Lollapalooza

Oruam recebe apoio de rappers após "desabafo" sobre pedido de liberdade para o pai

Orochi sai em defesa do colega, filho do traficante Marcinho VP, após polêmica iniciada em show no Lollapalooza, em São Paulo

Rapper Oruam pediu 'liberdade' ao pai, Marcinho VP, durante show no Lollapalooza ao lado de TZ da Coronel - Reprodução/Instagram

Filho de Marcinho VP — traficante preso desde 1996, quando ainda tinha 26 anos, no Rio de Janeiro —, o cantor Oruam recebeu apoio de colegas famosos, nesta segunda-feira (25), depois de fazer um "desabafo" sobre a relação distanciada que tem com o pai. No último domingo (24), o rapper de 23 anos subiu ao palco do Lollapalooza, em São Paulo, com uma camiseta pedindo pela liberdade da figura paterna. Desde então, ele se tornou alvo de críticas de milhares de fãs nas redes sociais.

Após a repercussão negativa do caso, o cantor explicou que sua manifestação no festival de música representava "só um desabafo de um 'menor' que cresceu sem ter o seu pai perto", como escreveu por meio do Instagram. "Meu pai errou, mas está pagando pelos seus erros e com sobra. Não tentem tirar de uma pessoa o direito de reivindicar condições melhores para o seu pai, e nem de quer vê-lo em liberdade", ressaltou Oruam, em post no Instagram. A publicação, no entanto, atraiu mais críticas.

"Ele fala como se o pai tivesse sido preso injustamente", afirmou um seguidor do rapper. "Se não tivesse feito coisas erradas, estava solto", escreveu outro internauta. "Quantas vítimas seu pai fez chorar e faz ainda... Pense nisso", acrescentou outra pessoa, em recado para Oruam.

Por outro lado, rappers saíram em defesa do colega, reforçando que ele está somente relatando uma história pessoal que marcou permanentemente sua vida. "A realidade é que as pessoas só querem ter a razão e uma visibilidade qualquer em comentários com curtida. Ninguém fala alguma coisa com finalidade. Ninguém vê que é apenas uma pessoa com saudade do pai, mas também ninguém precisa te entender. Apenas aturar ou surtar!", escreveu o rapper Orochi, em comentário na publicação.

Em outro comentário, Orochi acrescentou: "Te amo, irmão. Internet é terra de ninguém. Você é fod*, sua homenagem para seu pai foi lindo de se ver e nós vamos te apoiar sempre". O rapper MC Copinho também demonstrou apoio para o colega: "Parabéns, irmão. Deus no controle. Tudo já deu certo. Que amor lindo".

Oruam já havia usado a camiseta que gerou a polêmica — pedindo a liberdade do pai, o traficante Marcinho VP — durante a comemoração de seu aniversário, em março deste ano, quando convocou um "rolêzinho" com dezenas de motociclistas e queimas de fogos, e que passou por várias regiões da cidade durante a noite do dia 1º daquele mês.

Oruam tem 23 anos. Portanto, desde que nasceu, nunca teve convívio com o pai fora dos portões das penitenciárias. Marcinho VP está preso desde 1996, quando tinha apenas 26 anos de idade. Apesar de ter passado mais tempo de vida do lado de dentro das grades do que fora delas, isso não impediu que, mesmo encarcerado, ele virasse ao lado de Fernandinho Beira-Mar um dos principais chefes da maior facção do estado, o Comando Vermelho.

Nascido em Vigário Geral, na Zona Norte carioca, Marcinho VP mudou-se ainda bebê para São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O pai foi assassinado pouco depois, e a mãe foi presa quatro vezes, fazendo com que ele e os três irmãos fossem criados por uma tia.

Num livro de memórias escrito na cadeia , o criminoso conta que começou a roubar aos 13 anos, "para comprar roupas de marca". A ascensão no mundo do crime veio rápido, e ele logo se transformou no "dono" do Complexo do Alemão, conjunto de favelas na Zona Norte da capital fluminense e um dos interpostos de droga mais importantes do Rio.

As condenações de Márcio, por tráfico de drogas e por homicídios, somam 44 anos de prisão. Um dos crimes creditados a ele é a morte do comparsa Márcio Amaro de Oliveira, curiosamente também conhecido como Marcinho VP. Amaro foi encontrado estrangulado numa lata de lixo no presídio de Bangu 3. A execução teria sido motivada por entrevistas dadas pelo bandido revelando detalhes do funcionamento do tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

Em relato publicado nas redes sociais, Oruam afirmou que só é autorizado a ver o pai uma vez por mês, através de um vidro, sem nenhum contato físico. "Minha vida é assim desde que sou uma criança, não tenho uma foto sequer com meu pai e muito menos tive o prazer de desfrutar de coisas simples com meu pai. A cadeia deveria servir para ressocializar e não para torturar", reivindicou ele.

"Só queria que (meu pai) pudesse cumprir pena digna e saísse de cabeça erguida. Que quando chegue sua hora, você possa ter sua liberdade! E que todo o estado realmente deixe você viver como é de direito, afinal, todos sabem que você já pagou por sua pena", acrescentou o jovem, em post no Instagram.