Na NBA, jovens brasileiros mostram bons resultados em quadra; entenda diferentes tipos de contrato
Gui Santos assinou um vínculo de 3 anos pelo GSW, enquanto Mãozinha atuou por 20 dias no Grizzlies
O brasileiro João Marcello Pereira, conhecido como "Mãozinha", encerrou nesta segunda-feira o período como contratado temporário dos Memphis Grizzlies na NBA. Antes, o ala-pivô atuava pelo Mexico City Capitanes, time da G-League — liga de desenvolvimento — e chegou a participar do torneio de enterradas da competição. Ele assinou um vínculo de 10 dias com a franquia americana, renovado uma vez pelo mesmo período devido seu bom desempenho.
Aos 23 anos, Mãozinha abraçou a oportunidade quando os Grizzlies se encontravam enfraquecidos por um roster — elenco contratado para temporada — repleto de lesões, tendo nove jogadores indisponíveis. Com a chance de, pela primeira na carreira, atuar na liga principal, o atleta entregou uma média de 6.9 pontos, 5.3 assistências e 0.6 tocos em 7 jogos. Ele contou mais detalhes ao GLOBO sobre como foi essa experiência e mudança de cidade.
— A NBA cuida de tudo extra quadra para você. Me disponibilizaram meu hotel, cuidaram da minha bagagem, viajei pelo avião do time, pagaram minha passagem, eu não tive que me preocupar muito, só em jogar. Não tive muito tempo de contemplar que estive na NBA, eu estava dando meu máximo. Se fosse no início de temporada seria diferente. Eu tinha que pegar e entregar meu trabalho para mostrar porque me chamaram, não podia perder oportunidades. Era um sonho, mas eu tinha que estar firme na realidade — descreveu João Marcello.
Além disso, também compartilhou mais detalhes sobre o vínculo com a franquia e quais devem ser os próximos passos na carreira após o período em Memphis. O contrato de dez dias na NBA só pode ser renovado uma única vez, após isso o jogador só pode permanecer se receber um vínculo até o final da temporada, o que não aconteceu no caso do ala-pivô.
— A temporada já estava acabando e coincidiu que o Memphis estava cheio de lesões, então pensaram 'vamos dar chance para esse cara'. Me chamaram, gostaram do meu trabalho, e renovaram o meu vínculo. O Capitanes me deu a liberdade de eu sair para jogar e agora, quando meu contrato se encerrar, eu posso voltar para o time do México porque eles ainda retém os meus direitos da G-League — explicou ele.
Mãozinha jogou sua última partida contra o Philadelphia 76ers no sábado. No duelo, que também foi sua estreia como titular, ele anotou um duplo-duplo com 13 pontos e 11 rebotes. Apesar disso, sua melhor performance aconteceu na sexta-feira, quando marcou 17 pontos, nove rebotes e um toco na vitória sobre o Detroit Pistons.
Além dele, outro brasileiro que atuou este ano na NBA é o ala-armador Guilherme dos Santos, de 21 anos. Ele e Mãozinha chegaram a se enfrentar, inclusive, na estreia pelo Grizzlies. Gui assinou um contrato de três anos com a equipe dos Golden State Warriors, após dois anos no Santa Cruz Warrios, time da franquia na G-League. Ele compartilhou com o Globo como foi esse momento de transição.
— Quando eu fui chamado para o Golden State, por estar subindo e descendo da G League e para a NBA, sempre tem um acompanhamento especial, os caras têm um olho a mais para fazer com que você não jogue tantos jogos, que você esteja sempre pronto para quando tiver a oportunidade de jogar na NBA e estar sempre bem fisicamente. Então, sempre tem um acompanhamento da parte física quanto dos técnicos em relação a isso — comentou.
O atleta assinou um contrato de três anos com a equipe de São Francisco em novembro do ano passado. Em seu compromisso, Gui ainda é chamado para auxiliar o time da liga de desenvolvimento em algumas partidas, como no embate contra o Stockton Kings, na última quinta-feira, quando foi eliminado dos playoffs da G-League. Ele detalhou como tem jogado, já que agora faz parte também do elenco principal.
— A minha adaptação na liga já está bem melhor, já está bem mais tranquila. Eu sei o meu papel, eu sei o que eu tenho que fazer quando estou jogando no time principal, eu sei o que eu tenho que fazer quando estou jogando na liga. Isso facilita bastante quando eu entro em quadra, eu já tenho noção exata do que eu tenho que entregar e o que eu tenho que fazer dentro de quadra para cumprir meu papel dentro da equipe — disse.
Na temporada atual, Gui jogou 21 jogos e tem uma média de 3.2 pontos, 2.1 rebotes e 7.9 minutos em quadra por jogo.
Diferenças da liga de desenvolvimento e NBB para a NBA
Mãozinha também descreveu as diferenças que encontrou na rotina de quando jogava pela G-League e enfrentava jogadores que ainda estava buscando atingir seu potencial e passou a disputar com estrelas.
— Em questão de jogo não tem diferença, porque são muitos jogos para pouco tempo. A rotina é intensa, com jogos, back-to-back e muitas viagens. Mas, na NBA, tem muita facilidade de algumas logísticas para isso. Acho que não foi um salto tão gritante porque eu consegui me adapta nesse ano que tive de transição entre a NBB e a NBA — comentou.
Já Gui Santos contou que passou por dificuldades no primeiro momento para se adaptar ao jogo americano e pela pressão que enfrentou.
— Aqui os americanos tem as melhores coisas do mundo e tudo, para eles, eles são os melhores em tudo, sabe? Então, você chega do Brasil, tipo, sendo destaque, ao invés dele acreditar que o cara é um destaque e tudo mais, eles levam isso como... Por que esse cara do Brasil tá chegando aqui e tudo mais? Então, isso é mais um motivo para você chegar aqui e se provar em cima dos caras, ainda mais sendo 'gringo', eles já ficam tipo, como assim, esse 'gringo' tá chegando aí para tomar nosso lugar, sabe? É bacana você fazer parte a do Brasil e tudo mais, mas quando você chega aqui, começa tudo do zero de novo — descreveu.
Além disso, também falou sobre como a relação no vestiário conseguiu ser um fator de ajuda durante essa adaptação.
— Todo mundo muito tranquilo e muito parceiro um do outro, todo mundo zoa, brinca. É um pessoal bem, tipo, um ambiente bem família, né? Por mais que a temporada tenha sido um pouco difícil, um pouco complicado em alguns momentos, mas sempre a gente está levando um clima leve dentro e fora das quadras, porque a gente sabe que isso ajuda — completou ele.
Representatividade brasileira
Com a presença de Gui Santos nesta temporada, o Brasil voltou a ter um representante na liga, após iniciar sem um deles pela primeira vez desde 2002. O último jogador a atuar na liga tinha sido o armador Raulzinho, pelo Cleveland Cavaliers, que agora defende o Fenerbahce, da Turquia. Mãozinha, que se juntou a ele para representar o país neste ano, comentou sobre a paixão dos brasileiros e a representatividade dos jovens.
— É engraçado, não fazia ideia do quanto brasileiro amava ver outro brasileiro jogando. Agora que to na NBA que tô vendo isso, ganhando seguidores. Eu e o Gui já nos conhecíamos antes, mas quando descobrimos que jogaríamos contra já combinamos de trocar as camisetas. Eu lembro dele falar comigo 'que loucura a gente estar aqui' e eu responder 'dois anos atrás a gente tava no jogo das estrelas da NBB e agora chegamos até aqui', foi muito legal. Até tentei fazer um bloqueio forte nele para mostrar quem mandava, mas não consegui — declarou ao GLOBO.