"Rosto de Ozempic": quais são os efeitos colaterais oficiais e relatados nas redes?
Medicamento proporciona rápida perda de peso, mas pode provocar náuseas, diarreias, vômitos e mudanças indesejadas na aparência
Nessa semana, viralizou nas redes sociais o termo “cabeça de Ozempic” em referência a um suposto efeito colateral do uso da semaglutida, princípio ativo do medicamento que tem sido amplamente utilizado para a perda de peso. Internautas apontaram que algumas pessoas teriam ficado com a cabeça desproporcionalmente maior ao restante do corpo após o rápido emagrecimento, que teria sido proporcionado pelo remédio.
Mas afinal, quais são os efeitos colaterais oficiais do Ozempic – que, embora seja indicado para diabetes tipo 2, é utilizado de forma off label (finalidade diferente da bula) para redução do peso – e de medicamentos semelhantes, como o Mounjaro, o Saxenda e o Wegovy?
Todos têm uma atuação semelhante no organismo: simulam um hormônio do corpo chamado GLP-1. No cérebro, essa ação ativa a saciedade. No estômago, reduz a velocidade da digestão da comida. Em conjunto, esses mecanismos fazem com que o indivíduo sinta menos fome e perca peso.
No entanto, justamente por atuarem no sistema digestivo e interferirem na alimentação, os principais efeitos colaterais observados nos estudos desses remédios foram os gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreias, dores abdominais e constipação.
Na bula do Ozempic, a fabricante Novo Nordisk alerta que “esses efeitos colaterais podem causar desidratação (perda de líquidos)" e reforça que "é importante que você beba muito líquido para evitá-la”. Porém, as reações mais comuns costumam ser passageiras e desaparecerem ao longo do tratamento.
Ao todo, os efeitos listados como muito comuns (ocorrem em mais de 1 a cada 10 pacientes) pela bula do Ozempic foram náuseas e diarreias. Já os comuns (em até 1 a cada 10 pacientes) foram:
vômito;
baixa glicemia (hipoglicemia) quando Ozempic® é utilizado com outro medicamento antidiabético;
indigestão;
inflamação do estômago (“gastrite”) – os sinais incluem dor de estômago, sensação de enjoo (náusea) ou vômito;
refluxo ou azia – também chamado de “doença do refluxo gastroesofágico” (DRGE);
dor no abdômen;
inchaço do abdômen;
constipação;
arrotos;
cálculo biliar;
sensação de tontura;
sensação de cansaço;
perda de peso;
perda de apetite;
gases (flatulência);
aumento de enzimas pancreáticas (como lipase e amilase).
A bula mostra ainda que efeitos incomuns, ou seja, que podem afetar até 1 a cada 100 pacientes, são:
Alteração no gosto de alimentos ou bebidas;
Pulso rápido;
Reações no local da injeção – como hematoma, dor, irritação, coceira e erupção cutânea.
Há ainda os riscos apontados de efeitos adversos graves. É importante lembrar que todo medicamento tem uma relação de risco e benefício, e que o Ozempic, assim como o Mounjaro, o Wegovy e o Saxenda, foram aprovados pelas agências reguladoras, como a FDA, nos EUA, e a Anvisa no Brasil, após análise dessa relação.
Uma dessas reações foram complicações da doença do olho diabético (retinopatia). Além disso, foram relatados inflamação de pâncreas (pancreatite aguda), que pode causar dor intensa no estômago e nas costas, e reações alérgicas graves, com risco de anafilaxia. Em caso de qualquer efeito colateral, é importante buscar o acompanhamento médico.
Quais outros efeitos colaterais do Ozempic têm sido observados?
Outros efeitos têm sido observados após a comercialização, porém não foram incorporados à lista oficial de possíveis reações adversas dos medicamentos. No ano passado, um grande estudo publicado ontem na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA) analisou a classe de medicamentos e a comparou com outro fármaco utilizado para perda de peso, a bupropiona-naltrexona.
Os resultados indicaram um risco quatro vezes maior de paralisia estomacal, um risco nove vezes maior de pancreatite (inflamação do pâncreas) e um risco quatro vezes maior de obstrução intestinal - ainda que as notificações do tipo tenham sido raras.
"Dado o uso generalizado desses medicamentos, esses efeitos adversos, embora raros, devem ser considerados pelos pacientes que consideram usá-los para perda de peso”, disse Mohit Sodhi, principal autor do estudo e pesquisador de medicina da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, em comunicado na época.
"Ozempic face"
Além disso, há aqueles efeitos mais aparentes que são relatados nas redes sociais, que incluem a perda rápida de peso que causa a "face, dedo e bumbum de Ozempic", marcados pela aparência flácida.
A “face Ozempic”, “Ozempic face” ou "rosto de Ozempic", que ganhou mais repercussão, faz referência a aparência “chupada” e por vezes envelhecida que alguns pacientes podem apresentar no rosto devido à rápida perda de gordura na região.
No entanto, em relação a estes últimos, a Novo Nordisk diz em nota que eles "não são considerados efeitos adversos" por não serem relacionados ao fármaco, mas sim ao emagrecimento, "tratando-se de consequência natural da perda de peso, como a que ocorre em qualquer tipo de tratamento, até mesmo com a cirurgia bariátrica''.