"Cinema possível"

"Encruzilhada dos Trilhos", de Wilson Freire, estreia no Cinema da Fundação, nesta quarta (10)

Longa-metragem é o primeiro em Pernambuco a usar apenas um aparelho smartphone para captar as imagens; após a exibição, haverá um debate com o diretor e a equipe

O poeta e ator Gleison Nascimento vive o personagem "Dê Endi", um jovem atormentado pela solidão do lugarejo onde vive, no Sertão de Pernambuco.  - Camilo Soares

Uma ideia na cabeça e um celular na mão. Há sete anos, o cineasta Wilson Freire topou o desafio de realizar um longa-metragem usando apenas um aparelho smartphone para captar as imagens. Hoje, às 19h45, o sonho se concretiza com a sessão de estreia do filme "Encruzilhada dos Trilhos", no Cinema da Fundação (Derby), com entrada gratuita. Após a exibição, haverá um debate com o diretor e a equipe. 

"Eu defendo a ideia do cinema possível. Você coloca seu filme no edital, não consegue, e aí? Seu filme vai morrer? Sua ideia vai acabar? Então, como existem mídias como smartphones, que abrem essa possibilidade, baseado nisso eu resolvi fazer o filme dentro do possível", conta Wilson Freire, que contou com a ajuda de amigos e parceiros que acreditaram no projeto, mesmo sem recursos.

O diretor conta que se inspirou na produção do filme "Tangerine", do diretor Sean Baker, filmado inteiramente com três aparelhos iPhones 5s, vencedor de diversos festivais de cinema. A obra audiovisual é uma adaptação do poema "No Itinerário de um Trem" do livro "Um Espaço de Ausência", publicado em 1981, de autoria de Wilson Freire, e narra a história de Dê Endi, um jovem atormentado pela solidão do lugarejo onde vive no Sertão de Pernambuco. 

Da poesia para o cinema
"Foi baseado nesse poema que me inspirei a fazer uma história. Um dia estava passeando pela avenida Marquês de Olinda, onde tem a cena final do filme, que é uma encruzilhada de trilhos. Eu pensei: 'poxa, aqui poderia ser a cena final, onde os trilhos e os destinos se cruzam". Coincidentemente, vi uma fotografia de Fernando Spencer Filho no mesmo local. Foi quando comecei a escrever o roteiro", lembra Wilson.

A ideia inicial era de um curta-metragem, que contou com ajuda de uma vaquinha virtual. "Durante as filmagens, vi que o filme tinha corpo para virar um longa metragem. Durante 12 dias realizamos a captura das imagens com um smartphone que eu tinha na época, uma câmera do celular. A gente saiu e gravamos pelo Sertão e fizemos as cenas finais pelo Recife", conta o diretor. O filme foi aprovado na Lei Aldir Blanc recebendo incentivo para a sua finalização.

Cartaz do filme "Encruzilhada dos Trilhos", de Wilson Freire

Sobre a produção
"Encruzilhada dos Trilhos" foi o primeiro filme de ficção em Pernambuco a ser todo gravado com apenas um smartphone, com direção de fotografia de Camilo Soares. No elenco, vários artistas da cena pernambucana como Martins, Luna Vitrolira, Igor de Carvalho, Juliano Muta, Flaira Ferro, Roger de Renor e Miró da Muribeca, entre outros. O protagonista é o poeta e ator pernambucano Gleison Nascimento.
 
"Pensamos em um formato mais simples de produção que incentive os jovens que estão aí lamentando muito com os editais por não conseguirem fazer seus filmes, que tenham coragem e façam também. Se você tem uma boa ideia, um roteiro legal e uma equipe sabe fazer a coisa, então faça", sugeriu.

Sinopse
Um encontro inusitado com um cego rabequeiro, o leva a uma viagem extraordinária pelos trilhos da antiga RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima), onde realidade e delírio se misturam, revelando personagens, lugares e histórias que se cruzam, trazendo temas como preservação de patrimônios históricos e arquitetônicos, êxodo das populações de pequenas para grandes cidades, destino, vida e morte, pobreza e riqueza.