Argentina e Colômbia anunciam retorno de embaixador a Buenos Aires após tensão diplomática
Presidente da Colômbia expulsou, na semana passada, diplomatas de Bogotá após ser chamado de "assassino terrorista" pelo homólogo argentino em uma entrevista
Os Ministérios das Relações Exteriores da Colômbia e da Argentina anunciaram no domingo (31) que o embaixador colombiano, Camilo Romero, retornará a Buenos Aires. A decisão acontece após um confronto diplomático entre os dois países, no qual Bogotá ordenou a expulsão de diplomatas da Embaixada da Argentina devido aos insultos proferidos pelo presidente Javier Milei contra seu homólogo colombiano, Gustavo Petro.
Em um comunicado conjunto, divulgado no X (antigo Twitter), as chancelarias anunciaram que o "governo colombiano deu instruções para que o embaixador Camilo Romero retorne a Buenos Aires" e que, por sua vez, o governo da Argentina "anunciou a visita à Colômbia da sua chanceler, Diana Mondino", mas sem especificar uma data. A expulsão dos diplomatas argentinos, que não chegou a ser citada no texto, também foi suspensa.
Os dois governos, acrescentou a nota, mostraram interesse na adoção de "passos concretos para superar qualquer divergência e fortalecer a relação". O comunicado também garante que o governo colombiano concedeu a credencial ao novo embaixador argentino na Colômbia proposto pelo governo Milei, cujo nome ainda não foi divulgado. Desta forma, os dois governos "ratificam a importância de manter boas relações e a vontade de estreitar os laços bilaterais", concluiu o texto.
Os países se pronunciaram após o presidente colombiano, Gustavo Petro, ter decidido na quarta-feira passada expulsar vários diplomatas da embaixada da Argentina em Bogotá, depois de Milei tê-lo chamado de "terrorista" e "assassino" em uma entrevista, exibida pela rede americana CNN. Ao apresentador, o presidente argentino afirmou, em referência a Petro: "Não se pode esperar muito de alguém que era um assassino terrorista".
A frase irritou o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia, que repudiou o insulto e salientou que "as declarações do presidente argentino deterioraram a confiança de nossa nação, além de ofenderem a dignidade do presidente Petro, que foi eleito democraticamente". Logo depois, o presidente colombiano ordenou a expulsão de diplomatas da embaixada argentina em Bogotá.
Petro militou durante 12 anos no M-19, uma guerrilha nacionalista de origem urbana, antes de assinar a paz em 1990 e ingressar na política. Em agosto de 2022, ele chegou ao poder como o primeiro presidente de esquerda da Colômbia.
Pé no freio
As relações com a Argentina têm sido historicamente estáveis, mas nunca foram particularmente estreita. Não só porque estão em extremos opostos da América do Sul, mas por decisões diplomáticas, como quando o país andino se absteve de apoiar Buenos Aires na guerra das Ilhas Malvinas.
Contudo, esses laços têm se deteriorado — e nunca atingiram tal tensão — desde a chegada ao poder do ultraliberal Milei, em dezembro de 2023. O embaixador Romero está em consultas desde o final de janeiro, quando Petro reagiu a outra entrevista na qual Milei o chamou de "comunista assassino que está afundando a Colômbia".
No ano passado, ainda como candidato, afirmou numa rádio colombiana em setembro que “socialista é lixo” e “excremento humano". Petro então comparou Milei em suas redes sociais a Adolf Hitler pelo comentário. Depois, quando o presidente da Argentina venceu as eleições em novembro ao derrotar o candidato peronista Sergio Massa, declarou que era um “momento triste para a América Latina”.
O compromisso dos presidentes em manter boas relações parece firme, mas é difícil garantir que os confrontos não se repetirão. O presidente colombiano reage impulsivamente nas redes sociais aos acontecimentos atuais e principalmente ao que considera injusto. As pessoas ao seu redor sugeriram timidamente a ele que, quando se trata de expressar uma opinião sobre determinadas questões, é necessário refletir mais. No entanto, as posições do governo sobre qualquer assunto são definidas pela conta X do presidente colombiano, e os ministros simplesmente seguem o exemplo.
A prudência também não é a maior das grandes qualidades de Milei, já que ele adota um tom incendiário que o tornou popular na campanha eleitoral, mas que agora está se transformando em crises diplomáticas.