Começa julgamento histórico contra Donald Trump em Nova York
O juiz de instrução Juan M. Merchan, de origem colombiana, iniciou o julgamento
O julgamento criminal contra Donald Trump, o primeiro ex-presidente da história dos Estados Unidos a sentar-se no banco dos réus, começou nesta segunda-feira (15) em um tribunal de Nova York, em plena campanha presidencial de 2024.
O juiz de instrução Juan M. Merchan, de origem colombiana, iniciou o julgamento e, mais uma vez, rejeitou o pedido do magnata de 77 anos para se afastar do caso.
Para o republicano, quase certamente o candidato do seu partido às eleições presidenciais de novembro, o julgamento é uma "perseguição política" orquestrada pelos democratas para impedi-lo de realizar o seu sonho de retornar à Casa Branca.
"Isso é um ataque aos Estados Unidos. Nunca aconteceu nada parecido", disse o magnata conservador ao chegar ao tribunal onde é julgado, acusado de esconder um pagamento de 130 mil dólares à ex-atriz pornô Stormy Daniels para comprar seu silêncio sobre uma relação extraconjugal e assim proteger sua campanha de 2016, que acabou vencendo contra a democrata Hillary Clinton.
O empresário não foi acusado pelo pagamento em si, mas por disfarçá-lo como despesas legais da Trump Organization, a empresa da família, o que pode resultar em uma pena de até quatro anos de prisão.
A sentença, no entanto, não seria um obstáculo para sua candidatura nas eleições presidenciais de 5 de novembro, quando enfrentará pela segunda vez o democrata Joe Biden, que o derrotou na disputa de 2020.
Ele também poderia tomar posse como presidente, embora em uma situação sem precedentes.
Seleção do júri
Depois de um debate entre o juiz e a Promotoria sobre quais provas incluir, o julgamento deveria proceder à seleção dos doze jurados e seis suplentes que terão a responsabilidade de declarar por unanimidade o magnata "culpado" ou "inocente", um processo que pode levar vários dias.
Os candidatos têm que responder a um questionário minucioso sobre as suas preferências políticas e, sobretudo, sobre sua imparcialidade e capacidade de definir o destino de um dos políticos mais influentes dos últimos anos, tanto nos Estados Unidos como no mundo.
O empresário é acusado de 34 falsificações de documentos contábeis da Trump Organization para camuflar como "despesas legais" os pagamentos feitos a Stormy Daniels, que foram adiantados com dinheiro do então advogado e homem de confiança de Trump, Michael Cohen, atualmente grande inimigo do ex-presidente e que será uma das principais testemunhas da acusação.
O julgamento terá de demonstrar que Trump tinha consciência dos pagamentos, pelos quais Cohen já foi condenado.
"Muito em jogo"
Esta é uma das muitas frentes jurídicas abertas contra o magnata nova-iorquino, que acumulou fortuna no setor imobiliário e na construção de campos de golfe e afirma ser vítima de "uma caça às bruxas".
Será provavelmente o único julgamento a acontecer antes das eleições de 5 de novembro.
O candidato republicano também é acusado por tentar reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020 e pela gestão de documentos confidenciais que levou para casa quando saiu da Casa Branca.
"Há muito em jogo, porque Trump e seus advogados conseguiram até agora adiar os (outros) julgamentos", disse à AFP Carl Tobias, professor de direito da Universidade de Richmond.
Mas longe de prejudicar a sua corrida presidencial, cada problema com a lei parece reforçar a sua popularidade entre os seus apoiadores.
No sábado, em um comício na Pensilvânia, Trump voltou a afirmar que é vítima de perseguição judicial e política dos democratas.
"Nossos inimigos querem tirar minha liberdade porque nunca permitirei que tirem a de vocês", declarou a seus simpatizantes.
Trump deve prestar depoimento no julgamento, que pode durar entre seis e oito semanas.
Em alerta máximo, alguns apoiadores e críticos do magnata manifestaram-se em frente ao tribunal de Manhattan, no sul de Nova York, isolado pela polícia.
Ao contrário de outros estados, as câmeras de televisão não estão autorizadas nos tribunais de Nova York, o que significa que apenas a imprensa escrita vai relatar o desenvolvimento do julgamento, que desperta grande interesse.
As ações da empresa de mídia de Donald Trump, Trump Media and Technology Group, despencaram em Wall Street nesta segunda-feira.
As ações da TMTG, que controla a rede social Truth Social do presidente, perderam 15,91%, a US$ 27,41 (R$ 140,77), por volta das 11h50 (horário de Brasília), no primeiro dia do processo judicial.