Obesidade infantil é ligada a risco 2,3 vezes maior de desenvolver uma doença, aponta novo estudo
Cientistas suecos encontraram ligação entre o excesso de peso de crianças e adolescentes e uma maior incidência de casos de esclerose múltipla
A obesidade infantil é associada a um risco aumentado de uma série de doenças, como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, colesterol alto, problemas cardíacos, entre muitas outras. Agora, um novo estudo identificou que o excesso de peso em crianças e adolescentes está ligado também a uma chance mais de duas vezes maior de desenvolver esclerose múltipla, distúrbio que leva o próprio sistema imunológico a atacar o sistema nervoso central.
O trabalho, conduzido por pesquisadores do prestigiado Instituto Karolinska, na Suécia, será apresentado no Congresso Europeu de Obesidade, em Veneza, na Itália, em maio. Para identificar a associação, os responsáveis analisaram dados de 21.661 pacientes de 2 a 19 anos inscritos no Registro de Tratamento da Obesidade Infantil Sueca (BORIS) entre 1995 e 2020.
As informações foram comparadas com as de uma coorte de 102.230 indivíduos saudáveis da população geral. Os jovens foram acompanhados por uma média de seis anos. Durante o período, 28 pessoas do grupo com obesidade (0,13% do total) desenvolveram esclerose múltipla. Já entre os demais, esse número foi de 58 (0,06% do total). A idade média no diagnóstico foi de 23,4 anos no primeiro grupo, e 22,8 anos, no segundo.
Após ajustar a análise para fatores como o risco hereditário, os cientistas chegaram à conclusão de que a chance de um jovem com obesidade desenvolver esclerose múltipla foi 2,3 vezes maior do que indivíduos dentro do peso ideal para a idade. Em comunicado sobre o trabalho, os autores destacaram a relevância do achado.
"Apesar do tempo limitado de acompanhamento, nossas descobertas destacam que a obesidade na infância está associada a um aumento de mais de duas vezes na suscetibilidade à esclerose múltipla de início precoce. Como a obesidade pediátrica é prevalente, é provável que ela seja um contribuinte etiológico fundamental para o aumento da prevalência da esclerose múltipla”, disseram.
Além disso, apontaram que a obesidade pediátrica “está associada a várias doenças autoimunes”, caso da esclerose múltipla, e que “a principal hipótese é que o estado inflamatório persistente de baixo grau, normalmente observado na obesidade, esteja mediando essa associação”.
Por isso, defendem que “a compreensão dessas vias é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e intervenção direcionadas para normalizar o risco de esclerose múltipla em crianças e adolescentes com obesidade”.
Acrescentam que “há vários estudos que mostram que a esclerose múltipla aumentou ao longo de várias décadas” e que o novo estudo confirma a teoria de que a obesidade é um dos principais fatores por trás desse crescimento.
Mas, ainda que os resultados sejam significativos, eles não significam que pais de crianças e adolescentes com obesidade devam se preocupar mais com a possibilidade de esclerose múltipla do que de outras doenças.
“Embora o risco de esclerose múltipla seja mais que o dobro entre crianças e adolescentes com obesidade, o risco absoluto de esclerose múltipla permanece menor do que o de muitas outras comorbidades associadas à obesidade”, ressaltam os autores do estudo.