GUERRA

Israel e Hamas se mostram prudentes sobre possibilidade de alcançar trégua em Gaza

Netanyahu reafirmou a determinação de erradicar o Hamas "de toda a Faixa de Gaza, incluindo Rafah"

Soldados israelenses na Faixa de Gaza - Exército de Israel/AFP/Divulgação

Israel e Hamas frustraram, nesta segunda-feira (8), as expectativas de se alcançar rapidamente uma trégua na Faixa de Gaza, após nova rodada de negociações no Egito para um cessar-fogo no território palestino sitiado e libertar os reféns após mais de seis meses de guerra.

A retomada das negociações não freou os planos de Israel de invadir a cidade de Rafah, onde se amontoam cerca de 1,5 milhão de palestinos que fugiram dos combates entre o Exército israelense e o movimento islamista palestino Hamas.

"Isso vai acontecer, há uma data", insistiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em um vídeo.

Suas declarações ocorrem no dia seguinte ao seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, anunciar a retirada das tropas de Khan Yunis, também no sul, para preparar as "próximas missões (...) na região de Rafah".

Netanyahu reafirmou a determinação de erradicar o Hamas "de toda a Faixa de Gaza, incluindo Rafah", que ele apresenta como o último grande reduto do movimento islamista, que está no poder no território palestino desde 2007.

Tanto a comunidade internacional quanto os Estados Unidos, o principal aliado de Israel, advertiram para as consequências que uma ofensiva representaria para esta cidade.

As declarações dos dirigentes israelenses coincidiram com uma nova rodada de negociações entre Hamas e Israel, com mediação de Egito, Estados Unidos e Catar.

"Momento oportuno" para um acordo
As conversações, que visam a alcançar uma trégua e a libertação dos reféns mantidos em Gaza desde o início da guerra, em 7 de outubro, registraram "progressos significativos", reportou o canal egípcio Al Qahera News, citando uma fonte de alto escalão do governo egípcio.

Representantes das duas partes, no entanto, foram menos otimistas. "O Hamas bloqueia as negociações", afirmou nesta segunda o porta-voz do governo israelense, Avi Hyman. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, julgou por sua vez que este é o "momento oportuno" para se chegar a um acordo sobre os reféns.

Segundo uma autoridade do Hamas ouvida pela AFP, "não é possível falar de progressos concretos até agora" e as divergências se concentram especialmente no retorno dos deslocados à Cidade de Gaza, no norte do território, uma exigência do movimento islamista.

A Casa Branca, por sua vez, informou que os negociadores apresentaram uma proposta de acordo ao grupo islamista e que "agora depende do Hamas para que seja bem-sucedida", segundo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

Uma fonte do grupo islamista afirmou nesta segunda-feira que o grupo estava avaliando uma proposta que contempla uma trégua de seis semanas e uma troca de 900 presos palestinos por um grupo de reféns composto por mulheres e crianças.

A primeira fase do cessar-fogo também incluiria o retorno ao norte de Gaza dos palestinos e a entrada diária de entre 400 a 500 caminhões de ajuda humanitária.

Fome iminente
A guerra começou em 7 de outubro, quando o Hamas invadiu o sul de Israel e executou um ataque sem precedentes, no qual assassinou 1.170 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.

Os combatentes palestinos também sequestraram mais de 250 pessoas, das quais 129 ainda estão retidas em Gaza, incluindo 34 que as autoridades israelenses acreditam que foram mortas.

Em retaliação, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva que matou 33.207 pessoas em Gaza, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde desse território palestino, governado pelo Hamas.

A guerra também provocou uma catástrofe humanitária no território de 2,4 milhões de habitantes, sitiado por Israel, onde a ONU teme que ocorra fome generalizada.

Estritamente controlada por Israel, a ajuda humanitária que chega pelo Egito entra no território a conta-gotas. "A fome é iminente", declarou a diretora-executiva do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Catherine Russell.

Diante desse desastre humanitário, a Nicarágua decidiu levar a Alemanha perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o mais alto tribunal da ONU, para denunciar seu apoio a Israel.

Nesta segunda, Manágua considerou "patético" que a Alemanha entregue armas ao governo israelense ao mesmo tempo em que fornece ajuda humanitária a Gaza. Berlim tachou a acusação de "extremamente parcial".