Estados Unidos

No Conselho de Segurança, EUA vetam adesão plena da Palestina às Nações Unidas

País foi o único a votar contra a medida, apoiada por outras 12 nações; embaixador palestino disse que entrada na ONU 'pavimentaria caminho para a paz'

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden - Jim Watson/AFP

Os Estados Unidos vetaram nesta quinta-feira uma resolução no Conselho de Segurança para a admissão da Palestina como membro das Nações Unidas, confirmando um discurso defendido há décadas em Washington que defende uma discussão política, envolvendo Israel, antes de qualquer tipo de reconhecimento do Estado palestino. O país foi o único a votar contra a resolução, que teve o apoio de outros 12 países, com duas abstenções.

A resolução, uma das mais curtas da história da ONU, foi apresentada pela Argélia, e recomendava que "o Estado da Palestina seja admitido como membro nas Nações Unidas". Para ser aprovado, o texto precisava de ao menos nove votos dos 15 membros do Conselho de Segurança, e não ser vetado pelos países com assento permanente — EUA, Reino Unido, França, Rússia e China. Caso superasse a etapa, seria submetido à Assembleia-Geral, onde deveria obter ao menos dois terços dos votos.

Antes da votação, o representante palestino na ONU, Ziad Abu Amr, disse que a admissão do Estado palestino na organização "pavimentaria o caminho para a paz verdadeira através da justiça". Ele mencionou o contexto em que ocorreu a votação, com a guerra na Faixa de Gaza em seu sétimo mês, com mais de 30 mil vítimas e um rastro de destruição no território controlado pelo grupo terrorista Hamas.

— Tal decisão de garantir a adesão plena seria um pilar importante para atingir a paz, porque o conflito Israel-Palestina agora vai além das fronteiras de Palestina e Israel, e impacta outras regiões do Oriente Médio e do mundo — disse Abu Amr. — Então acreditamos que é o momento para que o Conselho de Segurança assuma sua responsabilidade histórica e faça justiça ao povo palestino, aprovando a resolução para aceitar a Palestina como membro pleno da ONU.

A Palestina tem um status de país observador permanente na ONU, permitindo que participe dos procedimentos e atividades da Organização, mas não traz o direito a voto em resoluções e decisões nos principais órgãos do sistema ONU. No começo do mês, a delegação palestina remeteu novamente o pedido de adesão plena ao secretário-geral, e o tema foi submetido à Comissão de Admissão de Estados-Membros, subordinada ao Conselho de Segurança.

Na votação da tarde desta quinta-feira, a resolução defendendo a admissão foi aprovada por 12 países do Conselho: Argélia, Moçambique, Serra Leoa, Guiana, Equador, Rússia, China, França, Eslovênia, Malta, Japão e Coreia do Sul. Reino Unido e Suíça se abstiveram, e os EUA exerceram seu direito a veto e derrubaram a iniciativa.

— O objetivo [do veto] é romper o ímpeto dos palestinos, forçá-los, de uma vezs por todas, a se submeterem a uma força de ocupação, torná-los servos e pessoas de segunda classe, e talvez, de uma vez por todas, expulsá-los de seu território nativo — afirmou o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzia, pouco depois do resultado ser anunciado.

Antes da votação, um porta-voz do Departamento de Estado havia dito que o governo dos EUA era contra a resolução, afirmando que o governo americano "tem sido muito claro, de forma consistente, que ações prematuras em Nova York não levarão a um Estado para o povo palestino".

— O melhor caminho para se chegar a um Estado para o povo palestino é através de negociações diretas entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina, com o apoio dos EUA e outros parceiros que compartilhem esse objetivo — disse Vedant Patel à CNN.

Durante a sessão no Conselho, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, disse que a resolução "não teria qualquer efeito positivo para os envolvidos, causaria destruição por anos e afetaria qualquer chance para um diálogo futuro". Ele completou afirmando que a Autoridade Nacional Palestina não controla Gaza e a Cisjordânia, e que a iniciativa na ONU tem apenas "interesses políticos".

Hoje, 139 países reconhecem o Estado palestino, incluindo o Brasil, que o fez em dezembro de 2010. Em intervenção no Conselho de Segurança, o chanceler Mauro Vieira disse que "chegou a hora da comunidade internacional finalmente receber o Estado da Palestina, totalmente soberano e independente, como novo membro das Nações Unidas".

— Os últimos acontecimentos no Oriente Médio são mais uma prova de que uma solução duradoura e sustentável para a questão palestina não é apenas um imperativo moral. É um pré-requisito estratégico para a estabilidade regional e global — disse Vieira. — A paz e a estabilidade no Oriente Médio só poderão ser alcançadas quando as legítimas aspirações do povo palestino à autodeterminação e à condição de Estado forem atendidas.