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Golfinho morre após contrair gripe aviária "mutante" 18 vezes mais resistente, na Flórida; entenda

Desde o final de 2021, aves de criação e selvagens dos Estados Unidos têm sido vítimas de versões altamente patogênicas do vírus

Golfinhos nadando - Reprodução/Unsplash

Uma pesquisa publicada, em abril, na revista Communications Biology, por cientistas da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, apresentou o caso de um golfinho que morreu ao contrair uma gripe aviária. O caso aconteceu em março 2022.

Os pesquisadores haviam sido notificados sobre um resgatado golfinho no condado de Dixie, na Flórida, que apresentava sinais de sofrimento. Estudos conduzidos pelos pesquisadores no corpo do animal após a sua morte revelaram que ele havia contraído uma cepa letal do vírus influenza A, responsável por causar a gripe aviária.

Após a necropsia do mamífero, da espécie golfinho-roaz, a mais conhecida no mundo, a equipe encontrou o vírus no cérebro, nos pulmões e no tecido que cobria a medula espinhal do animal. O tipo de patógeno encontrado sofreu uma série de mutações que o deixaram dezoito vezes mais resistente aos tratamentos medicamentosos atuais.

Desde o final de 2021, aves de criação e selvagens dos Estados Unidos têm sido vítimas de versões altamente patogênicas do vírus da gripe aviária que, mais recentemente, começaram a se espalhar para vacas e outros mamíferos.

O golfinho, especificamente, foi infectado com a cepa do vírus de influenza A que pertence ao grupo H5N1. A variante foi responsável pela morte de leões-marinhos encontrados no Peru e no Chile, além de focas-porteiras e focas-cinzentas na região da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá.

De acordo com os cientistas, embora não seja exatamente comum que focas e leões-marinhos morram ao contraírem uma gripe aviária, esses episódios não chegam a ser consideradas ocorrências raras. Agora, quanto aos cetáceos (grupo que inclui golfinhos e baleias), é diferente.

 

O relatório também apresentou alguns dados que mostram que vem ocorrendo, recentemente, uma disseminação do influenza A (H5N1) em cetáceos. Foram encontrados resquícios do vírus em golfinhos comuns no Peru, País de Gales e Inglaterra, em dois botos na Suécia e na Inglaterra, e em um golfinho-de-dorsal-branca-do-atlântico no Canadá. O estudo afirma que, como os casos relatados são considerados raros, ainda não está exatamente claro como o golfinho-roaz foi infectado na Flórida.

Testes genéticos determinaram que o vírus que matou o cetáceo não havia sofrido as mutações necessárias para que conseguisse se espalhar e infectar outros mamíferos. No entanto, os pesquisadores descobriram que a cepa H5N1 encontrada no golfinho tinha mudanças genéticas que a tornavam dezoito vezes mais resistente a um dos medicamentos antivirais usados para tratar a gripe aviária.

O relatório da equipe marca a primeira ocorrência conhecida de influenza A em um golfinho-roaz comum, acrescentando ao conjunto de evidências de que o vírus está se espalhando entre os mamíferos e que ele parece infectar golfinhos e baleias de maneira diferente de outros animais, com o vírus afetando mais o cérebro do que seu sistema respiratório, como os pulmões e brônquios.

Ao final do estudo, o grupo de cientistas concluiu que mais pesquisas são necessárias para determinar o quanto o grupo dos cetáceos está suscetível à contaminação de gripe aviária e se o caso do golfinho é mais isolado. É possível, concluíram, que alguns casos tenham sido perdidos por causa da forma única como a infecção se manifesta nesses animais:

"Como anteriormente se pensava que os cetáceos tinham baixa suscetibilidade a infecções virais da influenza, este estudo enfatiza a importância de testar rotineiramente para vírus da gripe aviária altamente patogênicos em todos os mamíferos e obter amostras adequadas, incluindo o cérebro, durante exames post-mortem", diz a pesquisa.