mundo

"Cebolinha": entenda como a hortaliça virou símbolo de protesto nas eleições da Coreia do Sul

O país tem eleições legislativas nesta quarta-feira, e o pleito é considerado crucial para que o presidente, Yoon Suk Yeol, consiga prosseguir com a agenda conservadora

Protesto dos agricultores sul-coreanos em 25 de março de 2024 - Yonhap/AFP

A visita do presidente Yoon Suk Yeol a um mercado para observar os preços virou objeto de piadas e memes, entre a população coreana. Além disso, a hortaliça se tornou um símbolo da oposição a ponto da Comissão Nacional Eleitoral proibir que os eleitores a apresentem nos locais de votação. Yoon enfrenta um descontentamento público e críticas sobre sua administração econômica, devido à inflação, que ultrapassa os 3%. De acordo com as pesquisas do instituto Gallup, esses motivos representam uma das principais razões para a rejeição ao governo.

Durante uma visita ao estabelecimento, Yoon se aproximou do alimento e comentou: "Já fui a muitos mercados e acho que 875 won (0,65 dólar, 3,37 reais) é um preço razoável". Porém, antes de sua visita o mercado teria abaixado o preço do item, segundo a imprensa sul-coreana.

O valor normal do produto é três a quatro vezes superior ao mencionado pelo presidente. A cebolinha desempenha um papel significativo na culinária e cultura da coreana, sendo essencial em diversos pratos, como o tradicional kimchi (prato fermentado coreano), pajeon (panqueca de cebolinha), e ensopados.

O acontecimento gerou tumulto nas redes sociais, e os eleitores levantaram a hashtag #cebolinha875won.

Em uma entrevista recente, o ex-deputado Yoo Seung-min declarou que os sul-coreanos votaram em Yoon com a esperança de uma recuperação econômica, mas ficaram decepcionados. "A declaração equivocada de Yoon sobre a cebolinha adicionou fogo a este sentimento", disse.

Eleições legislativas
Os sul-coreanos começaram a votar nesta quarta-feira, para as eleições legislativas consideradas, um plebiscito sobre o presidente do país, Yoon Suk Yeol, e sua agenda conservadora, após uma campanha eleitoral polarizada. Segundo as pesquisas coreanas de boca de urna, o Partido Democrático (PD, centro-esquerda), de Lee Jae-myung, principal legenda de oposição, e seus aliados conquistariam entre 184 e 197 cadeiras de um total de 300 na unicameral Assembleia Nacional, contra 156 atualmente.
 

Nas eleições presidenciais de 2022, Yoon venceu por uma margem estreita contra Lee. No entanto, como presidente, adotou uma postura rígida em relação à Coreia do Norte, fortalecendo os laços com os Estados Unidos e se aproximando do Japão, apesar das tensões históricas. E também a respeito das promoções de sua agenda, que inclui a reforma do sistema de saúde e a promessa de acabar com o Ministério da Igualdade de Gênero.

Desde 20 de fevereiro, o sistema de saúde sul-coreano enfrenta uma greve de médicos, resultando no cancelamento de cirurgias e tratamentos. Esses trabalhadores protestam contra as reformas propostas por Yoon, que visam aumentar as admissões nas faculdades de Medicina para lidar com a escassez de profissionais.

Além disso, o presidente está envolvido em um escândalo devido a imagens de câmeras escondidas que mostram sua esposa, Kim Keon Hee, recebendo uma bolsa de luxo da Dior no valor de 2.200 dólares (R$ 11.000), violando as leis sul-coreanas que limitam presentes para funcionários públicos e seus cônjuges a US$ 750 (R$ 3.770). Yoon chamou o vídeo de "armação política", alegando que sua esposa aceitou a bolsa devido às circunstâncias difíceis de recusar.