Bolsonaro convoca apoiadores em Copacabana contra "ameaça" à liberdade
"O mundo todo toma conhecimento de quanto está ameaçada nossa liberdade de expressão", disse o político de extrema direita
O ex-presidente Jair Bolsonaro lidera neste domingo(21) um ato no Rio de Janeiro para defender a liberdade de expressão, em sua opinião, ameaçada no Brasil, em meio a uma disputa entre a Justiça e o magnata Elon Musk devido à censura e desinformação.
Centenas de apoiadores do ex-presidente se concentraram logo cedo em frente à praia de Copacabana, constatou a AFP.
"O mundo todo toma conhecimento de quanto está ameaçada nossa liberdade de expressão", disse o político de extrema direita, de 69 anos, em um vídeo publicado na quinta-feira em suas redes sociais.
"Vamos fazer o nosso ato pacífico, em defesa da democracia, pela nossa liberdade. Sem cartazes, sem qualquer faixa", pediu.
Bolsonaro recorreu ao argumento da defesa da liberdade para convocar seus apoiadores depois que Musk, proprietário da plataforma X, fez críticas contundentes ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Em nome do combate à desinformação, Moraes determinou o bloqueio das contas de usuários em plataformas de internet, entre elas a X, principalmente contra tentativas de bolsonaristas de desacreditar o sistema de votação durante a última campanha eleitoral.
O magnata americano, que não esconde sua afinidade com Bolsonaro, chamou Moraes de "ditador" e disse que deveria ser destituído. Também ameaçou desobedecer suas ordens judiciais de suspender contas.
Em resposta, o magistrado determinou a investigação de Musk, acusando-o de "instrumentalizar" a plataforma.
- Escalada da tensão -
A briga entre os dois se estendeu a toda a esfera política e jurídica do Brasil.
Outros membros do STF se pronunciaram em apoio a Moraes, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em um ato recente que "se pudesse, iria fazer um decreto: é proibido mentir. Quem mentir vai ser preso", sem mencionar Musk diretamente.
Moraes multiplicou seus discursos públicos nos últimos dias e na sexta-feira afirmou que a Justiça brasileira está acostumada "a combater mercantilistas estrangeiros que tratam o Brasil como colônia".
A Defensoria Pública pediu à Justiça que a plataforma X seja condenada a pagar um bilhão de reais em indenizações por danos morais coletivos e sociais ao Brasil, segundo a imprensa.
Parlamentares bolsonaristas e outros aliados acusaram o STF de estar alinhado ao governo de Lula e de minar a democracia e as liberdades.
Um comitê da Câmara de Representantes dos Estados Unidos divulgou na quinta-feira um relatório de centenas de páginas com decisões de Moraes que envolvem o X e outras plataformas digitais.
Na semana passada, a representação da rede social X no Brasil se comprometeu a cumprir as ordens do STF, segundo um documento obtido na terça-feira pela AFP.
- À sombra da Justiça -
A manifestação bolsonarista foi marcada dois meses após o político retornar à arena pública, com uma demonstração de força em São Paulo, que reuniu cerca de 185.000 pessoas, segundo estimativas.
Inabilitado para disputar eleições até 2030 por desinformação sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente(2019-2022) tem se dedicado nos últimos meses a percorrer o país para encontrar seus apoiadores.
Bolsonaro é alvo de várias investigações judicias. A suspeita mais grave é de que teria conspirado para evitar que Lula assumisse o poder após as eleições de 2022.
Os investigadores analisam um documento que, supostamente, esteve nas mãos de Bolsonaro e destinado, segundo eles, a impedir o acesso ao poder do presidente legitimamente eleito, convocar novas eleições e deter Moraes, presidente também do Tribunal Superior Eleitoral.
O ex-presidente declara inocência e se diz vítima de perseguição.