Brasil

Aliados de Lula temem que baixa popularidade estimule Tarcísio a entrar na disputa presidencial

Entorno do presidente avalia que governador de São Paulo tem mais potencial eleitoral que outros possíveis nomes da oposição, como Zema e Caiado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) - Ricardo Stuckert/PR

Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva temem que a queda na popularidade registrada nas pesquisas mais recentes incentive o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a entrar na corrida pelo Palácio do Planalto em 2026.

Por sua ligação mais estreita com o ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo fato de estar à frente do maior estado do país, Tarcísio é visto como um candidato mais forte do que os outros nomes da direita citados para a próxima disputa presidencial, como os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).

Interlocutores de Lula dizem que Tarcísio não perderá a chance de concorrer se o atual presidente tiver uma aprovação inferior a 40%. A pesquisa Datafolha mais recente, divulgada em março, aponta Lula com 35% de aprovação (ótimo e bom) e 33% de reprovação (ruim e péssimo). Em relação à pesquisa de dezembro, houve oscilação negativa da aprovação do petista de três pontos e oscilação positiva da reprovação também de três pontos.

Para um aliado, o chefe do Executivo precisaria chegar a uma aprovação próxima dos 50% para que Tarcísio considere mais seguro concorrer a um novo mandato em São Paulo e adie os planos presidenciais para 2030.

No Palácio do Planalto, uma parte dos auxiliares de Lula acredita que o governador de São Paulo precisará, além da baixa popularidade do atual presidente, de uma garantia de apoio por parte de Bolsonaro, o que hoje ainda não é considerado totalmente certo. O ex-presidente foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral(TSE) por causa da reunião com embaixadores realizada no Palácio da Alvorada, em 2022, em que atacou o sistema eleitoral.

 

Além de Caiado, único que revela publicamente a sua intenção de concorrer, também são citados como possíveis herdeiros do bolsonarismo Zema, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e dois dos filhos do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Caminho aberto no PL
No entorno de Lula, Tarcísio é considerado um candidato forte a presidente porque, se tiver um apoio sólido de Bolsonaro, poderia angariar o apoio dos simpatizantes do ex–presidente e, por causa de seu perfil sóbrio, também atrair uma parcela do eleitorado de centro. Para um aliado do petista, Tarcísio pode se apresentar como um “bolsonarista de fraque”.

À frente do governo de São Paulo, tem como uma de suas bandeiras as privatizações. A gestão trabalha para viabilizar o leilão da Sabesp, a maior empresa de saneamento e abastecimento do país. Entre os petistas, a avaliação é que essa pauta pode ajudá-lo, caso seja candidato a presidente, a angariar a simpatia do mercado financeiro.

No plano original traçado por Tarcísio e seus aliados, a corrida presidencial em 2026 não estaria no horizonte. A ideia seria concorrer a um novo mandato de governador, em um pleito visto como seguro, e tentar a Presidência só em 2030. Os principais projetos tocados pelo governo, como o trem entre São Paulo e Campinas, estão previstos para serem concluídos em um eventual segundo mandato.

Mas diante da inelegibilidade de Bolsonaro, de quem foi ministro da Infraestrutura, e de uma eventual baixa popularidade de Lula, Tarcísio poderia rever o seu plano e antecipar a candidatura presidencial.

Em um movimento para mantê-lo sob sua órbita, o ex-presidente também articula a sua migração do Republicanos para o PL. Como o Globo mostrou, o partido de Bolsonaro tenta concluir o movimento antes das eleições municipais, mas a tendência é que a alteração ocorra só depois de outubro.

No PT e no governo, a candidatura de Lula, de 78 anos, à reeleição é considerada certa. Uma resolução do partido aprovada ainda em agosto do ano passado já defendia que o atual presidente deveria tentar um novo mandato em 2026.