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Artista austríaco 'desconstrói' o 'Mein Kampf', de Hitler, para fazer livro de culinária

Trabalhando nele várias horas por semana, Joska-Sutanto estima que precisará de mais 24 anos para terminar este livro tragicamente conhecido

O artista austríaco Andreas Joska-Sutanto trabalha em seu projeto de transformar o livro "Mein Kampf" de Adolf Hitler em um livro de receitas em Viena, em 25 de abril de 2024. - Alex Halada / AFP

Dentro de uma cafeteria de Viena, Andreas Joska-Sutanto recorta as páginas do "Mein Kampf" letra por letra para "desconstruir" a negatividade da obra de Adolf Hitler e transformá-la em um livro de culinária, em um projeto colossal que pode levar décadas.

O artista austríaco começou seu minucioso trabalho quando os direitos do manifesto político do ditador - que estabeleceu as bases da ideologia nazista a partir de sua publicação, em 1925 - se tornaram públicos há oito anos.

"Estou na página 100", diz à AFP este designer gráfico de 44 anos. Após quase 900 horas de trabalho com um estilete afiado, ele concluiu apenas um quarto deste projeto titânico.

Trabalhando nele várias horas por semana, Joska-Sutanto estima que precisará de mais 24 anos para terminar este livro tragicamente conhecido com quase 800 páginas, contendo cerca de 1,57 milhão de vogais e consoantes.

Depois de extrair as letras em estilo gótico da edição antiga, ele as classifica em uma caixa com pequenos espaços, criada especialmente para esta iniciativa.

O artista então usa os pequenos recortes para seu projeto, um livro que já inclui uma variedade de receitas, como a de uma pizza que seu pai lhe ensinou, uma salada de aspargos ou gnocchis com ovos - uma especialidade tipicamente austríaca que era adorada pelo Führer.

"Quero mostrar [...] que é possível mudar algo negativo para positivo, desconstruir e transformar" uma obra que causou danos irreparáveis, explica.

Anexada pelo Terceiro Reich em 1938, por muito tempo a Áustria se apresentou como uma vítima do nazismo, negando a responsabilidade pelo assassinato de 65.000 judeus austríacos e pelo exílio de outros 130.000. Somente a partir do final da década de 1980 é que o país começou um trabalho de memória histórica.