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Por que os ovos de Páscoa estão tão caros neste ano? Entenda os motivos, que vêm lá de fora

No Brasil há ovos vendidos em até dez vezes e com adiantamento do FGTS, mas chocolate está caro no mundo todo por causa da disparada da cotação internacional do cacau, o que deve continuar

Ovos de Páscoa bem mais caros em 2024 - Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A Páscoa está chegando, e os consumidores estão assustados: por que os ovos de chocolate estão tão caros neste ano? Mas a aflição de quem vai às compras não é exclusividade do Brasil. O chocolate está mais caro em todo o mundo.

Os preços mais altos nas lojas refletem o aumento na cotação internacional do cacau em 2023. Desde então, o cacau mais que dobrou de preço já neste ano.

Apenas nas últimas três semanas, os preço dos grãos no atacado em Nova York aumentaram mais de 47%, ultrapassando US$ 8.900 por tonelada, um nível que antes parecia inimaginável.

Isso significa preços ainda mais altos para os consumidores, à medida que esses movimentos se refletem nos varejistas. No Reino Unido, os consumidores já estão pagando mais pelo chocolate e, às vezes, por uma embalagem menor que a de costume, um fenômeno conhecido como "reduflação".

Ovo parcelado no Brasil
Já no Brasil, os preços dos ovos de chocolate recentemente se tornaram um meme da internet quando algumas lojas anunciaram que as pessoas poderiam comprá-los parcelados ou usando parte de seu FGTS.

Em um supermercado em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, um cartaz diz: "Ovos de Páscoa em até dez vezes sem juros", chamando a atenção de muita gente.

Problema começou na África
O aumento recorde do preço do cacau é impulsionado por colheitas abaixo do esperado na Costa do Marfim e em Gana, que respondem pela maior parte da produção mundial.

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A indústria do cacau é composta principalmente por pequenos agricultores que costumam ter baixos retornos, tornando mais difícil investir em suas terras ou resistir a eventos climáticos extremos.

— O verdadeiro custo do chocolate não tem sido visto pelos consumidores há muito tempo — afirma Emily Stone, fundadora da revendedora de cacau especial Uncommon Cacao. — Preços baixos para os produtores e mudanças climáticas estão levando o mercado a essas alturas. Isso pode ser um choque para alguns, mas era previsível.

Na contramão da inflação
O aumento de preço também é um lembrete de que, embora as taxas de inflação geral estejam diminuindo ao redor do mundo, os aumentos súbitos em commodities individuais ainda podem apertar os consumidores. O chocolate pode ser visto mais como um luxo do que uma necessidade, mas marcas como Kit Kat e Snickers frequentemente fazem parte das cestas de compras semanais.

Os consumidores podem até ser mais sensíveis a esses aumentos de preços após o que passaram nos últimos anos, mas as lembranças do pico de inflação pós-pandemia, e dos danos que isso causou às finanças domésticas, ainda estão muito frescos.

— É realmente caro — disse a orientadora escolar Isabel Cristina Brandão ao pegar três pequenos ovos em uma loja de doces em São Paulo.

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Ela lembra que seu carrinho de compras costumava estar cheio há alguns anos:

— Agora pagamos mais, por muito menos.

Nos EUA, o preço unitário médio dos ovos de chocolate subiu 12% no último ano, segundo dados do NIQ. O custo de alguns ovos de Páscoa populares no Reino Unido subiu até 50%, segundo o grupo de consumidores Which?

Essas mudanças, no entanto, representam apenas uma pequena parte do colossal avanço do preço do cacau, já que os ingredientes-chave usados para fazer os produtos da Páscoa provavelmente foram comprados no quarto trimestre de 2023 ou antes, antes da commodity dobrar de preço neste ano.

A confeitaria é uma das categorias em que os consumidores dos EUA mais estão percebendo a reduflação, segundo uma pesquisa da YouGov deste mês. Por conta disso, os lares já estão reduzindo os agrados: 44% dizem comprar chocolate ou doces com menos frequência por causa da inflação, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Confeitaria dos EUA.

Alta é só o começo na cadeia do chocolate
E não há alívio à vista, já que a escassez de produção deve persistir na próxima temporada. Ou seja: mais dor está por vir quando o cacau for usado para os próximos feriados e datas especiais, como o Natal.

No início deste mês, o fabricante da Lindt disse que teria que aumentar os preços este ano e no próximo por causa do aumento nos custos de matéria-prima.

Embora algumas empresas possam ter estoques baratos para cobrir a produção dos próximos seis meses, elas optarão por aumentos de preços graduais em vez de chocar os clientes com aumentos abruptos, segundo Judy Ganes, presidente da J Ganes Consulting.

— Se você passar por um aumento de preço agora, poderá manter as operações e não precisará fazer um salto abrupto — disse ela.

Outras grandes fabricantes de chocolate também aumentaram os preços e deixaram a porta aberta para mais. O diretor financeiro da Mondelez, Luca Zaramella, sinalizou em fevereiro que aumentos são prováveis, enquanto a CEO da Hershey, Michele Buck, disse que a empresa permanece comprometida com a fixação de preços para cobrir a inflação.

Já a Nestlé disse que, embora tenha absorvido alguns custos mais altos, pode precisar fazer ajustes nos preços no futuro, dada a persistente alta dos preços do cacau.