CASO MARIELLE

'Posso ter sido ludibriado', diz general que nomeou delegado preso por planejar morte de Marielle

Rivaldo Barbosa assumiu comando da Polícia Civil do Rio um dia antes de execução e atuou, segundo a PF

Vereadora Marielle Franco - Marcelo Freixo/Wikimedia Commons

Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro à época do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o general Richard Fernandez Nunes afirmou que "pode ter sido ludibriado" para nomear Rivaldo Barbosa como chefe da Polícia Civil do estado. O delegado assumiu o comando do órgão um dia antes das mortes e foi preso, neste domingo, por suspeita de planejar "meticulosamente" a execução e sabotar as investigações.

Caso Marielle: Os nomes por trás do plano para matar a vereadora e encobrir o crime
Entenda: Por que Lessa decidiu delatar quem foram os dois mandantes das mortes de Marielle e Anderson
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Richard Nunes afirmou ter ficado "perplexo" com a prisão e a descrição do envolvimento de Rivaldo Barbosa no caso.

"Lógico que essa prisão me deixou perplexo. Como é que pode um negócio assim? É impressionante. É um negócio de deixar de queixo caído. Naquela época, não havia nada que sinalizasse uma coisa dessas, uma coisa estapafúrdia" disse o general à Folha.

Rivaldo Barbosa foi indicado para ocupar a secretaria de Polícia Civil uma semana antes do assassinato e tomou posse na véspera do crime. Quem assinou sua promoção — Barbosa ocupava então a chefia da Delegacia de Homicídios — foi o general Walter Braga Netto, interventor da área de Segurança Público do Rio durante o governo Michel Temer.

A pessoas próximas, Braga Netto vem tentando se desvincular da escolha. O argumento apresentado pelo ex-ministro, como destacou a colunista do GLOBO Bela Megale, é o de que as seleções e indicações para as nomeações feitas na Polícia Civil do Rio eram, exclusivamente, realizadas por Richard Nunes. O relatório da Polícia Federal mostra que o general Nunes "bancou a nomeação de RIVALDO à revelia do que havia sido recomendado".

"Eu nunca percebi, e eles até acham que me ludibriaram. Eu posso ter sido ludibriado, como a sociedade inteira, né? A sociedade inteira foi ludibriada" afirmou Nunes à Folha.

O general disse que, após a abertura das investigações, havia "elementos para achar" que Rivaldo Barbosa e o delegado Giniton Lages (primeiro responsável pela apuração na Delegacia de Homicídios) estavam no "caminho correto" para a elucidação do caso. Como exemplo, Nunes citou a prisão dos executores do crime, em 2019.

De acordo com a PF, diante da pressão pública pela solução dos assassinatos, Ronnie Lessa e outros cúmplices foram "entregues" por Rivaldo Barbosa para preservar os irmãos Brazão, apontados pelo ex-political militar, em delação, como mandantes e contratantes da morte de Marielle. Investigado, Giniton Lages foi afastado das funções na polícia e terá de usar tornozeleira eletrônica.

"Agora eu estou lendo que ele [Giniton] enrolou aqui e enrolou lá. Mas na época não era perceptível" disse Nunes.

Um mês antes do assassinato, Marielle Franco criticou a nomeação de Richard Nunes para a Secretaria de Segurança Pública. O general comandara uma operação do Exército no Complexo da Maré, onde ela cresceu e firmou berço político.