"SAF argentina", River e equatorianos: saiba quem pode ameaçar domínio brasileiro na Libertadores
Com campeões do país há cinco anos consecutivos, competição inicia sua fase de grupos nesta terça-feira
A última década do futebol sul-americano consolidou uma virada de forças. Até poucos anos equilibrada entre brasileiros e argentinos, a Libertadores virou cenário de domínio do futebol verde-amarelo, campeão das últimas cinco edições, três delas só com clubes do país na final. O Brasil já se aproxima, inclusive, da Argentina em número de títulos (25 a 23). A competição inicia hoje a fase de grupos de sua 65ª edição com alguns núcleos de “resistência” pelo continente tentando frear essa hegemonia brasileira.
Quando se olha para a tabela, as atenções se voltam, naturalmente, para o River Plate. Atual campeão argentino e dono dos últimos dois títulos do país na competição, os “millonarios” estiveram no caminho de Flamengo (final) e Palmeiras (semifinal) nas conquistas de 2019 e 2020, além de viverem, há alguns anos, o protagonismo no futebol de casa. O time de Martín Demichelis inicia a competição numa gangorra entre bons números e marcas — perdeu pela primeira vez na temporada na sexta-feira, para o Huracán— e as primeiras críticas.
— Se há três semanas se ouviram pela primeira vez no Monumental algumas vaias para Demichelis, foi por causa do nível de jogo do River, que hoje não é a “máquina” que o treinador queria no ano passado. Pode ser alcançável neste futebol argentino, que carece de figuras pelos problemas econômicos, mas a Libertadores não perdoa. Foram 14 jogos (sete vitórias, seis empates e uma derrota) na temporada e pode-se dizer que o River ainda não mostrou desempenho para ser finalista da Copa. É isso que preocupa muitos torcedores e ocupa Demichelis, que está confiante de que o jogo da equipe vai crescer semana a semana — explica Gaston Pestarino, repórter do jornal argentino Olé.
Pestarino diz que as constantes mexidas do treinador no esquema e nas escalações têm sido criticadas, mas aponta o centroavante Borja, velho conhecido do futebol brasileiro, como destaque, bem como os meias Echeverrí (já vendido ao Manchester City) e Esequiel Barco e o atacante Pablo Solari.
— É verdade que no papel existem diferenças econômicas (em relação aos times brasileiros), mas que podem não se traduzir no campo. Ao mesmo tempo, devem se tornar uma equipe copeira. Às vezes é preciso priorizar a ordem e ser sólido defensivamente em vez de atacar constantemente — analisa Pestarino.
Renascimento do Talleres
À frente do River no Grupo A da Copa da Liga Argentina está o Talleres, projeto de futebol que cresce temporada a temporada e volta a entrar no caminho do São Paulo, que eliminou na fase preliminar de 2019.
“La T”, como é chamado o time de Córdoba, é um caso de recuperação de um clube que se afundou em dívidas no início do século passando por um processo de “gerenciamento”, com uma empresa tocando a gestão do futebol, o mais perto de uma SAF que o futebol argentino chegou.
Eleito em 2014, no primeiro pleito do clube em 20 anos, Andrés Fassi, um gestor de futebol com perfil empresarial e simpático ao modelo de clube-empresa — também investe e comanda as operações esportivas do Juarez, do México —, faz uma reestruturação total na instituição, que pulou de 1.700 para mais de 70 mil sócios, e no último balanço registrou superávit de 4 bilhões de pesos argentinos (R$ 23 milhões) e gastos de 13 bilhões de pesos (R$ 75 milhões) no elenco profissional. Desde 2014, o clube fez cerca de R$ 440 milhões em venda de atletas.
O crescimento se verifica em campo, com ida às quartas da Libertadores de 2022 e retorno para a edição 2024. No ano passado, o Talleres foi vice-campeão argentino, justamente para o River. Na atual temporada, “La T” conta com grande momento do atacante Ramón Sosa, cobiçado no mercado, autor de quatro gols e quatro assistências em 12 jogos. O atacante Federico Girotti, os meias Portilla e Botta são outros destaques.
Fora da Argentina, o Independiente del Valle entra no caminho de um brasileiro já na fase de grupos, o Palmeiras. O projeto de futebol equatoriano voltado para a formação de atletas de alto rendimento, de onde saíram joias como Moisés Caicedo e Kendry Páez, ambos adquiridos pelo Chelsea — Páez, de 16 anos, permanece no clube até 2025 —, segue como uma das principais forças continentais do país e “categoria de base” da seleção equatoriana.
Bicampeão da Copa Sul-Americana (2019 e2022), finalista da Libertadores em 2016 e algoz do Flamengo na Recopa Sul-Americana no ano passado, o time comandado por Javier Gandolfi ainda não perdeu nos seis jogos que fez na temporada. É vice-líder do Equatoriano. Contribuem para a campanha quatro gols do atacante Hoyos e três assistências de Sornoza, ex-Fluminense e Corinthians.
Outra força equatoriana para se ficar de olho, a LDU chega como incógnita, após título da Sul-Americana sobre o Fortaleza em 2023 seguido de derrota inapelável para o Fluminense na Recopa deste ano. Estudiantes e San Lorenzo, que vêm de boas temporadas no futebol argentino em 2023, também iniciam a competição em fase doméstica irregular.