María Corina Machado agradece a Lula por críticas à Venezuela e pede apoio internacional à candidata
Líder opositora quer maior pressão internacional sobre o governo Maduro para que permita inscrição de Corina Yoris na eleição presidencial de julho
A líder opositora venezuelana María Corina Machado, impedida de concorrer na eleição presidencial de julho, fez um agradecimento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelas críticas ao veto imposto à candidatura de Corina Yoris, nome apresentado pela oposição para a disputa com Nicolás Maduro. Na véspera, Lula afirmou que o veto era “grave”, uma vez que Yoris “não foi proibida pela Justiça”.
“Agradeço aos presidentes [da França,] Emmanuel Macron, Lula e [da Colômbia,] Gustavo Petro por suas posições nas últimas horas que reafirmam que nossa luta é justa e democrática”, disse María Corina no X, o antigo Twitter. “Enquanto vemos que a preocupação internacional aumenta, faço um chamado para que os líderes democráticos do mundo se unam aos esforços de presidentes e governos ao exigir do regime de Maduro que permita a inscrição de Corina Yoris como candidata nas próximas eleições presidenciais.”
Diante da inabilitação de María Corina por 15 anos, mesmo destino reservado a outros oposicionistas, como Henrique Capriles, a oposição decidiu centrar seus esforços em Yoris, professora universitária que esperava herdar alguns dos votos dos oposicionistas e insatisfeitos com Nicolás Maduro, que busca um terceiro mandato.
Mesmo sem pendências judiciais, ela não conseguiu se inscrever na disputa por conta de supostas “falhas técnicas”. Além de Maduro, o governador de Zulia, Manuel Rosales, estão na disputa. Para Lula, o veto foi um episódio “grave”.
— É grave que a candidata não possa ter sido registrada. Ela não foi proibida pela Justiça. Me parece que ela se dirigiu até o lugar e tentou usar o computador e não conseguiu entrar. Foi uma coisa que causou prejuízo à candidata — afirmou o presidente brasileiro, ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, em Brasília. — O dado concreto é que não tem explicação jurídica, política, proibir um adversário de ser candidato. Aqui no Brasil é proibido proibir a não ser que tenha uma punição judicial e que (o processo) garanta o direito de defesa das pessoas prejudicadas.
Na mensagem desta sexta-feira, María Corina reiterou que não há motivos para barrar Yoris.
“Ficou claro que não há razões políticas ou jurídicas que impeçam Corina Yoris de ser candidata, e sua exclusão, como a minha, nega a possibilidade de eleições livres e justas”, escreveu a oposicionista. “Pedimos a todos os líderes democráticos do mundo seu apoio à plena implementação do Acordo de Barbados, firmado há apenas dois anos, para realizarmos eleições livres e justas na Venezuela.”
A citação de María Corina a Lula, a quem no passado chegou a criticar pelo que percebia ser um apoio total ao governo de Maduro, veio depois de uma mudança de postura dentro do governo brasileiro que começou a ser externada na terça-feira, com uma nota do Itamaraty dizendo que o Brasil acompanha “com expectativa e preocupação” o processo eleitoral no país.
O texto, que não citava Lula, foi recebido com uma nota dura da Chancelaria venezuelana, afirmando que a declaração brasileira era carregada “ingerência e parece ter sido escrita pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde são emitidos comentários com profunda ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.
Na quinta-feira, ao lado de Macron, que também condenou o veto à candidata oposicionista, Lula mencionou explicitamente o caso, criticando a forma como Corina Yoris foi excluída da eleição, pelo menos até o momento. Além de cálculos diplomáticos, a mudança de postura pode ter motivações internas: segundo levantamentos do Planalto, a defesa de Maduro tem desgastado a imagem do presidente, especialmente as relacionadas à democracia no país.
Citado por María Corina, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, criticou indiretamente Maduro na terça-feira, dia em que foi confirmado o veto Corina Yoris. Ao responder uma postagem do presidente venezuelano na qual acusou governos da “esquerda covarde” de não condenarem supostas tentativas de atentado contra ele, citou Hugo Chávez, morto em 2012, e defendeu a democracia.
“Não existe esquerda covarde, existe a probabilidade de, através do aprofundamento da democracia, mudar o mundo. A magia de Chávez foi propor democracia e mudança no mundo. A revolução de hoje é: transformar o mundo através do aprofundamento da democracia”, escreveu Petro, que integra o “bloco” de presidentes de esquerda na América Latina.