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Tagore reafirma suas raízes em seu novo disco, "Barra de Jangada"

Quarto álbum do cantor e compositor pernambucano traz reminiscências da sua infância no bairro litorâneo e emula a sonoridade oitentista de artistas nordestinos

"Barra de Jangada" resgata, sonoramente, as memórias afetivas de Tagore - Vinicius Lezo/Divulgação

Entre o fim dos anos 1980 e começo dos 1990, o pernambucano Tagore Suassuna era criança e morava em Barra de Jangada, bairro de Jaboatão dos Guararapes. Nas lembranças “analógicas” desse período, estão as idas à praia e todo o seu cenário característico: o vendedor de raspa-raspa, de algodão doce, crianças empinando pipa e a trilha sonora que embalou essa época, regada a Alceu Valença, Fagner, Zé Ramalho, Elba Ramalho e toda essa turma nordestina que fez a cabeça de muita gente naquelas décadas, incluindo a dele.

São essas memórias afetivas que serviram de matéria-prima para que Tagore desse vida ao seu quarto álbum, “Barra de Jangada”, lançado nas plataformas de streaming na última semana. No disco, reminiscências da infância de Tagore materializadas na sonoridade “nordestina oitentista” que caracteriza o novo trabalho.

Sonoridade
“Barra de Jangada” também homenageia duas pessoas importantes na vida de Tagore: o artista plástico Fernando Suassuna, seu pai, falecido em 2020; e o lendário guitarrista Paulo Rafael (Ave Sangria), falecido em 2021, que teve uma grande contribuição para a sonoridade que marcou sua geração.

“Fui investigando minhas memórias, de como era aquela época, e fui bater em Barra de Jangada... 1992, 1993… em que a trilha da praia todinha era essa galera (Alceu, Fagner, Elba etc.) e percebi que era trilha de uma parte fundamental da minha vida, das minhas memórias afetivas”, conta Tagore.

Referências
O disco foi produzido pelo próprio Tagore, junto a Pedro Diniz (baixista da Mundo Livre S/A) e João Cavalcanti. A missão deles foi reproduzir no álbum a sonoridade característica dessa geração. E com êxito. Durante as nove faixas, saltam aos ouvidos os timbres utilizados na bateria, nos teclados, a voz mais à frente, a guitarra “a la Paulo Rafael” feita por Tagore. “Barra de Jangada” soa fielmente como um disco feito por Alceu, nos anos 1980.

“A ferramenta principal que possibilitou chegar a essa sonoridade foi a mixagem, mas, começou tudo na forma de arranjar, na produção”, explica Tagore. “Cada detalhe desse vai sendo um passo avante para chegar nessa missão de reproduzir uma atmosfera de uma época analógica, de uma forma digital”, diz.

As referências oitentistas também marcam o clipe da música-título, “Barra de Jangada”. Sonoramente, a canção passeia entre “Como dois animais” e “Solidão”, de Alceu Valença.. O vídeo traz imagens de VHS feitas por japoneses que passaram por Recife no fim da década de 1980, mostrando como era o local na época.

Confira, abaixo, o clipe "Barra de Jangada"

Colaborações
“Barra de Jangada” traz como participações Ju Strassacapa (LAZÚLI), da banda Francisco El Hombre, na faixa “Amor perfume”; Juba, filho de Alceu Valença, faz vocais e triângulo em “Maré Minina”; Clayton Barros e os percussionistas Rafa Almeida e Nego Henrique, do Cordel do Fogo Encantado, estão na faixa “Paixão revirada”; Cássio Cunha, baterista de Alceu Valença, está presente em sete faixas. Esses são só alguns nomes que colaboraram com “Barra de Jangada”.

Outra presença no disco é a voz de Lula Côrtes, que foi morador de Barra de Jangada e também se encontra nas memórias de infância de Tagore e como uma de suas referências. Trecho de uma entrevista sua está na faixa “A Mais Bela Devoradora de Vaidades”.