Almério é tempo presente, em disco que celebra a si mesmo
Artista pernambucano lança hoje nas plataformas digitais, "Nesse Exato Momento", pela Deck
"Salve o encantamento! Laroyê!" - de instantes registrados por sonoridades festivas, entrelaçadas em vida e obra que "Nesse Exato Momento", aos 43 anos de estrada pessoal e 20 de carreira, culmina com um tal de "tempo (que) matura a gente" e, portanto, não ter "mais dúvida sobre as escolhas, sobre a arte, sobre os caminhos" deságua em versos partilhados, inclusive, consigo mesmo, numa espécie de autorretrato (des)construído pelo tempo - novamente aquele, que matura a gente.
É assim que o cantor e compositor pernambucano Almério, se autopreenche nas 12 faixas do seu quarto disco, "Nesse Exato Momento'’ - lançado hoje nas plataformas digitais, pela Deck, e concebido por tantos e para tantos, em celebração a um mister artístico iniciado na adolescência no Agreste (Altinho) e reverberado num tempo após e robusto, "canalizado para o agora".
Com produção de Juliano Holanda e bênção (e voz), em uma das faixas ("Quero Você"), de Maria Bethânia, memórias afetivas de um hoje - começam a ser contadas no start de "Laroyê", faixa inicial reforçada como uma "canção de luz sonora" em letra que remete à previsibilidade de que "Quem é de ter, Quem é de ser, Quem é de amor, Há de vencer", findada com um salve a Exu, entidade que abre os caminhos para "Uma Inédita" (Juliano Holanda), faixa que vem na sequência e ressalta uma vida que se manifesta em uma pele que se regenera.
"Começa pela ordem (as canções). Cada uma delas conversa entre si, existe uma sequência lógica que conta a (minha) história. Fiz várias para chegar na que foi para o disco. Isso recai muito sobre o que o artista quer dizer", explica Almério, a despeito da narrativa do disco que na faixa homônima ao título do trabalho, "Nesse Exato Momento" apresenta o sempre bem-vindo enlace de Zélia Duncan com nomes 'da terra'.
Assinada pela artista carioca em parceria com Juliano Holanda, a faixa, imperativa, exige a "urgência do prazer" em um "Bora agora! É pra já, pra ontem", que conta com a participação de Chico Chico.
A seguir, é na batida pulsante da faixa "Tóxico" (Almério/Juliano Holanda) que o cantor agrestino entrega sua tentativa de "amar o desamor", apaziguado pelo "Suspiro" (Ana Paula Marinho) dividido em voz com Duncan. Mas antes de falar sobre um tempo que nunca o levou para longe de Paula, a autora da canção, Almério foi às lágrimas.
"Eu tô à flor da pele, tá?", "desculpou-se", ao discorrer sobre a própria vida e trajetória, que exigiram dele muitos desertos antes de desembocar em água. "Nossa trajetória é muito árdua, deixei amigos, muitos, pelo caminho, fiquei longe da família, me vi sozinho no mundo. A gente sabe que é um caminho sem volta quando se está disposto a tudo para cantar", desafoga Almério, para depois avisar:
"(Sou) Escorpião, mulher, com capricórnio e lua em leão"
Três décadas de amizade
Voltando a "Suspiro", Ana Paula Marinho dedicou a música ao amigo de Altinho, com quem também dividia audições de disco de Zélia Duncan e como fãs, foi com ela que Almério dividiu a faixa em mais uma participação especial no disco.
Zé Manoel também chega com participação especial em "Antes de Você Chegar", composta em parceria com a mineira Ceumar. Já Mariana Aydar e Juliana Linhares adentra em "Beijo, Beijo", em composição selada por mais um duo com Juliano Holanda.
O tom festivo que qualifica o disco segue em "Me Conheço" (Almério/Marcelo Rangel) para ser "quebrado" pelo momento com Bethânia.
Para anunciar a maior voz
"É uma quebra proposital, primeiro para anunciar a maior voz, a maior cantora de todos os tempos do mundo para mim, a maior, a deusa Bethânia (...)", ressalta Almério para falar de "Quero Você" (Isabela Moraes/Almério), concebida em 2018 em uma despretensiosa mesa de bar no Vale do Anhangabaú (SP).
Entregue posteriormente a Maria Bethânia, que a recebeu sob a afirmação de que Yansã soprou os ventos da canção para que chegasse até ela, "Quero Você" integra trilha da global "Renascer".
Voltando à atmosfera festiva, "Boy Magia" paira sobre a noite de Recife, em letra p-e-s-s-o-a-l-í-s-s-i-m-a "No Liamba, desde a Praça do Arsenal", quando dois homens gastando calor abraçam-se "quase (como) uma prece", culminado nos "Malabares" da faixa derradeira que termina em Carnaval, com letra assinada em parceria com Joana Terra e Ezter Liu, integrantes do rol de 'gentes' que engrossaram a máxima da arte que resiste e persiste em salvar a tantos.
"Meu nome termina com um rio, 'AlméRIO' (...) e água é fertilidade e prosperidade. A minha arte está do tamanho que eu sempre trabalhei para que ela estivesse".