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Estudo mostra que cães treinados conseguem farejar momentos antes de um flashback de trauma

Cachorros podem detectar episódios em pessoas com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

Pesquisadores descobrem que cães treinados conseguem farejar flashback de trauma - Freepik

Os cachorros são conhecidos por seu nariz sensível e habilidade de ler o comportamento humano com precisão. Eles conseguem detectar minutos antes quadros médicos como uma convulsão iminente ou hipoglicemia repentina. Uma nova pesquisa publicada na revista acadêmica Frontiers in Allergy, mostrou que cães-guia conseguem farejar um flashback de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) antes mesmo dele acontecer.

“Os cães de serviço com TEPT já são treinados para ajudar as pessoas durante episódios de sofrimento. No entanto, os cães são atualmente treinados para responder a sinais comportamentais e físicos. Nosso estudo mostrou que pelo menos alguns cães também podem detectar esses episódios através da respiração”, afirma a primeira autora do artigo, Laura Kiiroja, da Universidade de Dalhousie, no Canadá.

O transtorno consiste em em reações disfuncionais intensas, desagradáveis e disfuncionais que ocorrem após um evento extremamente traumático. Os sintomas relacionados a ele incluem reviver aquele evento catastrófico, hiperexcitação, evitar quaisquer lembretes, além de problemas cognitivos ou de humor.

Entre outras formas de assistência, os cães podem ajudar os pacientes, alertando e interrompendo episódios quando seus companheiros estão lutando contra os sintomas. A pesquisa propõe que se os cachorros treinados conseguissem responder aos marcadores de stress na respiração, poderiam potencialmente interromper os episódios numa fase mais precoce, tornando as intervenções mais eficazes.

Como essa detecção dos cães funciona?
Todos os humanos têm um “perfil olfativo” de compostos orgânicos voláteis (COV), moléculas emitidas pelo corpo em secreções como o suor, influenciado pela genética, idade, atividades e outras variáveis. Existem algumas evidências de que os cães são capazes de detectar COV ligados ao estresse humano.

Para o estudo, foram chamados 26 participantes com diagnóstico do transtorno, que doaram seus perfumes. Eles participaram de sessões onde foram relembrados de suas experiências traumáticas enquanto usavam diferentes máscaras. Uma máscara forneceu uma amostra de respiração calma que funcionou como controle, e outra, que foi usada enquanto os participantes relembravam seu trauma, forneceu uma amostra de respiração alvo. Os participantes também preencheram um questionário sobre seus níveis de estresse e emoções.

Enquanto isso, os cientistas recrutaram 25 cães de estimação para treinar na detecção de cheiros. Apenas duas eram qualificadas e motivadas o suficiente para concluir o estudo: Ivy e Callie.

Ivy e Callie foram treinadas para reconhecer o odor alvo de pedaços das máscaras, alcançando 90% de precisão na diferenciação entre uma amostra estressada e uma amostra não estressada. Elas foram então apresentadas a uma série de amostras, uma amostra de cada vez, para ver se ainda conseguiam detectar com precisão os momentos de estresse. Neste segundo experimento, Ivy alcançou 74% de precisão e Callie alcançou 81% de precisão.

“Embora ambas tenham tido um desempenho muito preciso, elas pareciam ter uma ideia ligeiramente diferente do que consideravam uma amostra de hálito estressado. Especulamos que Ivy estava sintonizada com os hormônios do eixo simpático-adreno-medular (como a adrenalina) e Callie era orientada para os hormônios do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (como o cortisol), o início dos sintomas de TEPT requer sensibilidade aos hormônios do eixo simpático-adreno-medular", explicou Kiiroja.