ORÇAMENTO

Marinha diz que cortes não comprometem Prosub, mas podem impor renegociação de contratos

A Marinha teve bloqueados 83% dos recursos destinados ao programa

Posse de Marcos Sampaio Olsen como Comandante da Marinha - Defesa Aerea Naval/Divulgação

O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, disse nesta segunda-feira (29), que cortes orçamentários e redução de pessoal ligado ao Prosub, o programa de submarinos da Marinha, não comprometem o projeto, mas podem impor renegociação de contratos, onerando o custo total. Segundo Olsen, as cerca de 200 demissões em abril representam menos de 10% do pessoal envolvido no Prosub.

Conforme revelou o Estadão/Broadcast, um dia depois da visita dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron, da França, às instalações do Prosub, em Itaguaí, por ocasião do lançamento do submarino Tonelero, em março, a Marinha teve bloqueados 83% dos recursos destinados ao programa. Como resultado, a Itaguaí Construções Navais (ICN) demitiu em abril 200 funcionários envolvidos na construção dos veículos.

Olsen minimizou o impacto dos cortes e disse que renegociações de contratos acontecem desde 2008. Ele falou a jornalistas hoje na saída de seminário sobre transição energética na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro.

"Em mais de 15 anos de desenvolvimento do Prosub, é natural que ele demande ajustes. No momento entregamos o terceiro submarino convencional e, no ano que vem, entregaremos o quarto desse tipo", disse.

A expectativa é que o quinto e mais esperado submarino, de propulsão nuclear, seja entregue em 2034 para ser incorporado à frota da Marinha em 2037. Esse processo de incorporação demora cerca de um ano para submarinos tradicionais, mas, no caso de submarinos nucleares, leva em média cinco anos.

"Já temos em fabricação a seção de qualificação e espero assinar ou ter o modelo de negócios para o submarino nuclear até o fim deste ano", disse.

Mão de obra preocupa
Embora julgue o Prosub preservado, Olsen disse que as demissões são uma preocupação porque a Marinha pode não conseguir recontratar essa mesma mão de obra especializada à frente.

"Dentro da construção naval, essa flutuação populacional de empregados é normal. O que me preocupa é perdermos esse pessoal definitivamente", disse.

"Em eventual movimento para recontratar os funcionários ora dispensados, eles podem já ter sido absorvidos pela indústria naval devido a todo o esforço que o governo federal está fazendo nessa frente", continuou. Se isso acontecer, afirmou, será necessário captar pessoal novo e capacitar, o que não impactaria nos prazos de entrega, mas, certamente, no custo.

O comandante da Marinha lembrou que o Prosub gera dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos e compõe um projeto científico tecnológico maior, voltado à aplicação da energia nuclear, que se soma ao domínio do processo de enriquecimento do urânio e produção de reatores nucleares de pequeno porte.

Um submarino nuclear, afirmou, é o que há de mais moderno para as Forças Armadas, com curva de aprendizado tecnológico "muito acima" de blindados ou caças, armas características das outras duas Forças, Exército e Aeronáutica.