Quantos brasileiros passam fome? Entenda os critérios para medir a insegurança alimentar
Quando famílias relatam escassez de comida até para crianças, é classificada no nível mais grave da escala. Questionário tem 14 perguntas para medir qualidade e quantidade do acesso a alimentos
O IBGE divulgou nesta quinta-feira a pesquisa sobre segurança alimentar no país, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC). O levantamento classifica os lares de acordo com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia).
Nela, há quatro critérios que definem a situação dos brasileiros em um domicílio: segurança alimentar; insegurança alimentar leve; moderada ou grave. Há ainda outras pesquisas que mensuram o acesso aos alimentos pelas famílias - por isso há divergências entres números. Entenda a seguir os critérios utilizados em cada uma delas:
IBGE
O IBGE utiliza a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). Esta escala foi sistematizada nos anos 2000, a partir de um modelo usado pelo governo americano para medir a segurança alimentar em seu censo demográfico. A sistemática foi adaptada à realidade brasileira.
São realizadas 14 perguntas sobre a situação alimentar do domicílio nos últimos 90 dias que antecederam a entrevista. A insegurança alimentar, por exemplo, só é considerada grava quando falta comida para as crianças em casa.
- Segurança alimentar: A família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.
- Insegurança alimentar leve: Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos.
- Insegurança alimentar moderada: Redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos.
- Insegurança alimentar grave: Redução quantitativa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo as crianças. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.
ONU
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) realiza anualmente o relatório global do Mapa da Fome. A pesquisa utiliza a Escala de Experiência de Insegurança Alimentar (Food Insecurity Experience Scale, FIES), na tradução livre.
Ela é composta por oito perguntas que medem o fenômeno da insegurança alimentar em diferentes países - entre elas, há questões como "Você estava preocupado por não ter comida suficiente para comer?" "Comeu apenas alguns tipos de alimentos?", "Teve que pular uma refeição?" ou "Ficou um dia inteiro sem comer?". A pesquisa mais recente, divulgada em 2023, observou a situação crônica de falta de alimento em 111 países.
- Insegurança alimentar moderada: As pessoas não tinham certeza sobre a capacidade de conseguir comida e, em algum momento, tiveram de reduzir a qualidade e quantidade de alimentos e/ou pular refeições.
- Insegurança alimentar grave: As pessoas ficaram sem comida e passaram fome e chegaram a ficar sem comida por um dia ou mais.
- Prevalência de subalimentação: Leva em conta o consumo médio de caloria, ou seja, a quantidade necessária de calorias para que uma pessoa tenha bem-estar.
Diferente da Ebia, a FAO não tem a categoria insegurança alimentar leve - portanto, seus números não são comparáveis com os da pesquisa do IBGE.