoluta”, assegurou a Presidência francesa.