Kremlin se recusa a comentar reivindicação do EI sobre ataque em Moscou
Massacre matou 137 pessoas durante um show, no Crocus City Hall
O Kremlin recusou-se a comentar, nesta segunda-feira (25), a reivindicação do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) sobre o ataque durante um show em Moscou, no qual 137 pessoas morreram, enquanto a investigação está em curso.
O presidente russo, Vladimir Putin, e os seus serviços de segurança, o FSB, não mencionaram o envolvimento jihadista neste fim de semana e apontaram para a pista ucraniana, negada por Kiev e pelos governos ocidentais.
O presidente russo, que fez apenas um breve discurso no sábado, tem na agenda de terça-feira uma reunião com autoridades políticas e de segurança.
No entanto, ele não planeja visitar o complexo Crocus City Hall, palco do pior ataque na Rússia em vinte anos e o mais mortal reivindicado pelo EI em solo europeu.
Perguntas sem resposta
Três dias depois da tragédia, restam muitas perguntas sem resposta, em particular sobre a identidade e os motivos dos quatro principais suspeitos.
Os quatro indivíduos, ao menos um deles do Tadjiquistão, país da Ásia Central, foram colocados sob custódia até 22 de maio e enfrentam a pena de prisão perpétua.
Depois de uma breve audiência, outros três suspeitos foram colocados sob custódia nesta segunda-feira até a mesma data.
Segundo a agência de notícias Ria Novosti, trata-se de um pai e dois filhos, um deles nascido no Tadjiquistão com nacionalidade russa.
As autoridades russas anunciaram no sábado a prisão de um total de onze pessoas.
A nacionalidade tadjique confirmada de ao menos um dos agressores levou o presidente do país, Emomali Rakhmon, a pedir nesta segunda-feira "aos pais que mais uma vez prestem ainda mais atenção na educação de seus filhos", segundo as agências russas.
"Investigação em curso"
Questionado pela imprensa sobre a investigação, o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov, não deu mais detalhes.
"A investigação está em andamento e a administração presidencial estaria equivocada em comentar sobre o andamento da investigação", disse ele.
O grupo Estado Islâmico (EI), contra o qual a Rússia luta na Síria e que atua no Cáucaso russo, assumiu a responsabilidade pelo ataque, mas as autoridades russas afirmam que após o ataque os supostos agressores tentaram fugir para o território ucraniano.
A Ucrânia, que luta contra uma ofensiva das tropas russas desde fevereiro de 2022, negou qualquer "ligação com o incidente".
Os Estados Unidos também rejeitaram a versão do presidente russo.
No Crocus City Hall, os investigadores retiraram "90% dos destroços" da casa de shows, devastada por um gigantesco incêndio iniciado pelos agressores, informou o Ministério de Situações de Emergência, citado pela agência TASS.
O número de feridos subiu para 182, dos quais 97 permaneciam hospitalizados nesta segunda-feira, segundo as autoridades.
Dmitri Peskov também não quis comentar as denúncias de tortura dos suspeitos, que nos vídeos e fotos publicados nas redes sociais aparecem com os rostos ensanguentados. Em outro vídeo, cuja autenticidade não foi confirmada, uma pessoa fora das câmeras é vista cortando a orelha do que parece ser um dos suspeitos.
Durante a audiência dos suspeitos em um tribunal de Moscou, no domingo à noite, um deles tinha uma faixa branca na orelha e outro chegou em uma cadeira de rodas, com os olhos fechados.
"Impotência" e "fracasso"
Leonid Volkov, uma figura da oposição russa no exílio, disse nesta segunda-feira que a publicação destes vídeos é uma tentativa dos serviços de segurança russos "de desviar a atenção da sua impotência e fracasso".
O ataque é um grave revés para Vladimir Putin, que prometeu segurança, em meio a uma intensificação dos ataques ucranianos em solo russo.
O ataque ocorre poucos dias depois de sua reeleição como presidente, sem uma oposição de fato, pelos próximos seis anos.
Segundo Peskov, a luta contra o jihadismo "requer plena cooperação internacional", mas "não existe de fato".
O presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu ter proposto "maior cooperação" a Moscou, indicando que o ramo do EI "envolvido" no ataque de sexta-feira realizou "várias tentativas" em solo francês nos últimos meses.