Trump diz que julgamento sobre caso de suborno de ex-atriz pornô é um "ataque aos EUA"
Republicano começa a ser julgado em caso inédito nesta segunda por suposta compra de silêncio de Stormy Daniels, com quem teria tido um caso, para evitar impactos a sua campanha em 2016
O ex-presidente Donald Trump afirmou, nesta segunda-feira, que o seu julgamento em Nova York — no qual é suspeito de tentar comprar o silêncio de uma ex-atriz pornô, em 2016 — é um "ataque aos EUA" e uma "perseguição política".
O republicano, que concorre novamente à Presidência neste ano, chegou nesta manhã a um tribunal nova-iorquino para um caso inédito na História dos EUA, já que é o primeiro ex-presidente a enfrentar um julgamento criminal.
— Ninguém nunca viu nada parecido antes — alegou o ex-presidente aos repórteres antes de entrar no tribunal. — Não há caso algum.
Vestido com sua característica gravata vermelha e terno azul-escuro, o candidato republicano de 77 anos cumprimentou as pessoas que o esperavam na saída da Trump Tower pouco antes de seguir até o Tribunal Criminal de Manhattan. O magnata, intimado a comparecer ao julgamento, chegou no local depois das 9h (horário local), quando o tribunal ainda estava vazio. Segundo a CNN, seus ombros estavam curvados, embora o queixo estivesse erguido e sua expressão, severa.
O calendário do julgamento foi definido, e o próximo passo é a seleção do júri, que definirá por unanimidade se o magnata é 'culpado" ou "inocente", fase que pode durar vários dias. O júri será composto por 12 nova-iorquinos e seis suplentes, e sua formação marcará o início oficial do julgamento.
Eles serão escolhidos após as respostas a um questionário minucioso sobre as suas preferências políticas e, sobretudo, sobre sua imparcialidade e capacidade de definir o destino de um dos políticos mais influentes dos últimos anos, tanto nos Estados Unidos como no mundo.
A seleção — atrasada em cerca de uma hora — pode durar duas semanas ou mais, e o julgamento pode se estender até julho. Além disso, a escolha do júri, que será anônimo para evitar pressões, será crucial para ambos os lados, uma vez que Manhattan é um dos condados mais democratas do país.
'Muito em jogo'
A audiência foi aberta com a frase "Este é o povo do estado de Nova York contra Donald Trump". Ainda nos minutos iniciais do julgamento, o juiz colombiano Juan Merchan, que supervisiona o julgamento, negou a moção de recusa apresentada por Trump, afirmando, segundo a CNN, que não irá considerá-la novamente até que o Tribunal de Apelações delibere.
Os advogados do republicano pediam para que o juiz deixasse o caso, citando o trabalho de sua filha como consultora política democrata. Mas o gabinete afirmou que não há conflito de interesses, e especialistas em ética judicial ouvidos pelo New York Times lançaram dúvidas sobre a moção, afirmando que o juiz não tem responsabilidade pela carreira da filha. As tentativas seriam, portanto, para tentar adiar o processo.
— Há muito em jogo, porque Trump e os seus advogados conseguiram até agora atrasar os [outros] julgamentos que estão pendentes pelas tentativas de reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020 e por sua gestão dos documentos confidenciais que ele levou para sua residência quando deixou da Casa Branca — explicou à AFP Carl Tobias, professor de Direito da Universidade de Richmond.
No momento, o processo desta segunda é o caso mais frágil das diferentes questões jurídicas que Trump enfrenta, segundo os analistas, e parece ser o único que será julgado antes das eleições, apesar das várias tentativas dos seus advogados para adiá-lo.
O tribunal de Manhattan também está em alerta máximo para prováveis manifestações que, segundo autoridades, podem partir tanto de seguidores quanto de oponentes do empresário, além da presença de jornalistas de todo o mundo. Diferente de outros estados, não são permitidas câmeras de televisão nos tribunais de Nova York.
Entenda o caso
No caso inédito para a História americana, no qual Trump se torna o primeiro ex-presidente do país a enfrentar um julgamento criminal, o republicano é acusado de comprar o silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniels sobre uma relação sexual que ela supostamente teria tido com o ex-presidente em 2006, então casado com Melania Trump.
O suborno teria ocorrido no âmbito da corrida presidencial em 2016, quando concorria à Casa Branca contra a candidata pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, para tentar proteger sua campanha. Os pagamentos que somaram US$ 130 mil (R$ 660 mil, na cotação atual) foram revelados pelo jornal Wall Street Journal em 2018, quando Trump já era presidente.
Para a acusação, a questão central é que Trump disfarçou a transferência como "honorários legais" nas contas de sua empresa, a Organização Trump. O dinheiro tinha como objetivo reembolsar o seu advogado Michael Cohen, responsável pelos pagamentos, pela quantia que ele pagou do próprio bolso a Daniels. O advogado é a testemunha-chave do processo, passando em apenas dois anos de principal aliado e protetor do ex-presidente para a principal testemunha do caso. Cohen foi condenado a três anos de prisão após se declarar culpado.
Neste caso, Trump é acusado de ter "ocultado a razão destes pagamentos", apesar de "terem sido claramente pagos com o objetivo de influenciar os eleitores", explicou à AFP Bennett Gershman, ex-procurador de Nova York e professor de Direito na Universidade de Pace. O republicano foi indicado por um grande júri por 34 acusações de falsificação de registros contábeis para cometer um crime, delito relacionado às leis de financiamento de campanha dos EUA.
O julgamento é apenas um entre outros três que o republicano enfrenta em tribunais americanos. Além do suposto pagamento à ex-atriz pornô, Trump também é acusado de aplicar esforços para reverter o resultado das eleições de 2020, as quais perdeu para Joe Biden, e seu papel nos eventos que levaram ao ataque do Capitólio. Ele também é acusado de tentar interferir na contagem de votos no estado da Geórgia, além de retirar e manusear documentos secretos do governo após deixar a Casa Branca.
Se for condenado, pode pegar até quatro anos prisão, o que não seria um obstáculos para sua candidatura, e muito menos para sua posse, caso seja eleito — embora, mais uma vez, inaugure uma situação sem precedentes.