Menos carne, mais comida vegetariana: dieta estratégica para atletas em Paris-2024 gera controvérsia
Organização dos Jogos pretende mostrar como alimentos podem ser produzidos de forma criativa e sustentável em meio a desafios sociais e ambientais
Estilo gourmet, mais produtos locais e mais comida vegetariana. Essa é a carta de apresentação do comitê organizador francês para receber os atletas nos Jogos Olímpicos do próximo mês de julho.
Segundo Paris-2024, durante os 15 dias em que acontecerão as competições, "serão servidas mais de 13 milhões de refeições, na maior operação de catering para um evento no mundo". O serviço será o equivalente ao fornecido em dez Copas do Mundo de futebol.
"Do café da manhã ao jantar, dos lanches aos buffets de recepção, Paris-2024 atenderá às necessidades dos atletas, voluntários, espectadores e jornalistas", promete a organização, que reconhece: "Como todos estarão na França, esperam poder comer bem".
Trata-se do "país da gastronomia" que admite passar, segundo os organizadores, "por grandes desafios climáticos e ambientais do mundo de hoje". Com isso, o serviço de refeições para atletas e outros envolvidos nas Olimpíadas foi descrito como um "desafio operacional, cultural e ambiental que todos os atores envolvidos nos Jogos estão dispostos a enfrentar".
E se os Jogos de Paris-2024 fossem uma oportunidade para descobrir uma nova forma de comer em estádios e eventos esportivos? A organização dos Jogos pretende usar a competição para destacar como podem ser produzidos alimentos de forma criativa e sustentável num grande evento internacional.
Os organizadores indicaram que a operação exige a mobilização em torno de uma missão: garantir que todo o mundo coma bem e com responsabilidade.
"A ambição de Paris 2024 para os Jogos é usar o conhecimento e a criatividade da culinária francesa para criar hábitos alimentares mais responsáveis nos estádios durante eventos esportivos", observaram.
Meta de vegetais
Neste contexto, comprometeram-se a reduzir pela metade as emissões da pegada de carbono dos Jogos, através da implementação de uma estratégia climática baseada na antecipação, na prevenção e na redução dos gases do efeito estufa. A "Visão Alimentar" de Paria prevê um quilo de CO² por refeição, ou seja, metade da pegada de carbono de dois quilos de gás carbônico emitido por cada refeição servida nas edições anteriores dos Jogos Olímpicos.
Entre as ações decisivas que permitiriam que isso fosse alcançado, disse a organização, estão a redução de proteínas animais, a oferta de mais frutas, vegetais e produtos vegetais e a utilização de produtos sazonais e locais para limitar as emissões no transporte de cargas, por exemplo.
Além disso, Paris-2024 afirma que pelo menos 60% das refeições colocadas à venda nos estabelecimentos serão vegetarianas — por exemplo, três sanduíches vegetarianos, pratos quentes e refeições frias e duas opções com carne ou peixe (exceto nos estádios que acolhem jogos de futebol, que oferecerão pelo menos 40% de comida vegetariana). A meta é que 60% do total de sanduíches, alimentos quentes e frios vendidos sejam vegetarianos.
Para isso, a organização elaborou um documento em conjunto com cerca de 120 organizações e 200 atletas "que visa a orientar todos os parceiros e futuros prestadores de serviços dos Jogos para uma ambição comum de alimentar o próprio público".
"Em comparação com os seus [Jogos] antecessores, Paris-2024 aumenta as suas ambições ambientais e sociais com objetivos estruturados em torno de seis compromissos principais, subdivididos em 60 subcompromissos para cada tipo de produto ou serviço, incluindo: carne 100% francesa e sustentável, laticínios franceses, 100% dos produtos provenientes da pesca sustentável, 100% ovos de galinhas criadas ao ar livre na França", detalhou Paris-2024.
Procurando manter esse impulso coletivo para eventos sustentáveis, os organizadores se comprometeram a atingir metas, como 80% de todos os alimentos vindos de França, pelo menos 30% sendo orgânicos e tendo uma redução mínima de 50% a 60% de produtos de origem animal (carne, peixe, laticínios e ovos) em todos os alimentos fornecidos.
— Mais vegetal, mais local, mais sustentável e igualmente delicioso: a nossa ambição é aproveitar a criatividade da cozinha francesa para impulsionar a transição alimentar — destacou o presidente do Comitê Paris-2024, Tony Estanguet.
O cardápio gerou críticas de instituições que defendem a ingestão de proteína animal. O Instituto de Promoção da Carne Argentina (Ipcva), por exemplo, destacou os atributos da carne como aliada estratégica do esporte, principalmente modalidades de alto rendimento, como fonte de proteína, ferro e de aminoácidos que promovem a manutenção e reparação de tecidos.
Para Jorge Tartaglione, presidente da Fundação Cardiológica Argentina, os atletas têm maior necessidade de nutrientes.
— Eles precisam de mais proteínas, vitaminas e minerais, como ferro. O fornecimento correto de energia e nutrientes é essencial para evitar lesões e melhorar o desempenho. A carne bovina, além de fornecer proteínas de alto valor biológico, também fornece vitaminas do grupo B, ferro, zinco e selênio, cujas necessidades são aumentadas durante a atividade física — disse.
A carne tem maior valor protéico do que as proteínas de origem vegetal. Por isso, para Tartaglione, "é importante incorporar a carne bovina na dieta do atleta, aliada a alimentos como macarrão, batata e legumes, entre outros".