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Casa da presidente do Peru é alvo de buscas em investigação sobre relógios de luxo

Agentes apuram suposto enriquecimento ilícito de Dina Boluarte

A presidente do Peru, Dina Boluarte, durante pronunciamento nesta terça-feira - Cris Bouroncle / AFP

As autoridades peruanas entraram na casa da presidente Dina Boluarte, na madrugada deste sábado, no âmbito de uma investigação por suposto enriquecimento ilícito. A operação foi desencadeada depois que uma TV local revelou, este mês, que a mandatária usara joias da marca Rolex em público desde 2021 sem que as tivesse declarado como parte do seu patrimônio.

Segundo um documento policial, cerca de 40 agentes e procuradores intervieram na investigação "para revistar a casa e apreender os relógios Rolex" cuja origem e aquisição Boluarte não especificou.

Desde 18 de março, a presidente peruano é investigada pelo suposto crime de enriquecimento ilícito e omissão de declarações patrimoniais em documentos públicos.

O caso surgiu a partir de uma denúncia jornalística sobre uma suposta coleção de relógios de última geração que a presidente não havia incluído entre seus bens.

A ação conjunta do Ministério Público e da polícia foi transmitida pela emissora de televisão local Latina. Nas imagens, agentes cercam a casa localizada no bairro de Surquillo, no Leste de Lima, e fazem uma barreira humana para impedir o trânsito de veículos nos arredores. A operação na casa "é para fins de busca e apreensão", disse a polícia.

A intervenção foi autorizada pelo Supremo Tribunal de Investigações Preparatórias, presidido pelo juiz Juan Carlos Checkley, após pedido da Procuradoria-Geral.

A operação foi realizada depois que o Ministério Público não aceitou que a presidente pedisse o reagendamento de uma diligência marcada para o início da semana em que ela mostraria os relógios e seus recibos de compra.

Se for acusada neste caso, a presidente não poderá ser julgada até julho de 2026, quando termina o seu mandato, conforme estabelece a Constituição do país. Enquanto isso, ela pode ser investigada.

O escândalo, porém, pode levar a um pedido de vacância (demissão) de Boluarte no Congresso, sob alegação de "incapacidade moral". Para que isso aconteça, os grupos de direita que controlam o Parlamento unicameral e são a base política da mandatária devem apoiar grupos minoritários de esquerda, numa aliança difícil de alcançar.

Presidente não estava em casa
Os promotores que entraram na casa de Dina Boluarte não prestaram declarações às dezenas de jornalistas estacionados do lado de fora e que reportavam ao vivo da rua o andamento da operação.

Segundo a imprensa local, a presidente não estava em casa. Não se sabe se ela estava no seu gabinete no Palácio do Governo. A Presidência peruana ainda não se manifestou sobre as buscas.



O escândalo eclodiu devido a uma reportagem do programa jornalístico "La Encerrona", exibida em meados de março. A atração revelou que Boluarte utilizou vários relógios da marca de luxo Rolex em atividades oficiais desde que se tornou vice-presidente do governo do ex-presidente Pedro Castillo e ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social em 2021.

O período analisado pelo programa vai até dezembro de 2022, mês em que ela assumiu a Presidência.

Após a reportagem, Boluarte destacou que se trata de um relógio "de antigamente" e que é produto do seu "esforço", já que trabalha desde os 18 anos.

— Entrei no Palácio do Governo com as mãos limpas e sairei com as mãos limpas, como prometi ao povo peruano — declarou Boluarte, de 61 anos, na semana passada.

Em decorrência do escândalo, a Controladoria da República anunciou que iria rever mais uma vez as declarações patrimoniais que Boluarte apresentou nos últimos dois anos em busca de eventual desequilíbrio patrimonial.