ESCRITA

"A literatura tem o papel da descoberta do conhecimento", diz Mário Hélio, novo membro da APL

O mais novo imortal da Academia Pernambucana de Letras participou de entrevista na Rádio Folha 96.7 FM

Mário Hélio, jornalista, escritor e historiador - Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Novo imortal da Academia Pernambucana de Letras (APL), Mário Hélio Gomes foi um dos entrevistados do programa “Na Playlist”, da Rádio Folha 96.7 FM, na tarde desta terça-feira (23). Durante o bate-papo, o escritor, jornalista e historiador falou sobre a posse na tradicional instituição, sua história, interesses como escritor e preferências literárias. 

IMORTAL
É interessante esse termo “imortal”, que todos empregam tradicionalmente. Claro que é uma expressão simbólica, porque esse costume vem da academia francesa. Essa expressão “imortalidade”, obviamente, está associada à língua em que os escritores se expressam, e é uma ideia coletiva, não individual. Em si mesmo seria uma contradição, levando em conta que cada acadêmico só desocupa a cadeira quando morre. Então, essa imortalidade se refere à sequência da própria academia e do idioma. 

PAPEL DA APL
O papel das academias de uma maneira ampla e, em particular, as de letras, mais especificamente a Academia Pernambucana de Letras, sempre foi equilibrar a tradição que vem do passado com o novo. Essas academias, às vezes, pendem demais para o passado e, por isso mesmo, dão a impressão ao público que não as acompanham diretamente, que são instituições conservadoras, voltadas mais para a conservação do idioma e não para a transformação dele. Penso que o papel da academia, nesse aspecto, é invariável. É equilibrar o passado com o presente, apontar para o futuro, motivar, alimentar e possibilitar a renovação. 

GILBERTO FREYRE
Gilberto é, provavelmente, o pernambucano que melhor interpretou o Brasil e que, inclusive, inventou a forma como compreendemos o País. Os quatro livros que escrevi sobre ele aconteceram de uma maneira muito espontânea. O primeiro foi quando aconteceu o centenário de Gilberto Freyre, em 2000. Não tinha nenhuma pretensão de escrever um livro sobre ele, mas o Jornal da Tarde, de São Paulo, me pediu para escrever uma longa reportagem. Eu fiz e, depois, um amigo sugeriu que eu ampliasse aquele texto em um guia para jovens estudantes. E assim nasceu “O Brasil de Gilberto Freyre”, que é um estímulo para que as pessoas leiam a obra dele.

PREFERÊNCIA POÉTICA
Sem dúvidas, o gênero [literário] supremo é a poesia. É o que parece mais fácil, mas é exatamente o contrário. É o mais exigente. Todos os grandes autores começam tentando escrever poesia. Podemos dizer que, no meu caso, a exigência da arte, da métrica, do ritmo e poder de síntese torna muito mais difícil escrever um poema curto do que uma longa reportagem, uma biografia ou um livro de antropologia. Essas outras coisas você escreve somando várias coisas. A poesia é somente o que você tem de imaginação e domínio da linguagem, para que cause um impacto emocional apenas a partir da orquestração das palavras. 

AOS JOVENS ESCRITORES
Vivemos em um mundo povoado de redes sociais e de contatos, mas, paradoxalmente, muito solitário. Penso que a literatura, seja qual for o gênero, tem o papel - no caso dos jovens - da descoberta do conhecimento. Descobrir a curiosidade de escrever nos dá duas coisas muito prazerosas. A primeira é que é muito divertido ler e escrever, sendo que não custa nada. Isso lhe proporciona descobrir mundos de forma ilimitada Então, não há trabalho mais livre do que o do escritor. Além disso, conhecer é muito importante e, com o advento da Inteligência Artificial, se tornou ainda mais importante estimular a inteligência natural.