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Emirados Árabes negam ter usado sistema de "chuva artificial" antes de grandes inundações; entenda

Técnica consiste em "bombardear" nuvens com produtos químicos específicos para que ocorram precipitações; método é usado para lidar com escassez de água

Veículos trafegam em estrada alagada durante chuva torrencial em Dubai - Giuseppe Cacace / AFP

O Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes Unidos, uma força-tarefa responsável por missões de semeadura de nuvens no país, negou os relatos de que teria realizado a técnica de modificação do clima antes das fortes tempestades registradas na região. Segundo a agência Associated Press, meteorologistas locais pontuaram que o órgão realizou seis ou sete voos de “semeadura de chuvas” dias antes das tempestades.

Apenas em Dubai, os 254 milímetros de chuva reportados foram equivalentes a dois anos de precipitação.

Mas o que é, afinal, o método de “chuva artificial” utilizado no país? Ainda de acordo com a Associated Press, a técnica consiste em “bombardear” nuvens com produtos químicos específicos, como o iodeto de prata ou gelo seco. Lançadas por meio de voos operados pelo governo, essas substâncias são direcionadas às nuvens consideradas capazes de fazer chover. Segundo a revista americana Newsweek, o uso de drones para estimular artificialmente as chuvas é resultado de um investimento de US$ 15 milhões (R$ 78,5 milhões, na cotação atual).

A técnica existe há décadas, e os Emirados Árabes Unidos a têm usado nos últimos anos para ajudar a resolver o problema de escassez de água. Relatos publicados por veículos internacionais sugeriram que aeronaves de semeadura de nuvens foram utilizadas no domingo e na segunda-feira, mas não na terça-feira, quando ocorreram as inundações. Ainda que a informação não possa ser verificada de maneira independente, especialistas ouvidos pela BBC pontuam que a atmosfera já estava transportando mais água e que focar no método é “enganoso”.

"Quando sistemas tão intensos e de grande escala são previstos, a semeadura de nuvens, que é um processo caro, não é realizada porque [não há] necessidade de semear tais sistemas fortes de escala regional" afirmou Diana Francis, chefe das Ciências Ambientais e Geofísicas da Universidade Khalifa, em Abu Dhabi.

Conforme publicado pela BBC, um sistema meteorológico de baixa pressão “isolado” trouxe ar quente e úmido e bloqueou outros sistemas meteorológicos de passarem. Esta seria a principal razão para as chuvas intensas que atingiram a região, que geralmente é seca. O meteorologista Maarten Ambaum, da Universidade de Reading, explicou que “esta parte do mundo é caracterizada por longos períodos sem chuva” seguidos de “chuvas irregulares e intensas”. Ele pontuou, no entanto, que “este foi um evento muito raro”: as precipitações foram as maiores em 75 anos.

"A intensidade da chuva foi recorde, mas isso é consistente com um clima quente, com mais umidade disponível para alimentar tempestades e tornar eventos de chuvas intensas e as inundações associadas mais potentes" disse Richard Allan, professor de ciências climáticas na Universidade de Reading, à rede britânica.

Nova realidade
Em Dubai, as gigantescas rodovias foram congestionadas por causa das inundações, e os passageiros do aeroporto foram aconselhados a ficar longe da região na quarta-feira. A companhia aérea Emirates, a principal da região, cancelou todos os check-ins. Pelo menos uma pessoa morreu após ter o carro arrastado pela chuva. As tempestades que atingiram os Emirados Árabes Unidos foram as mais severas desde o início dos registros, em 1949. Elas afetaram a região após terem passado por Oman, onde 19 pessoas morreram, incluindo crianças.

Segundo a NBC, a infraestrutura e os edifícios dos Emirados Árabes Unidos são projetados para resistir a padrões climáticos típicos da região, como chuvas mínimas — em Dubai, o volume de chuva esperado para um ano inteiro é de cerca de 94,7 milímetros. Os sistemas de drenagem do país enfrentaram problemas para lidar com as chuvas torrenciais, o que resultou no cenário caótico testemunhado na região. Diana Francis, da Universidade Khalifa, ressaltou que “é necessário haver estratégias de adaptação para essa nova realidade”.

"Por exemplo, a infraestrutura de estradas e instalações precisa ser adaptada, construindo reservatórios para armazenar água da chuva da primavera e usá-la mais tarde no ano.

As missões de semeadura foram introduzidas na década de 1990, e mais de 1 mil horas de semeadura de nuvens são realizadas anualmente. Nesta quarta-feira, o Centro Nacional de Meteorologia afirmou à CNBC que não enviou pilotos para operações de semeadura antes ou durante a tempestade registrada no país. Omar Al Yazeedi, vice-diretor geral do órgão, disse que a agência leva “muito a sério a segurança” da população, e que “não realiza a semeadura durante eventos climáticos extremos”.