Israel lança ofensiva no sul do Líbano e continua bombardeando Gaza
Os alvos desta quarta foram na região de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, e em Rafah, no sul, de acordo com as autoridades locais
Israel anunciou nesta quarta-feira (24) que lançou uma "ação ofensiva" no sul do Líbano, na qual bombardeou posições do movimento xiita pró-Irã Hezbollah, e continuou bombardeando a Faixa de Gaza em sua guerra contra o Hamas.
O grupo islamista palestino divulgou no mesmo dia um vídeo de um homem, de dupla nacionalidade americana e israelense, apresentado como um dos 129 reféns sequestrados em seu ataque de 7 de outubro no sul de Israel, que deu origem ao atual conflito.
Na fronteira norte, as forças israelenses declararam que suas operações cobrem "todo o sul" do Líbano e afirmaram que bombardearam 40 alvos do Hezbollah na região de Aita al Shaab.
"Várias forças estão mobilizadas na fronteira", anunciou o ministro da Defesa Yoav Gallant, afirmando que "metade" dos comandantes do movimento libanês na região foi "eliminada" nos confrontos dos últimos meses e que "a outra metade se esconde e deixa o terreno diante das operações" militares israelenses.
Até o momento, o Hezbollah não reagiu e a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Finul) indicou que não foram registrados confrontos na fronteira.
O grupo pró-Irã libanês reivindicou o lançamento de "dezenas" de foguetes contra o norte de Israel, em represália pela morte dos civis em um bombardeio atribuído ao Exército israelense no sul do Líbano.
Israel com a mira em Rafah
Os bombardeios israelenses em Gaza deixaram 79 mortos nas últimas 24 horas, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, governado pelo Hamas desde 2007.
Os alvos desta quarta foram na região de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, e em Rafah, no sul, de acordo com as autoridades locais.
"Não somos terroristas", disse à AFP Robhi El Hut, um morador de Deir el Balah, no centro de Gaza, que perdeu sua casa em um bombardeio.
A comunidade internacional teme uma operação militar em Rafah, onde estão aglomeradas 1,5 milhão de pessoas, a grande maioria deslocadas de outras áreas do território palestino devido à guerra.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insiste há várias semanas que a cidade, na fronteira com o Egito, é o último bastião do Hamas e que poderia haver reféns israelenses ali.
O porta-voz do governo israelense, David Mencer, disse que "duas brigadas de reservistas foram mobilizadas para operações" em Gaza.
Fontes do governo do Egito, citadas pelo Wall Street Journal, afirmaram que Israel se prepara para transferir os civis de Rafah para a cidade de Khan Yunis, onde pretende instalar barracas e centros de distribuição de refeições.
A operação de retirada duraria duas ou três semanas e aconteceria em coordenação com Estados Unidos, Egito e outros países árabes, segundo as mesmas fontes.
Uma operação do tipo "seria um crime", declarou à AFP o diretor do serviço de imprensa do governo em Gaza, Ismail Al Thawabta, insistindo em que o centro do território e a cidade de Khan Yunis "não podem receber de forma alguma" os deslocados de Rafah.
O conflito começou em 7 de outubro com uma incursão de combatentes islamistas no sul de Israel. Eles assassinaram 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo uma estimativa da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Mais de 250 pessoas foram sequestradas e 129 continuam em cativeiro em Gaza. Israel acredita que 34 morreram.
Em resposta ao ataque, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas - considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia - e iniciou uma operação militar que deixou 34.262 mortos até o momento, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território.
Washington exige 'respostas'
Após mais de seis meses de guerra, os quase 2,4 milhões de habitantes de Gaza, sitiada pelas forças israelenses, correm risco de fome, segundo a ONU, que exige a chegada de mais ajuda humanitária.
Na terça-feira, a ONU pediu uma investigação internacional independente sobre as valas comuns encontradas nos dois principais hospitais da Faixa, Al Shifa e Nasser, denunciando o "clima de impunidade reinante".
E a Casa Branca exigiu "respostas" e "que isto seja investigado a fundo e com transparência" por parte do governo israelense, declarou Jake Sullivan, conselheiro para a Segurança Nacional do presidente Joe Biden, nesta quarta-feira.
A Defesa Civil de Gaza afirma que, nos últimos dias, exumou 340 corpos que tinham sido enterrados pelas forças israelenses em valas comuns cavadas na área do hospital Nasser de Khan Yunis.
Israel tachou essas acusações de "infundadas", afirmando que desenterrou e voltou a enterrar os corpos para averiguar se havia reféns entre eles.
Vídeo de refém
O Hamas divulgou um vídeo em seu canal no Telegram no qual aparece um refém que se apresenta como Hersh Goldberg-Polin, de 23 anos, sequestrado durante o festival de música Nova.
Em um comunicado, seus pais declararam-se "aliviados por vê-lo vivo", mas preocupados com seu estado de saúde.
Em Israel, Netanyahu enfrenta forte pressão interna para trabalhar pela libertação dos reféns. Mas as negociações indiretas, ligadas a uma trégua, estão paralisadas.
Dezenas de manifestantes se reuniram na noite desta quarta em frente à residência do primeiro-ministro em Jerusalém, com cartazes com os dizeres: "Tragam eles para casa."
No campo diplomático, Israel agradeceu aos Estados Unidos, seu principal aliado, pela ajuda militar de 13 bilhões de dólares (68 bilhões de reais, na cotação atual) para fortalecer, sobretudo, o sistema de defesa antiaérea Domo de Ferro.
A lei sancionada pelo presidente Joe Biden inclui a ajuda humanitária ao território palestino e insta Israel a "garantir que toda esta ajuda chegue sem demora" à população de Gaza.