Chegada de Madonna contagia Copacabana do céu aos calçadões e ruas do bairro; entenda
Estrutura de 812 metros quadrados, com 18 metros de altura e três passarelas de cerca de 20 metros, será a maior da turnê "The Celebration Tour"
Um avião que sobrevoou ontem o mar de Copacabana anunciava a boa-nova, em inglês: “The queen is in the Palace”. Em bom português, “A rainha está no Palácio”. No bairro da Zona Sul, a notícia sobre a chegada de Madonna ao Rio paira pelos ares, enquanto, em terra, súditos se aglomeram por todos os cantos, do Galeão até a calçada em frente ao Hotel Copacabana Palace, onde a rainha do pop está hospedada na suíte presidencial. Estão à espera de um aceno ou apenas aproveitando a chance de ficar perto do ídolo.
— Eu consegui ver um pouco do cabelo e do boné. Já foi inesquecível! — contou a historiadora Renata Dionísio, de 44 anos.
A empolgação de Renata contagiou João Antônio Domingues e Sergio Pessanha: o casal saiu de Jardim América, na Zona Norte, para acompanhar a amiga pelas ruas do bairro da Zona Sul onde a diva pop vai se apresentar. O trio não perdeu a viagem. No clima do show, que acontece sábado, “tietou” até o palco, cujo telão já estava em testes de luz e imagem.
— Eu quis ver de perto o palco e já planejar onde vou ficar. Pretendo chegar na sexta-feira à noite para marcar lugar — conta João, ansioso para assistir à diva pop entoando hits como “Like a prayer”.
Investimento de milhões
A estrutura de 812 metros quadrados, com 18 metros de altura e três passarelas de cerca de 20 metros, será a maior da turnê “The Celebration Tour”, que comemora os 40 anos de carreira da artista. O investimento do poder público também terá cifras de grandes proporções. Ontem, semanas depois de a prefeitura ter anunciado aporte de R$ 10 milhões no evento, Cláudio Castro disse que o estado entrará com patrocínio de valor igual ao oferecido pelo município. Em entrevista à Rádio CBN, o governador do Rio justificou a decisão financeira e explicou a demora no anúncio:
— Os patrocínios do estado e da prefeitura foram negociados juntos. Eram R$ 20 milhões. Um deu R$ 10 (milhões) e o outro deu R$ 10 (milhões). Não teve o estado chegando no final (...), acabou só sendo divulgado no final, agora. Mas é um evento do estado e do município juntos. Isso é igual à lógica da pessoa pobre, que é endividada, que faz tudo para pagar uma boa faculdade para seu filho, para ele poder crescer e não passar dificuldade. Ou a gente investe, coloca o Rio em cenário internacional e volta a crescer no nosso turismo, no setor de serviços, ou o Rio de Janeiro nunca vai sair da situação difícil. Só se fala neste show no mundo inteiro. Considero um acerto, entendo o ganho para a cidade. A perspectiva para retorno é de R$ 300 milhões. Ganha o turismo, ganha a cultura, e o Rio se coloca num cenário de grandes espetáculos.
Chegada discreta
Madonna entrou no Copacabana Palace de casaco, boné e óculos escuros, sem falar com a imprensa ou com os fãs que a esperavam. Depois do meio-dia, a cantora apareceu numa das janelas e foi fotografada por paparazzi. Em outro momento, a filha, Mercy James, de 18 anos, foi flagrada na sacada. Além dela, três herdeiros, as gêmeas Estere e Stella, de 11 anos, e David Banda, de 18 anos, costumam acompanhar a mãe e participar do show.
A comitiva da cantora tem 200 pessoas, e muitas ficarão hospedadas em 90 quartos do luxuoso hotel.
No meio da multidão que a esperava, alguns fãs decidiram se vestir a caráter. A funcionária pública aposentada Rosemary de Oliveira Bohrer, de 69 anos, usava uma imitação do icônico sutiã em formato de cone, eternizado pela estrela na turnê “Blonde ambition”, na década de 1990.
— Estou a mil. Nem dormi. Cheguei cedo, mas não consegui vê-la. O carro passou direto. Mas deu pra sentir a energia.
Em outras ruas do bairro, camelôs renovavam o estoque de produtos inspirados em Madonna. Mas, para a maioria, o movimento ainda está tímido.
— Eu comprei dez bolsas da Madonna e ainda não houve saída. Espero que o interesse aumente — disse o camelô Antônio Gomes, de 70 anos.
Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma loja chamava atenção pela vitrine com letreiro e objetos brilhantes inspirados em Madonna. No interior do estabelecimento, o repertório da cantora ecoava. Embora a maioria dos itens à venda tenha pontos turísticos do Rio como tema, os comerciantes usaram o evento para atrair mais clientes.
— Um evento diferenciado assim atrai turistas de fora. Usamos a vitrine com o tema Madonna para chamar atenção, mas de produtos só vamos ter uma bolsa da cantora para vender — diz Jean Pierre Burle, vendedor de 35 anos, que acrescenta: — Acreditamos que da próxima sexta até a outra quarta-feira haverá mais vendas. Madonna pode salvar a baixa temporada.
Um megaevento
A expectativa é que o show reúna 1,5 milhão de pessoas. O governo anunciou que um efetivo de 3.200 policiais militares fará o patrulhamento e que, no entorno, o trânsito terá interdições. O pacote de mudanças inclui ainda pontos de revista e bloqueio, emprego de câmeras com capacidade de reconhecimento facial, detectores de metal e drones.
A previsão é que a Madonna suba no palco montado em frente ao Hotel Copacabana Palace às 21h45 de sábado para um espetáculo com duas horas de duração. Bem antes disso, na quinta-feira, já começam as alterações na rotina do bairro e adjacências, com a proibição de estacionamento em várias ruas. Ao todo, 3 mil vagas serão suprimidas. Às 18h de sábado, serão montados 28 pontos de bloqueio nos acessos a Copacabana. Apenas ônibus de linhas municipais e táxis poderão atravessar as barreiras montadas.