Venezuela inabilita politicamente outros cinco opositores de Maduro
Oposição tem denunciado obstáculos e ataques durante processo para as eleições presidenciais de julho, nas quais o líder venezuelano busca um terceiro mandato
A Controladoria da Venezuela, alinhada ao governo, anunciou nesta quarta-feira que inabilitou politicamente cinco opositores — dois prefeitos em exercício e três ex-deputados. Eles se juntam a uma longa lista que inclui a líder María Corina Machado, inelegível por 15 anos após decisão da Suprema Corte venezuelana.
Esse tipo de sanção tem sido aplicado sistematicamente na era do chavismo e visa líderes com ampla popularidade. María Corina, por exemplo, venceu as primárias da oposição e era a favorita para as eleições de 28 de julho, nas quais o presidente Nicolás Maduro buscará um terceiro mandato.
As sanções de 15 anos foram anunciadas também para os prefeitos Elías Sayegh, de El Hatillo, e José Antonio Fernández López, de Los Salias. Foram desqualificados pelo mesmo período os ex-deputados Tomás Guanipa e Carlos Ocariz, ex-prefeito do município de Sucre (2008-2017).
Já para o ex-parlamentar Juan Carlos Caldeira a sanção valerá por 12 meses. Todos são partidários de Henrique Capriles, duas vezes candidato presidencial e que também foi inabilitado pela Controladoria em 2017. As resoluções mais recentes são datadas de 16 de abril deste ano, conforme documento publicado pela Controladoria em seu site oficial.
Ocariz, Guanipa e Caldera, que com Capriles fazem parte do partido Primeiro Justiça (PJ), rejeitaram as medidas. No X (antigo Twitter), Guanipa escreveu: “Não importa o que façam, nem como façam, nada nos distrai. Ninguém nos tira do caminho eleitoral. Todos às urnas em 28 de julho!”. A principal aliança opositora, a Plataforma da Unidade Democrática (PUD), classificou as desqualificações como “ilegais”.
A oposição vem denunciando obstáculos e ataques em relação ao processo eleitoral de julho, após bloqueios para o registro de candidaturas e a intervenção de partidos como PJ, cujo controle foi entregue judicialmente ao dissidente José Brito, apontado como colaborador do governo. Ele rompeu com a liderança tradicional da oposição em 2020, após ter sido acusado de corrupção. A decisão foi anunciada pelo Tribunal Supremo da Venezuela (TSJ) nesta segunda-feira e rechaçada pela oposição. Capriles, membro do partido, denunciou que “voltaram a usar o TSJ como braço executor de ilegalidades”.
“Forçar uma reestruturação via sentença é mais uma aberração do poder que não só viola direitos políticos, mas também busca confundir os venezuelanos nas próximas eleições e encobrir a rejeição que Maduro tem dentro de seu próprio partido e em todo o país”, escreveu Capriles. “Podem nomear ‘presidências ad hoc’ e cometer mais arbitrariedades, mas com isso não ganham simpatizantes. Pelo contrário, aumentam o desejo de participar e votar. Em ano eleitoral, a única coisa que buscam com essas ações é desmotivar e desmoralizar. Eles não vão conseguir”.
Analistas alertam que essas medidas estão em linha com o chavismo governante e buscam promover fraturas entre os adversários de Maduro. A sentença ocorre dias depois de a PUD anunciar o diplomata Edmundo González Urrutia, de 76 anos, como candidato para enfrentar o líder venezuelano nas eleições presidenciais de 28 de julho, e um dia depois dele ter aceitado sua indicação. No domingo, em sua primeira mensagem pública após o anúncio, González escreveu que aceita a “imensa honra e responsabilidade de ser o candidato de todos aqueles que querem mudanças por meio de eleições”.
À imprensa local, José Brito afirmou que não busca influenciar a candidatura de González Urrutia, se limitando a dizer: “Não tenho nada a ver com isso”. A decisão do TSJ, no entanto, autoriza o PJ a “usar o cartão eleitoral” e os símbolos do partido e ordena ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) “abster-se de aceitar qualquer candidatura para processos eleitorais que não seja acordada” com a nova diretoria. Já segundo o líder Diosdado Cabello, considerado o número dois do chavismo, na oposição há apenas “trapaceiros”. Nesta quarta-feira ele exortou a autoridade eleitoral a revisar as candidaturas dos candidatos opositores para as eleições presidenciais.
Candidato da oposição
A PUD confirmou, na sexta-feira, a candidatura de González Urrutia como representante de María Corina. González foi inscrito como “candidato provisório” da Plataforma Unitária Democrática após Corina Yoris, que substituiria Machado oficialmente, ter tido a candidatura barrada pelo órgão eleitoral. Ele, contudo, posteriormente teve sua inscrição aprovada “de forma unânime” pela PUD, decisão que o secretário-geral da aliança, Omar Barboza, classificou como “histórica”.
A PUD inscreveu González Urrutia como candidato presidencial no último minuto, após denunciar o bloqueio de Yoris. O processo foi feito em uma prorrogação concedida pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de servir ao chavismo. A ideia era que o embaixador fosse substituído por um candidato “unânime”, mas, após um longo dia de reuniões na sexta-feira — realizada horas antes do prazo para substituir candidatos na cédula eleitoral — a decisão de manter o nome de González Urrutia foi tomada.
De acordo com o El país, pesquisas que circulam nas redes sociais já o colocaram em primeiro lugar, com o apoio de Machado, vencendo Maduro e outras opões com ampla margem.