Caso Marielle

Amigo que soube de plano da execução "tomando uísque" com Lessa foi morto 1 mês depois de Marielle

PF prendeu três suspeitos sob suspeita de encomendarem e planejarem o assassinato da vereadora, em março de 2018

Advogado André Luiz Fernandes Maia era amigo de ex-PM Ronnie Lessa - Reprodução

Autor da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o ex-policial militar Ronnie Lessa contou em sua delação premiada que pesquisou locais para cometer o crime, no Rio de Janeiro, enquanto bebia uísque com um amigo, o advogado André Luiz Fernandes Maia. O ex-PM afirmou aos investigadores que, naquela ocasião, estava "obcecado em encontrar uma alternativa viável" para a execução e, por isso, passou a estudar o endereço da Rua do Bispo, no Rio Comprido, "com afinco", enquanto estava na companhia do criminalista.

"Instado a se manifestar acerca do porquê ter pesquisado tal parâmetro [Rua do Bispo, 227] junto ao Google Maps, sendo certo que já tinha realizado o levantamento in loco da região, RONNIE asseverou que naquele dia 12 estava na companhia de seu amigo ANDRÉ LUIZ FERNANDES MAIA, vulgo DOUTOR PIROCA, tomando uísque e, obcecado para encontrar uma alternativa viável para a execução, passou a estudar o endereço da Rua do Bispo com afinco", afirma um dos documentos da investigação com referência às informações prestadas pelo ex-PM.

A pesquisa, feita no Google Maps, resultou "inócua", já que outra rota foi considerada mais "eficaz" pelos executores do assassinato. Marielle e Anderson foram mortos a tiros na Rua Joaquim Palhares, no Estácio, na noite de 14 de março de 2018. Quase um mês depois, em 12 de abril do mesmo ano, o advogado André Luiz Fernandes Maia foi assassinado a tiros no Anil, na Zona Oeste do Rio. O documento do caso Marielle não cita a morte do advogado, citada em primeira mão pelo Metrópoles e confirmada pelo Globo.

André Luiz Fernandes Maia saía de casa, na Rua Otávio Malta, quando foi rendido por dois homens numa moto. Os criminosos atiraram cerca de dez vezes contra a vítima. Parte dos disparos atingiu André no peito. Segundo os PMs do batalhão de Jacarepaguá disseram na ocasião, não houve anúncio de assalto por parte dos bandidos. Após atirarem, os criminosos fugiram. Na época, a Polícia Civil do Rio abriu uma investigação e passou a investigar a participação da milícia na morte.

Além de morar no Anil, André Luiz mantinha um escritório de advocacia no mesmo bairro, segundo o Cadastro Nacional dos Advogados (CNA). Um dos seus clientes, de acordo com processo no site do Tribunal de Justiça do Rio, era Moisés da Silva Fernandes, da Associação das Escolas de Samba da cidade do Rio de Janeiro. Ele também defendia o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Anil.

André Luiz já tinha sido condenado, em julho de 2014, pelo crime de coação no curso do processo. Ele recebeu uma pena de um ano de prisão em regime aberto. Em outra ação, na qual respondia por furto e coação no curso do processo, o advogado foi absolvido. Quando foi morto, ele respondia pelos crimes de ameaça e estelionato.

Assassino confesso, Lessa fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Ele apontou os irmãos Brazão — Chiquinho, atual deputado federal, e Domingos, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro — como mandantes do assassinato. Os dois foram presos neste domingo, assim como o então chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa, acusado de planejar "meticulosamente" o crime e sabotar as investigações para garantir a impunidade.

O relatório da investigação da PF diz que "inexistem dúvidas" sobre motivação dos irmãos Brazão para assassinato de vereadora. No despacho que autorizou a prisão da dupla, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes afirmou que a "divergência política em relação à regularização fundiária de condomínios da Zona Oeste do Rio" está pro trás do crime.