Rio de Janeiro

Delegada diz que caso de mãe e filha que moram em McDonald's há quase 3 meses "é uma questão social"

Susane e Bruna Muratori atraem olhares de funcionários do estabelecimento, comerciantes e moradores por passarem dia e noite com suas malas na lanchonete. Segundo delegada, prática não configura crime

Imagens de mãe e filha na loja ganharam as redes - Reprodução redes sociais

A delegada Thaianne Barbosa de Moraes Pessoa, da 14ª Delegacia (Leblon), localizada há 400 metros da unidade do McDonald's onde mãe e filha estão vivendo há pelo menos três meses, afirmou que se trata de "uma questão social e não criminosa". A delegada contou que nas últimas semanas recebeu denúncias anônimas sobre o caso, que ganhou repercussão nas redes sociais. De acordo com Thaianne, a permanência delas na lanchonete, apesar de inusitada, não configura crime. A menos que o estabelecimento se sinta lesado.

— A permanência delas no horário aberto para o comércio e consumindo os produtos não configura o crime por si só. Se, futuramente, o McDonald's ou outras pessoas noticiarem outros elementos a esse fato que delimitem ali a ocorrência de um crime, a delegacia estará aberta para formalizar a investigação — afirmou a delegada. 

Susane Paula Muratoni Geremia, de 64 anos, e Bruna Muratori Geremia, de 31 anos, despertaram a curiosidade de muitos nas redes sociais e nos arredores da Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, na Zona Sul do Rio, por passarem dia e noite no fast food com três malas de grande porte e outras menores. 

As duas dizem que dormem em hotéis nas redondezas e que passam apenas as horas no estabelecimento. Tudo teria começado quando elas tiveram que sair de um apartamento alugado, em Copacabana. 

Na tarde de quinta-feira, Bruna Muratoni chegou a registrar um boletim de ocorrência por injúria na delegacia do Leblon contra um suposto funcionário da lanchonete. A polícia ainda apura para identificar se o homem de fato trabalha no local. 

Procurado, o Mc Donald's ainda não se manifestou sobre o assunto. 

— Não podemos criminalizar questões sociais sem elas adentrarem à esfera penal. Só podemos dar início a uma investigação caso a loja notifique — esclarece a delegada.

A Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou que, desde março, após ser acionada por moradores, vem oferecendo abrigo para mãe e filha. Os agentes teriam procurado as duas pelo menos três vezes, que recusaram o acolhimento alegando que "não precisamos de ajuda e não estão passando necessidades". 

Na tarde de quinta-feira, uma multidão de curiosos tomou a calçada da lanchonete, com celulares para fazer imagens das duas. Ao ver tanta gente no lugar, um músico sentou em um banco e começou a tocar violão, pedindo doações.

O grande número de pessoas, no entanto, incomodou Bruna, que chamou a polícia. Do lado de fora, pedestres perguntavam se havia um tiroteio. Uma psicóloga que caminhava com a filha, viu que mãe e filha estavam cercadas de pessoas, e entrou para ajudá-las.

— Elas precisam de todo apoio, principalmente, o psicológico para lidar com tudo isso. Espero que as duas consigam resolver a situação financeira e encontrem um lar — afirmou uma moradora do condomínio em frente à lanchonete.

Após chegar ao local, o policial militar Felix afirmou que conhece as mulheres por sempre fazer ronda no bairro:

— Elas não estão cometendo nenhum crime e não apresentam ameaça. Espero que consigam resolver a situação — afirmou.