"Geografia Visceral Nordestina" de Alceu Valença é tema de exposição em Olinda

A partir desta quinta-feira (18), na Casa Estação da Luz, mostra - com curadoria de Rafael Todeschini - passeia por vida e obra do cantor e compositor pernambucano

Exposição, na Casa Estação da Luz, foi aberta nesta quinta-feira (18) - Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

"Aqui (na exposição) é mais fácil conhecer Alceu do que me conhecer mesmo, porque quando me conhece eu estou no tempo presente, e aqui eu estou no presente, passado e futuro". 

Embora da prosa (e dos versos), e quase sempre sem pressa para ponto final, Alceu Valença foi prático o bastante para definir a sua "Geografia Visceral Nordestina" - exposição em cartaz a partir desta quinta-feira (18) na Casa Estação da Luz, em Olinda.

A mostra é tomada por fotografias, vídeos, entrevistas e outras tantas peças do acervo pessoal do cantor e compositor pernambucano, que há pelo menos cinco décadas revoa pela arte, em  trajetória iniciada em São Bento do Una, no Agreste, onde nasceu, para seguir adiante mundo afora e tornar-se "vários Alceus", como ele próprio se coloca na mostra, cuja curadoria é assinada por Rafael Antonio Todeschini.

Crédito: Hannah Carvalho

"São vários Alceus. Alceu garoto, Alceu bebê, adolescente, já maduro e é o que não envelhece, sou eu, um Alceu que vive na embolada do tempo, passado, presente e futuro, tudo ao mesmo tempo", gaba-se, em conversa com a Folha de Pernambuco, o multifacetado artista, que reverbera regionalidades e leva a arte para universos indefinidos - mas identificados sob a sua própria perspectiva de mundo, de música e de ideais cantados (e contados).

 



Um percurso  explorado na exposição, cujo "imaginário nordestino de paisagens, ritmos, expressões, lugares, frutas, bichos e tantos amores", vêm à tona, como bem define Rafael - hoje conhecedor da obra de Alceu, outrora um "mero" fã de passagem em um show do pernambucano no Rio de Janeiro.

"Eu morava no Rio, estudava por lá, era 2007 e teve um show no Morro da Urca com Alceu, fui, curti e dali segui para um bar, o mesmo que ele foi depois da apresentação", conta Rafael, natural de Aracaju e, portanto, de sangue também nordestino - do tipo que não hesita em adiantar-se em iniciar um papo que lhe renderia, para além da amizade, trabalhos e parcerias com Alceu Valença, sendo o mais recente, a exposição. 

"Vamos ficar amigos"
Rafael recebeu o convite de Alceu para que se tornassem amigos já que, segundo o próprio, "(...) estava difícil achar quem goste de conversar. Vamos ficar amigos".

E assim se deu o caminho que passou a ser fincado por parcerias e mergulhos intensos em vida e obra de um dos artistas incontestáveis da música e da arte como um todo.

"Alceu Valença, uma Geografia Visceral Nordestina" passa por imagens em preto e branco, em ordem cronológica de infância à fase adulta, trilhando ainda pelo primeiro Rock in Rio (1985) em que Alceu, no palco, entoou "Anunciação" e decretou a música como uma espécie de ode por dias melhores - vale ressaltar, os idos anos de 1980 trouxeram de volta a arte e seus fazedores, reprimidos pelos tempos sombrios da ditadura militar.

Alceu e o curador, Rafael Todeschini | Crédito: Hannah Carvalho

"O nome da exposição, 'Uma Geografia Visceral Nordestina', foi pensado não como um recurso retórico, mas para reforçar que Alceu sempre combateu a perspectiva colonizadora, e o seu regional é expansivo e universal", complementa Rafael.

Um passeio saudosista
"Essa exposição está maravilhosa porque, sinceramente? Têm muitas coisas que eu não lembrava, mas que vivenciei e está aqui tudo, a partir de uma pesquisa feita por Rafael", destaca Alceu, que também se remete à biografia de autoria de Julio Moura, "Alceu Valença, Pelas Ruas que Andei" (Cepe, 2023), como contribuição à consolidação da exposição - concebida a partir de um 'pedido' feito por Yanê, esposa do artista pernambucano, ao curador, Rafael Todeschini.

"Ela me ligou e plantou, digamos, uma sementinha para que eu ficasse à frente de uma exposição sobre Alceu. Foram dois anos intensos, mergulhado em sua vida e obra", conta Rafael.

Em meio a seis salas na Estação da Luz, a mostra percorre a trajetória 'Valenciana' desde uma réplica, em cerâmica, assinada pela artista Aline Feitosa, que reproduz a casa da Fazenda Riachão, em São Bento do Una, passando ainda por um acervo robusto de fotografias de Mário Luiz Thompson - a quem Alceu concedeu entrevista memorável no início da década de 1980. Léo Aversa, Cafi, Carlos Horcades, Tânia Quaresma e Toinho Melcop também integram o rol de imagens da exposição, que mostra também Alceu no cinema e em apresentação ao lado de Paulo Rafael na França, em 1979.

Serviço
Exposição "Alceu Valença, uma Geografia Visceral Nordestina"
Quando: até 18 de agosto
Onde: Casa Estação da Luz - Rua Prudente de Moraes, 313, Carmo, Olinda
Ingressos a partir de R$ 10 no Sympla
Visitação de terça a sexta: das 10h às 17h // Sábados e domingos de 10h às 14h
Informações: (81) 9 9993-1331 // @casaestacaodaluz