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Megaiates abandonados de Saddam Hussein viraram sucata e ponto turístico no Iraque

Ditador iraquiano teve dois megaiates: um deles está aberto a visitação e o outro encontra-se naufragado em rio

Al-Mansur encontra-se afundado no rio Shatt al-Arab - Hussein Faleh/AFP

Na confluência dos rios Tigre e Eufrates, dois superiates simbolizam os delírios de grandeza de Saddam Hussein, o presidente do Iraque derrubado há duas décadas por uma invasão dos Estados Unidos. Apenas 500 metros separam os barcos no rio Shatt al-Arab, formado pelas águas do Tigre e do Eufrates. O "Al-Mansur" ("Vitorioso") está meio afundado, após ser atingido por aviões americanos em março de 2023.

Pesando mais de 7.000 toneladas e com 120 metros de comprimento, o antigo iate presidencial foi montado na Finlândia e entregue ao Iraque em 1983, segundo o site do designer dinamarquês Knud E. Hansen. Tem capacidade para 32 passageiros e 65 tripulantes.

Antes da invasão americana há 20 anos, o "Al-Mansur" estava ancorado no Golfo, mas Saddam enviou-o pelo rio Shatt al-Arab "para protegê-lo do bombardeio de aviões americanos", relata o engenheiro marítimo Ali Mohamed, movimento que não foi bem-sucedido.

O ex-diretor do patrimônio de Basra Qahtan al-Obeid conta que o navio foi bombardeado por vários dias em março de 2003, "mas nunca afundou completamente".

Nas fotos de um fotógrafo da AFP em 2003, o "Al-Mansur" é visto flutuando no rio, com o convés superior manchado por um incêndio causado por bombardeios. O navio começou a adernar em junho daquele ano e virou "quando os motores foram roubados. Isso criou aberturas, e entrou água, e ele perdeu o equilíbrio", segundo Obeid.

Logo após a queda de Saddam, o iate foi saqueado e quase todos os objetos de seus interiores foram removidos, incluindo lustres, peças de metal e móveis. A última etapa do “desmonte” foi a retirada dos motores, o que fez com que muita água entrasse no casco e mantivesse ele preso na margem do Rio.

 

O barco agora é de propriedade do governo, mas "ninguém sabe" se há planos para removê-lo em breve. É a maior embarcação que afundou no rio, e os custos para a operação de retirada e desmantelamento do iate empacam uma resolução final. Por enquanto, o naufrágio é usado por pescadores locais, que se empoleiram nos convés salientes e lançam suas linhas na água, e por turistas que visitam os destroços.

Frota incluía outros iates
Apesar de ser o mais famoso, o "Al-Mansur" não era a única embarcação da luxuosa frota de Saddam. Ancorado em um píer próximo, o "Basrah Breeze" — equipado com piscinas e que em algum momento, chegou a ter um lançador de mísseis — está parcialmente aberto ao público que desejar conhecer esta relíquia do passado recente do país.

Com capacidade para 30 passageiros e 35 tripulantes, o "Basrah Breeze" foi entregue em 1981. Tem 13 quartos, três salas e um heliponto. — Todo mundo que vem fica impressionado com o luxo do iate —, diz Sajjad Kadhim, instrutor do Centro Científico da Universidade de Basra, que tem jurisdição sobre a embarcação.

Para surpresa de muitos visitantes, Saddam nunca navegou no "Basrah Breeze" de 82 metros de comprimento, mais uma extravagância do ditador iraquiano. A suíte presidencial do iate é decorada em tons de ouro e na cor creme e tem uma cama gigante com dossel, além de poltronas luxuosas do século XVIII. Seus amplos banheiros têm torneiras douradas.

Talvez o mais impressionante seja o corredor secreto que levava a um submarino, uma porta de fuga ante ameaças iminentes, conforme indicado no painel de informações do iate.

Temendo as repercussões da guerra Irã-Iraque na década de 1980, Saddam deu o navio para a Arábia Saudita antes de ser transferido para a Jordânia, contou Kadhim. Em 2007, o iate foi ancorado em Nice, na França, onde um ano depois se tornou centro de uma disputa judicial.

As autoridades iraquianas reivindicaram a propriedade do "Basrah Breeze", que uma empresa registrada nas Ilhas Cayman tentava vender por quase US$ 35 milhões. Depois de recuperar o navio, o governo iraquiano tentou vendê-lo, sem sucesso. Finalmente, em 2009, decidiu ancorar a embarcação em Basra.